ELIZABETH OBANDO MURCIA, Colômbia
Elizabeth era a caçula dos três irmãos Obando Murcia. Ganhava a vida vendendo artigos de lã e agasalhos em Roncesvalles, povoado do departamento colombiano de Tolima, cuja capital é Ibagué, no centro do país. Era muito generosa e mais de uma vez hospedou em sua casa os párocos designados ao local, assim que chegavam. Era de sua bolsa que saía muitas vezes o dinheiro para pagar os professores quando os recursos não eram enviados a tempo, para garantir que a sua comunidade não sofresse interrupções na educação.
O povo de Roncesvalles vive do cultivo do café, algodão, arroz e sorgo. Há também criação de gado de pequeno porte e um pequeno setor têxtil. O El Nuevo Día é ojornal regional e se mantém desde 1992, apesar de a sua Redação ter recebido várias ameaças por escrito e por telefone, feitas por grupos guerrilheiros, paramilitares, criminosos comuns e setores corruptos. Alguns jornalistas abandonaram o local e outros abandonaram o país.
Em Roncesvalles o jornal era distribuído e vendido por Elizabeth Obando, que complementava com esse modesto trabalho a renda do pequeno negócio que tinha. Tudo parecia bem, até que o chefe da guerrilha das FARC na região, conhecido como Donald, cruzou com ela em praça pública e reclamou da publicação de vários artigos que denunciavam os abusos das FARC a habitantes dos municípios da região, cujos bens e terras confiscavam, chegando às vezes a recrutar seus filhos menores para treiná-los para a guerrilha. Elizabeth ficou surpresa, já que não tinha nenhuma relação com o conteúdo editorial do jornal que apenas distribuía, mas Donald a proibiu de vender o jornal naquela área e a ameaçou de morte se não cumprisse sua ordem.
A ameaça foi comunicada por escrito em 3 de março de 2002 ao supervisor das agências do jornal, e Elizabeth também comentou que “não lhe telefonei antes porque esse não é assunto para se conversar pelo telefone”. Considerando-se o risco da situação, suspendeu-se a distribuição do El Nuevo Día no povoado. Mas as medidas comerciais e de autocensura não seriam suficientes. Quatro meses depois, quando Elizabeth voltava para Roncesvalles, vindo de Ibagué, o ônibus em que estava foi interceptado por insurgentes armados que a obrigaram a descer e a fuzilaram ali mesmo, deixando-a agonizante na estrada. Permitiram depois que fosse levada ao hospital mais próximo, onde ela faleceu dois dias depois.
O jornal nunca deixou de publicar suas denúncias como forma de homenagear a mulher que todos reconheciam pelo seu trabalho e pela ajuda aos demais. Mas o crime continua sem punição. A investigação para descobrir os autores não trouxe nenhum resultado. Emitiu-se mandado de prisão contra Gustavo Bocanegra, conhecido como Donald, como suposto responsável intelectual. Mas isso foi tudo. A justiça não apresenta avanços. Nenhum suspeito foi detido.
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