JAIME GARZÓN, Colômbia
Como jornalista, exerceu o humor político, apresentando na rádio e na TV seu programa “Zoosociedade” no qual apresentava notícias da Colômbia com seu estilo irreverente, crítico, sarcástico, utilizando personagens criados por ele e que se tornaram populares em todo o país. Criou o Godofredo Cínico, um intolerável bogotano de direita que conhecia as leis sem ser advogado; o engraxate Heriberto de la Calle, que era uma espécie de consciência nacional; Dioselina, a imprudente cozinheira do Palácio Presidencial, e um porteiro de edifício, Néstor Elí, porta-voz do governo e dos inimigos do processo político.
JAIME GARZÓN vivia para o jornalismo e para contribuir para o seu país. Tinha também fortes vínculos com importantes setores do governo e chefes militares, e mantinha uma certa relação com as FARC e algum contato com o ELN. Foi assim que conseguiu a libertação de alguns reféns estrangeiros e colombianos sequestrados pelos guerrilheiros.
Era um idealista e sempre quis encontrar a fórmula para acabar com o eterno conflito dos colombianos e desenredar o complexo processo de paz. Eram essas suas áreas de atuação. Quando jovem, vestiu a camisa dos insurgentes durante alguns meses, mas não participou de ações militares e logo se desencantou, preferindo retomar a vida civil normal e terminar os cursos de Direito e Ciências Políticas.
Consolava familiares de pessoas sequestradas, mas era também acusado de obter ganhos financeiros com as libertações, o que fez com que os setores de direita o chamassem de “o embaixador da guerrilha” e que os paramilitares das Auto Defesas Unidas da Colômbia, AUC, o declarassem como alvo militar. Alguns editoriais afirmavam que negociar as libertações era uma forma de promover os sequestros. O Exército não o via com bons olhos.
Na madrugada de 13 de agosto de 1999, Garzón dirigia seu Jeep, indo para a estação Radionet para apresentar seu programa quando dois pistoleiros em uma moto sem placa dispararam contra ele e o mataram.
Quem assassinou o jornalista-humorista? Uma hipótese apontava para Carlos Castaño, líder das AUC. Outra responsabilizava os militares, havendo inclusive várias versões e confissões a respeito. E uma terceira dizia que as FARC poderiam estar por trás do crime.
Depois de alguns anos investigando o caso, a Procuradoria-Geral pediu o fim das investigações e que Castaño fosse acusado como mandante do crime e o pistoleiro Juan Pablo “Bochas” Ortiz como o assassino. Mas organizações do governo advertiram que se estava cometendo um erro de impunidade ao não se investigar completamente a suposta participação dos militares, omissão que foi comprovada pela investigação realizada pela SIP. O mesmo pensaram os familiares de Jaime Garzón, que moveram ação civil contra o Estado colombiano por não terem fornecido proteção para o jornalista na sua condição de mediador autorizado das libertações e pela eventual participação da polícia no crime.
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