IRMA FLAQUER, Guatemala.
Era psicóloga e jornalista. Pensou em se tornar advogada quando era jovem, mas abandonou o curso de direito para se dedicar totalmente ao jornalismo. Durante mais de 22 anos ocupou diversos cargos em variados jornais e estações de rádio da Guatemala. Irma Flaquer Azurdia foi homenageada como “Filha Predileta” da cidade de Granado em 1975. Quatro anos depois fundou e presidiu no país a primeira Comissão de Direitos Humanos. Transformou-se em ativista apaixonada do Partido Revolucionário.
Seus textos críticos a traíam em um ambiente político agitado, em que havia violações de grupos paramilitares, da força pública e da guerrilha, execuções arbitrárias e desaparecimentos forçados. Nessa mesma época (1979), Irma sofreu um atentado, do qual escapou milagrosamente. O incidente resultou em um livro, A las 12:15, el Sol, cujo prólogo era dedicado ao “Meu querido assassino”.
No ano seguinte, porém, ela não conseguiu se defender. Em 16 de outubro, um grupo de homens armados em dois veículos interceptaram o carro em que ela estava, dirigido por seu filho Fernando. Caía a tarde na Cidade de Guatemala. Os tiros mataram o jovem de 24 anos. Flaquer, com o rosto coberto por um capuz, foi empurrada para dentro de uma caminhonete que partiu em seguida. No tumulto da violência, um homem que presenciou a cena foi executado pelos bandidos que o seguiram por dois quarteirões.
Nunca mais se teve qualquer notícia sobre Irma Flaquer. Supõe-se que tenha sido assassinada em represália aos artigos que escrevia contra a corrupção de funcionários do governo do general Romero Lucas, dos militares da época e contra a opressão dos indígenas e as violações de direitos humanos.
Não houve nenhum esforço por parte das autoridades em esclarecer o caso, sob alegação de que não havia denúncia formal. A família de Flaquer foi ameaçada e obrigada a esquecer o caso e abandonar o país. Mas seu ex-marido, Fernando Valle, de quem Flaquer havia se divorciado em 1958 depois de apenas três anos de casamento, exigiu que o Congresso esclarecesse os dois crimes, citando três possíveis hipóteses, investigadas pouco antes pela SIP e divulgadas na Conferência Hemisférica “Crimes sem punição contra jornalistas”: a responsabilidade da guerrilha, a do ministro do Interior da época, Donaldo Alvarez, e a do Exército.
A exaustiva investigação da SIP na Guatemala descartou as duas primeiras hipóteses, concluindo que “o Estado Maior, talvez junto com o chefe da Polícia Nacional, haviam decidido sequestrar a jornalista Flaquer”. O trabalho teve o apoio da Comissão Guatemalteca para o Esclarecimento Histórico (CEH). Com base na investigação, a SIP fez uma apresentação perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em março de 1997, insistindo na responsabilidade do Estado. A CEH chegou à conclusão de que as autoridades responsáveis do Estado da Guatemala haviam falhado gravemente no seu dever de investigar e estabelecer sanções naquele caso, violando o direito à justiça. Em 2000, o governo reconheceu sua responsabilidade neste desaparecimento e concedeu uma reparação moral e uma indenização financeira à família de Irma Flaquer. Porém, o caso continua sem punição.
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