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Brasil
14 de fevereiro de 2012
Em menos de uma semana, dois jornalistas foram assassinados no Brasil
Clarinha Glock, URR-Brasil


Paulo Roberto Cardoso Rodrigues (enterategente.com)

Mário Randolfo Marques Lopes (Diário do Vale)
Três comunicadores assassinados em dois meses. Dois deles em menos de uma semana. Depois da morte do radialista Laécio de Souza, 40 anos, repórter e pré-candidato a vereador pelo partido PSL, assassinado com três tiros em 3 de janeiro de 2012 em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (Bahia), houve dois outros crimes: no dia 9 de fevereiro de 2012, Mário Randolfo Marques Lopes, editor do Vassouras na Net, e sua namorada, Maria Aparecida Guimarães, foram mortos a tiros em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. E, no dia 12 de fevereiro de 2012, Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, o Paulo Rocaro, editor-chefe do Jornal da Praça e do site Mercosulnews, foi alvejado com pelo menos cinco tiros em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.


CASO PAULO ROBERTO CARDOSO RODRIGUES (PAULO ROCARO)

Ponta Porã, Mato Grosso do Sul - O jornalista e escritor Paulo Roberto Rodrigues Cardoso, conhecido como Paulo Rocaro, 51 anos, ainda teve tempo de falar com a mulher após de ter sido baleado com cinco tiros por volta das 23h30min do domingo, 12 de fevereiro de 2012 em Ponta Porã. A cidade fica na fronteira do Brasil com o Paraguai, distante cerca de 346 quilômetros de Campo Grande, capital do Estado do Mato Grosso do Sul. Rocaro havia saído de uma reunião com políticos e conduzia seu carro pela Avenida Brasil quando dois homens em uma motociclista dispararam contra ele. Sua mulher, que seguia no carro da frente, estranhou não ver o veículo do marido no retrovisor e ligou para o celular. Na segunda chamada, Rocaro atendeu e disse que havia sido atingido. Parou o carro próximo a um hotel, no centro da cidade, e foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros, que o levou ao hospital, mas morreu na madrugada do dia 13. Há suspeitas de que se trata de um crime com motivação política, já que nos últimos tempos Rocaro publicava artigos contra a administração municipal e assessorava o candidato opositor que iniciou campanha para as eleições de 2012. "Não foi descartada também a hipótese de vingança por causa do trabalho que exercia, denunciando crimes do tráfico", disse Odorico Ribeiro de Mendonça e Mesquita, delegado adjunto da 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Ponta de Porã, que está investigando o caso.

Rocaro era o editor-chefe do Jornal da Praça, em Ponta Porã, e diretor do site Mercosulnews (mercosulnews.com). Trabalhou na região durante os últimos 31 anos, mas não ficou todo esse tempo em jornal. Segundo Giovani Cezar dos Santos, atual presidente do Clube de Imprensa de Ponta Porã, Rocaro foi assessor de imprensa de 2000 a 2004, período em que o Partido dos Trabalhadores (PT) administrava o município. Depois, trabalhou na assessoria da Câmara Municipal e fez um intervalo para escrever livros. Publicou três obras: A Tempestade (sobre crimes e execuções na fronteira), Respeito e Gratidão aos Pioneiros do Sindicalismo Rural, e Sítios Arqueológicos da Ocupação da América do Sul. Era membro da Academia Pontaporense de Letras e foi um dos fundadores e presidente do Clube de Imprensa de Ponta Porã, organização que reúne jornalistas e radialistas. Filiado ao PT, nos últimos meses, segundo informaram seus amigos, estava praticamente coordenando a campanha de Vagner Piantoni, candidato do partido para as eleições de outubro deste ano.

Santos descreveu Rocaro como um jornalista tranquilo e muito crítico, "uma espécie de voz do povo", especialmente nos textos publicados sob o título de Gaivota Pantaneira (http://www.mercosulnews.com/canais/gaivota/). "Uma das condições que impôs ao retornar ao Jornal da Praça (que já teve a participação, no controle acionário, de Fahd Jamil Georges, dono de fazendas e cassinos condenado por crimes na fronteira) foi a de que manteria sua liberdade editorial. Ele nunca se curvou aos poderosos", observou Santos. Colegas lembraram que era um ótimo contador de histórias e um profissional modelo. "Era um dos papas do Jornalismo, todo mundo se aconselhava com Rocaro", falou à SIP Luis Henrique Correa, diretor de jornalismo da Rádio Difusora Band AM em Aquidauana e integrante do Clube de Imprensa da Região Sudoeste do Mato Grosso do Sul. "Ele acreditava que não iriam matar alguém que falava a verdade", lembrou. Segundo Correa, embora Rocaro tenha publicado artigos denunciando o tráfico de drogas e o contrabando na fronteira, era respeitado pelos integrantes do crime organizado porque só escrevia se tivesse documentação e fatos comprovando. "Por isso se acredita que seja um crime político", observou.

"Nunca comentou sobre ameaças", informou Santos, apesar dos riscos de exercer o jornalismo na região onde mais de um comunicador foi assassinado e as ameaças são frequentes. Em janeiro de 2012, o jornalista Candido Figueiredo Ruiz, correspondente do jornal ABC Color em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia separada por uma rua da brasileira Ponta Porã, foi avisado por agentes do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Mato Grosso do Sul de que haviam interceptado uma ligação telefônica de um narcotraficante paraguaio para um detento brasileiro. Os dois planejavam matar Ruiz. O jornalista, que vive com seguranças porque já sofreu mais de um atentado, aumentou os cuidados. Entre outras reportagens, recentemente havia publicado reportagens denunciando o tráfico de drogas em pistas clandestinas do Brasil para o Paraguai.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Grande Dourados, Karine Segatto, emitiu um comunicado lamentando a morte de Rocaro e reproduziu a resposta dele ao jornalista Helton Costa sobre as dificuldades de trabalhar na região:

"A segurança de um jornalista na fronteira Brasil-Paraguai está numa linha muito fina e frágil do trinômio razão-verdade-responsabilidade. Escrevendo sob este prisma, está seguro. Se deixar escapar algum destes requisitos, aí ninguém pode garantir segurança”.

Segatto recordou ainda o depoimento de Rocaro para a tese de doutorado do professor Marcelo Vicente Cancio Soares intitulada “Território televisivo: Estudo da Televisão e do Telejornalismo na Fronteira do Brasil com o Paraguai”:

“A gente tem na região de fronteira muitos líderes, seja no submundo do crime, seja no setor empresarial, na política, cuja mentalidade ainda é do interior é do coronelismo, do emprego da força física, da coação moral, das perseguições políticas e os profissionais de imprensa estão sujeitos a tudo isso. Uma matéria que não é do agrado de um político, de um narcotraficante ou de um pistoleiro fatalmente o profissional de imprensa vai responder por aquilo. [...] Enquanto nos grandes centros você publica uma matéria e a pessoa afetada procura a justiça, move ações, aciona a empresa ou o profissional, aqui não tem isso. Aqui o camarada ofendido pergunta quem fez esta matéria? Aí vai direto ao jornalista, seja para ameaçar, seja para pedir um reparo ou direito de resposta. A parte ofendida vai direto por causa da proximidade”.

A impunidade torna a fronteira Brasil-Paraguai ainda mais perigosa. O caso mais emblemático ocorreu em 26 de abril de 1991: Santiago Leguizamón Zaván, proprietário da rádio Mburucuyá, de Pedro Juan Caballero, correspondente do jornal Noticias, de Assunção, e editor da Mburucuyá Revista, foi assassinado em uma emboscada na avenida que separa Pedro Juan Caballero e Ponta Porã. Um mês antes, havia escrito artigos sobre o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, contrabando de soja, roubo de veículos e corrupção em geral. A polícia chegou ao nome dos envolvidos, mas nenhum foi condenado.

CASO MÁRIO RANDOLFO MARQUES LOPES

Barra do Piraí, Rio de Janeiro - O jornalista Mário Randolfo Marques Lopes, 50 anos, editor do site Vassouras na Net, sobreviveu a pelo menos duas tentativas de assassinato quando vivia em Vassouras, no Rio de Janeiro. Os fatos foram descritos em seu blog. Ninguém foi preso ou indiciado pelos crimes. Diante da impunidade e da violência dos atentados - no último, levou três tiros em 6 de julho de 2011 e passou dias em coma -, Lopes mudou-se para Barra do Piraí, cidade vizinha com cerca de 95 mil habitantes na região sul fluminense, a uns 79 quilômetros da capital, Rio de Janeiro. Mas seguiu com o blog, onde continuou denunciando juízes, policiais e promotores. Até que, em 9 de fevereiro de 2012, o calaram. A polícia calcula que Lopes e a namorada, Maria Aparecida Guimarães, tenham sido tirados de casa na noite anterior. Seus corpos foram encontrados de madrugada, com pelo menos um tiro na cabeça cada um, numa estrada de terra deserta, vicinal da BR 393, em Barra do Piraí. O crime está sendo investigado na 88ª DP.

Alto, magro, simples, sem luxos, sempre com uma mochila, e muito corajoso. Era como o descrevia o amigo e radialista Wilians Renato dos Santos, apresentador do programa Repórter Policial Gato Preto transmitido de segunda a sexta-feira, das 12h às 15h pela rádio RBP AM, de Barra do Piraí. Ele esteve com Lopes na terça-feira anterior ao crime, dia 7. Como costumavam fazer, foram até uma padaria tomar café após encerrado o programa. Foi quando Lopes comentou que havia acontecido algo estranho poucos dias antes, no mesmo lugar: sentiu-se observado por dois homens e saiu da padaria, temeroso. "Lopes sabia que não estava agradando a alguém", avaliou Santos. Lopes também disse que pretendia voltar a Vassouras, no que foi desaconselhado pelo amigo. Mas ele voltou, e Santos acredita que isso pode ter atraído os assassinos até o Lopes.

"Vassouras era comandada pelo coronelismo. Os tempos mudaram, mas as pessoas ainda têm aquele ranço", criticou Santos. O próprio Lopes lamentou, durante o programa do Gato Preto, que ninguém havia sido preso pelos atentados. E comentou que achava estranho que todos os delegados da região fossem remanejados de tempos em tempos, menos o da 95ª Delegacia de Polícia encarregado de investigar o atentado de julho - e que era motivo de uma de suas denúncias. Segundo Santos, o jornalista achou uma ponta de projétil logo após um dos atentados, e o levou ao cartório da delegacia para constar nas investigações, mas não quiseram receber o material.

Polêmico, o jornalista respondia a processos por calúnia e difamação na Justiça e ele próprio contou em seu site, em um texto intitulado "Profissão Perigo" (http://vassourasnanet.zip.net/arch2005-12-04_2005-12-10.html), como tinha sido acusado de forjar uma reportagem sobre adoção de crianças no Paraná em que estariam envolvidos juízes, promotores e advogados. Disse que provaria que nunca inventou nada.

O delegado José Mário Salomão de Omena, encarregado das investigações pela 88ª DP, disse que solicitou à delegacia de Vassouras uma cópia dos depoimentos relativos à apuração do atentado sofrido por Lopes em 2011 para ver até onde avançaram. "Tudo indica que ele foi morto devido a motivos profissionais", afirmou.

Lopes falou à SIP sobre o atentado de julho de 2011

No dia 15 de julho de 2011, Lopes falou por telefone com a repórter da SIP sobre o atentado ocorrido uma semana antes. Na ocasião, disse que sabia quem eram os responsáveis. Não demonstrou medo, e sim revolta pela impunidade. Confira a matéria resultante desta conversa e publicada pela SIP na época:

Vassouras, Rio de Janeiro – O jornalista Mario Randolfo Marques Lopes, 50 anos, não tem dúvidas de que foi vítima de um atentado no dia 6 de julho de 2011. Lopes foi atingido por quatro tiros por volta das 13h, quando estava dentro da casa onde funciona a redação do seu jornal digital vassourasnanet.net. Os policiais da 95ª Delegacia de Polícia (DP) disseram à imprensa que poderia se tratar de latrocínio (roubo seguido de morte). Mas como nada foi roubado, não descartaram ter sido um atentado como represália às denúncias que o jornalista vinha fazendo em seu jornal na Internet.
Desde 2004 Lopes noticia em seu jornal digital irregularidades na administração municipal, na Justiça e na Polícia de Vassouras, cidade a cerca de 111 km da capital do Rio de Janeiro. Um dos links de seu site leva ao projeto Boca Maldita, criado com o objetivo de “formatar uma rede de informação e fiscalização da administração e do patrimônio público de Vassouras”. Ele explica que se trata de “um sistema de comunicação no qual cada usuário posicionado em local estratégico no município se transformasse em jornalista e trocasse informações importantes para a comunidade, além de abrir um canal confidencial para denúncias de crimes de corrupção, assassinatos e informações sigilosas”.
Por sorte, Lopes escapou com vida dos tiros. E no dia 15 de julho de 2011, por telefone, enquanto aguardava atendimento no hospital da cidade, teve a oportunidade de contar sua versão da agressão:

“Foi um atentado. Foi tudo armado, premeditado. Com certeza, teve envolvimento político. Já sei quem franqueou a entrada (do atirador). Não tinha como entrar na redação, a menos que ele conhecesse a casa. E eu fui surpreendido preparando um café, como fazia sempre neste horário. Não identifico oficialmente ainda quem foi que mandou, porque há questões legais envolvidas, e porque tenho problemas com a 95ª DP. Eu vinha denunciando a venda de inquéritos, a corrupção e a atuação de milícias na região.
Eram mais ou menos 13h05 no dia do atentado. A secretária chegou muito nervosa. A porta de entrada vem de uma varanda, tem dois portões antes, é preciso descer um corredor, dar uma volta enorme para chegar à redação. Eu prendi o cachorro para ela entrar. A câmera que geralmente registra tudo não estava filmando. Quando eu vi, um cara estava apontando a arma para mim. Ele disse:
- Calma, só quero os computadores. Não façam besteira, não quero cometer violência.
A secretária levantou, pegou a bolsa e entrou em um quarto. Eu poderia ter escapado, mas pensei: se eu tentar escapar, ele pode matar a garota. Aí ele voltou e disse:
- Deita no chão, por favor (ainda falou por favor!).
Quando comecei a deitar, ele bateu com os pés, forte, nas minhas costas. E falou:
- Vamos ver se consegue escrever sem jugular.
E mandou bala. Foram quatro tiros com um revólver 38 cano curto - dois no rosto, um embaixo do braço, um na mão e um próximo da medula.
Ele estava com uma jaqueta. Entrou e saiu normalmente. Mesmo um profissional não sairia tão tranquilo. Conferiu, achou que eu estava morto, foi embora. Eu estava deitado debaixo da pia e meu sangue jorrou para a pia.
De repente, levantei e comecei a gritar pela garota, que estava no quarto. Chamei a garota umas 20 vezes. Quando vi que ela não atendeu, eu pensei: vou documentar. Peguei a filmadora. Saí dali deixando pegadas com a bota cheia de sangue. Só que eu tinha retirado a bateria da filmadora e não conseguia encaixar. Em frente da casa há uma Policlínica. Eu gritei:
- Gente, me ajuda, fui baleado!
Ficou todo mundo desesperado. Só acordei três dias depois, no Centro de Tratamento Intensivo, com uma mulher de branco me olhando. Abri o olho, ela deu um pulo. Perguntei:
- Quem é você? Como consegue me enxergar? Tô morto!
Ela pegou um espelho e me mostrou:
- Você se lembra do que você morreu?
- Dos tiros (eu disse).
- Não sei quantos anjos da guarda você tem, mas você ressuscitou.
E aí fui saber que estava vivo.
A secretária foi o álibi certo (dos agressores). Ela trabalhava comigo há três meses. Fizeram tudo pensando que eu ia morrer, porque ela contou à polícia a história de que anunciaram um assalto. Não levaram nada. Só estava eu e ela.
A preocupação deles era que eu não reagisse, porque a rua é movimentada, (o atirador) tinha que estar preparado para uma fuga. Não reagi para não colocá-la em perigo.
Acho que a polícia não vai reconhecer ninguém como suspeito. Eles foram os primeiros a falar que foi um assalto. Na noite anterior ao atentado, eu tinha ido a um show e estive com a pessoa que acredito que é o mandante. Eu falei que ia denunciar o que estava acontecendo.
Acredito que o atentado foi uma decisão tomada às pressas, senão poderiam ter me pegado depois do show, porque voltei sozinho. Há anos recebo ameaças, mas entre receber ameaças e executarem, há uma diferença. Hoje ando com escolta”.








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