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Luiz Otávio Monteiro
24 de dezembro de 2008

Caso: Luiz Otávio Monteiro



Assassinos continuam impunes 20 anos depois:

24 de dezembro de 2008
Por Clarinha Glock

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Cartas a la Autoridad

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Manaus, Amazonas – No dia 29 de dezembro de 1988, o corpo do repórter policial Luiz Otávio Monteiro, do jornal Amazonas em Tempo, foi encontrado em um barranco junto à rodovia BR 319, em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Monteiro havia sido assassinado com quatro tiros de revólver calibre 38 que o atingiram na nuca e na parte posterior da cabeça.

Manaus, Amazonas – No dia 29 de dezembro de 1988, o corpo do repórter policial Luiz Otávio Monteiro, do jornal Amazonas em Tempo, foi encontrado em um barranco junto à rodovia BR 319, em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Monteiro havia sido assassinado com quatro tiros de revólver calibre 38 que o atingiram na nuca e na parte posterior da cabeça.

Há mais de uma hipótese sobre os motivos do crime. Monteiro tinha informações privilegiadas de fontes da polícia. Nos dias que antecederam sua morte, amigos o viram com uma pasta que desapareceu após o assassinato. Informações colhidas pela SIP indicam que o jornalista sabia do envolvimento de policiais e empresários da região em crimes de roubo e contrabando, ou com um esquadrão da morte. E que talvez estivesse chantageando alguém para não divulgar suas denúncias.

Uma outra suspeita é revelada por amigos de Monteiro agora, 20 anos depois: ele estaria coletando dados sobre irregularidades na administração do então governador Amazonino Mendes. “É uma mera especulação e mais ainda, descabida”, contesta Mendes, em entrevista por e-mail a SIP. “Em nenhum momento, quer seja quando da fase do inquérito policial, bem como no processo judicial, não há nenhuma insinuação a meu respeito. Pelo contrário, desde o primeiro momento dos fatos exigi uma profunda investigação do crime fatos e não economizamos esforços neste sentido”, acrescenta.

As investigações na época do crime só avançaram graças à pressão da imprensa e ao trabalho de uma equipe de fora da esfera estadual especialmente designada para chegar aos culpados. Em janeiro de 1989, o promotor Sérgio Lauria Ferreira ofereceu denúncia contra os policiais civis Evandro Alves de Almeida e Marlo Ricardo Souza dos Santos. Em 1994 o juiz pronunciou os acusados para irem a julgamento. Ambos negaram sua participação. Em maio de 2007, Santos foi julgado e condenado a 16 anos de reclusão pelo assassinato. Apelou da sentença, que foi mantida. Almeida está foragido. O mandante sequer foi apontado no inquérito.

O procurador de Justiça Carlos Antonio Ferreira Coelho acredita que a fuga de Almeida contribuiu para não se chegar ao autor intelectual do assassinato. Indicado a participar das investigações a partir de um pedido feito pelo Sindicato dos Jornalistas, Coelho se empenhou em desvendar o caso, mas foi afastado quando estava muito perto do desfecho. Por ordem da chefia, teve de “tirar férias” na fase final do processo. “Entrei em férias contra a minha vontade”, ressalta. Ele conta: “Recebi um comunicado do Procurador Geral. Eu disse que não gostaria de me afastar do caso, mas a explicação do Procurador Geral era de que tinha feito uma organização e que se eu furasse a escala de férias ele teria problemas administrativos com a coordenação”. Durante as investigações, Coelho recebeu telefonemas anônimos com ameaças, porém não se intimidou.

O procurador de Justiça está seguro de que Almeida não fugiu – lhe deram fuga por conveniência. “É uma estratégia para que os crimes graves que possam levar a pessoas importantes caiam no esquecimento”, reitera. Quando o advogado do preso pediu que fosse conduzido para tratamento domiciliar, o Ministério Público deu parecer contrário. Mas depois foi liberada a autorização. “Almeida era o elemento essencial para esclarecimentos. Tinha uma lealdade incrível com os chefes”, acredita Coelho.

Não fosse a presença do procurador de Justiça, certamente algumas provas importantes do processo poderiam ter se perdido nos momentos iniciais da investigação. Quando chegou ao local do crime – um barranco junto à estrada que vai para o Distrito Industrial –, o corpo já havia sido retirado sem que os peritos tivessem feito um levantamento minucioso. Coelho desceu então até o lugar onde o cadáver havia sido jogado, a cerca de 10 metros de profundidade, e encontrou um jornal com evidentes manchas de sangue e um rolo de filme fotográfico que, ao ser revelado, mostrava fotos de Monteiro em festas com a família.

O procurador de Justiça pediu o auxílio dos peritos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp, de São Paulo). Entre eles, Nelson Massini, legista que em 1986 foi o responsável pela confirmação de que o corpo encontrado em Embu, São Paulo, era do nazista Josef Mengele. Em 1988, o legista ajudou a esclarecer outro caso importante, o do assassinato do ambientalista Chico Mendes, no Acre.

Massini, que é professor de Medicina Legal, considera que a Justiça chegou ao nome dos culpados no Caso Luiz Otávio Monteiro porque o Ministério Público pressionou para tirar a investigação da esfera do Estado – inclusive os exames e laudos, que foram feitos fora de Manaus. Além de contar com um médico auxiliar, o legista estava acompanhado de uma equipe da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo que trabalhava especificamente com homicídios de autoria desconhecida.

No dia 28 de dezembro de 1988, horas antes de ser assassinado, Monteiro havia participado de uma festa de confraternização de fim de ano promovida pela Secretaria do Estado de Segurança, que era comandada por Raimundo Nonato Lopes, atual prefeito do município de Iranduba. Em seguida, acompanhado do delegado Raimundo Guimarães, do empresário Nilo Tavares e de sua filha, Maria Lea Tavares, foi à festa da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC) no Olaria Esporte Clube, localizado no Morro da Liberdade. Os dois prédios – a DVC e o clube ficavam muito próximos. Várias pessoas testemunharam a presença de Luiz Otávio na festa. Algumas relataram que ele havia bebido muito.

“Se eu tivesse ido junto à festa, ele não teria morrido”, acredita o fotógrafo e amigo Plutarco Cruz Botelho. ”Porque, quando um bebia, o outro ficava cuidando. Ou então matariam os dois”, avalia.

A principal prova material do crime foi o carro da polícia utilizado para transportar Monteiro até o local de desova de seu corpo. O veículo havia sido visto durante a noite por um casal que saía de um motel localizado na área próxima ao barranco onde o corpo de Monteiro foi achado. O automóvel foi identificado como sendo da Delegacia de Vigilância e Capturas. Era usado pelo policial Evandro Alves de Almeida.

Coelho desconfiou quando examinou o carro e percebeu que o assento estava limpo demais. Havia sido lavado. Almeida alegou ter transportado alguns meses antes um rapaz e uma senhora feridos. Mas um corte feito no assento e no encosto do banco dianteiro direito, no lado do passageiro, mostrou que a esponja interna estava encharcada de sangue. O laudo técnico e comparativo feito por Massini comprovou que o sangue era de Monteiro.

“Chegamos à conclusão de que, ao sair da festa no clube Olaria, Almeida tinha dado carona a Santos. Não há dúvida de que Almeida e Santos estavam no carro. Muito provavelmente havia uma outra pessoa que teria sido o autor do crime ou o mandante”, relata Coelho.

Embora houvesse suspeitas de que Monteiro teria sido assassinado dentro da própria Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC), não houve confirmação deste fato. Foram encontrados vestígios de tiros nas paredes da sede da DVC localizada no Morro da Liberdade, próximo ao clube onde Monteiro estava antes de ser morto. “Disseram que costumeiramente, em festas, praticavam tiro ao alvo em um desenho de um corpo humano. Mas algumas testemunhas escutaram disparos de arma de fogo naquela noite”, explica Coelho. O procurador da Justiça lembra ter estranhado que no trajeto entre a parte interna e a parte externa da delegacia o piso estava muito limpo.

Coelho não tem dúvidas de que Almeida e Santos estavam envolvidos no crime. O longo espaço de tempo que se passou desde a pronúncia até o julgamento de Santos (somente ocorrido em 2007) se deveu ao fato de que ele ficou foragido por um período, e o júri não poderia ser realizado sem a presença do réu. “No julgamento, Santos começou negando o crime. Quando o confrontei com a testemunha, ficou acuado e admitiu que (ele e Almeida) deram carona (a Monteiro). Ainda assim negou novamente a participação e disse que, se houve o assassinato, foi depois que o deixaram em casa”, informa o promotor Carlos Fábio Monteiro, que acompanhou o tribunal de júri.

“Santos passou o julgamento com um tom desafiador, não demonstrou nenhum abalo. Tem uma visão militar, de hierarquia, e não fala sobre o mandante”, analisa o promotor. Recusou-se a colaborar com a Justiça diante da oferta do benefício da delação premiada. Já Almeida era considerado por seu superior, o delegado Raimundo Délio Gomes da Silva, então titular da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC), “um bom guerreiro” (veja entrevista).

Para o promotor Fábio Monteiro, a deficiência do Estado explica a dificuldade para encontrar Almeida, que segue foragido. “O contingente policial é pequeno”, informa. “Fica-se na iminência que alguém o localize”. Seria necessária uma investigação nos locais onde dizem que ele foi visto, mas isso pressupõe recursos para mandar policiais com uma carta precatória de um juiz até outro Estado.

Consultado pela SIP em 5 de novembro de 2008, Mário César Nunes, delegado geral da Polícia Civil do Amazonas, informou não ter conhecimento do Caso Luiz Otávio. “Deve haver um mandado de prisão em aberto. Na hora em que houver uma informação nova, a polícia vai atrás”, respondeu.

Família ainda tem medo

A condenação de um dos assassinos de Monteiro não aliviou a pressão sobre amigos próximos e familiares. A impunidade do policial que permanece foragido e a certeza de que mais gente estaria envolvida no crime fazem que com que as pessoas se calem, com medo de represálias. “A verdade mesmo só quem sabe é o mandante, porque eu, como esposa há 21 anos não sei”, diz Rosimar Duarte Monteiro, 63 anos, viúva do jornalista. “Só sei que ele foi morto e torturado por policiais”, enfatiza. Por precaução e necessidade, já se mudou duas vezes de casa.

A viúva acredita que Monteiro “ia a fundo na profissão”. De vez em quando, até colocava uma peruca para conseguir a matéria que queria, como a vez em que foi barrado em uma festa e se disfarçou para conseguir entrar. Lembra que mais de uma vez o jornalista foi chamado para “limpar a barra” de algumas pessoas, tirando-os da penitenciária. Em troca, “elas prometiam um agrado: às vezes davam, às vezes não”, conta. Uma noite, Monteiro a chamou para conversar:

- Recebi uma proposta. Se eu quiser carro do ano, casa com piscina, vou ter, basta eu entrar na máfia – falou Monteiro.

“Eu disse que era muito perigoso, que ficasse a critério dele”, ressalta Rosimar. Nos últimos tempos, ele andava sempre com uma pasta amarela embaixo do braço. “Eu não sabia o que era. Tinha uma estante grande na casa, ele dizia que não era para eu mexer ali”, recorda. Mas ela sabia que o marido queria escrever um livro. O nome já tinha sido escolhido: “Cela 45”.

Monteiro temia a morte. A família vivia numa casa alugada e tinha planos de melhorar a moradia, mas o jornalista insistia que não comprassem uma casa de madeira, porque “tinha pavor de morrer a tiro”, explica Rosimar. Na redação do jornal, até brincava com isso. “Quem sabe eu não vou amanhecer presunto um dia?”, dizia, em tom jocoso, para a telefonista do Amazonas em Tempo. Uma noite, ele sentiu que estava sendo seguido ao entrar em casa.

Outros fatos mantiveram os Monteiro em alerta após a morte violenta do jornalista. O filho mais velho, cuja fisionomia lembra muito a de Luiz Otávio, recebeu uma visita estranha há algum tempo. Uma pessoa intitulando-se “detetive” chegou avisando: “Estou investigando algumas coisas sobre seu pai”, e apresentou cópias de matérias de jornal sobre o então governador Amazonino Mendes, sobre a morte de Monteiro e outros artigos aparentemente desconexos. A imprensa já havia divulgado o nome dos dois policiais acusados pelo crime. Depois de mais dois encontros, no entanto, o “detetive” nunca mais reapareceu. O telefone que deixou para contato não completa a ligação.

Outros suspeitos foram mencionados no inquérito

Em 2 de janeiro de 1989, Rosimar Duarte Monteiro deu um depoimento ao delegado Hélio dos Santos Rocha, encarregado do caso. Ela relatou que, no dia 24 de dezembro de 1988, em um encontro no restaurante Canto do Peixe, viu o empresário Francisco Mourão de Oliveira dar a Monteiro um cheque de 50 mil cruzados novos como “presente de Natal”. Também ouviu Mourão dizer que Plutarco ganharia algo para não publicar uma foto que o comprometia.

Rosimar descreveu em seu depoimento:
“Mourão pediu a Otávio que as fotos que Plutarco tirou teriam que ser dado fim (sic), tendo Otávio concordado e respondido que tudo estava limpo. Mourão disse para Otávio: ‘A nossa amizade não foi feita na lama, pois te conheço há 18 anos, tu sabes que tenho dinheiro, a barra é pesada, quando eu não faço, tem quem faça. Sobre aquele outro assunto (isto gesticulando com a mão), a grana é alta, altíssima. Eu tenho grana, mas estou precisando de muito mais. Se tudo correr bem, chegar no destino certo, não for pego e passar tudo direitinho, na volta terás o teu guaraná.”
A “grana alta” a que o comerciante se referia, segundo Monteiro teria contado depois a Rosimar, era uma carreta cheia de videocassetes que deveria sair de Manaus clandestinamente e sobre a qual Monteiro já sabia o nome dos envolvidos.

Na hora de se despedir, chamou a atenção da viúva outro diálogo entre Mourão e seu marido:
“Mourão: Barra limpa, caboclo?
Monteiro: Está tudo limpo!
Mourão: Pois é, caboclo, não pode escapulir nada... (e batendo no ombro de Luiz Otávio, voltou a falar). Pois é, caboclo, tu já pensaste amanhecer um dia com a boca cheia de formiga?”

Mourão foi ouvido pela polícia em 2 de janeiro de 1989. Negou a ameaça a Monteiro. Disse que, ao falar de pessoas que podem amanhecer “com a boca cheia de formigas” estava se referindo àquelas que passam cheques sem fundo, como um que havia recebido. Também rebateu a acusação de envolvimento com contrabando de videocassete, reafirmando que seu ramo de trabalho era construção. Reconheceu apenas que havia sido detido no dia 23 de dezembro por acusação de compra ilícita de mercadoria, ocasião em que o fotógrafo Plutarco teria feito sua foto. Afirmou que na noite do assassinato de Monteiro estava no balneário de Tarumã e parou em um bar próximo ao aeroclube. Depois, foi para sua casa, por volta das 21h, quando se envolveu em um acidente de trânsito.

Desde que ocorreu o crime, Plutarco recusa-se a dar entrevistas, ou mencionar o assunto. E lembra sempre: um dos acusados pelo crime ainda está foragido.

Mobilização inicial garantiu avanço das investigações

Ainda que existam críticas ao envolvimento de Luiz Otávio Monteiro com suas fontes, a morte do repórter provocou uma comoção geral entre os jornalistas. Houve uma passeata e uma manifestação em frente ao Palácio do Governo. A Ordem dos Advogados do Brasil pediu a renúncia do Secretário de Segurança. O assassinato de Monteiro foi destaque nos noticiários nacional e internacional. Em 14 de janeiro, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) lançou uma nota pedindo o esclarecimento do crime.

Ironicamente, Monteiro era considerado um dos mais eficientes repórteres na cobertura de mortes violentas como a dele. Nos últimos quatro meses assinava artigos nas páginas do jornal Amazonas em Tempo. Antes havia trabalhado nos concorrentes A Notícia e A Crítica. No Amazonas em Tempo, alcançou o ápice de uma trajetória tão famosa como polêmica.

Hermengarda Junqueira era a proprietária do jornal Amazonas em Tempo de 1987 a 2006. Atualmente é colunista de A Crítica e participa do programa Jogo de Cintura pela rede Amazon Sat. Monteiro era carinhosamente chamado por Hermengarda de “Tatá”. Brincalhão, com jeito de quem nasceu na região – e por isso apelidado também de “caboclo”, é descrito como uma pessoa determinada, “de cara feiosa e ao mesmo tempo doce”. Os dois haviam sido colegas no jornal A Crítica entre os anos 1975 e 1980. Quando ela resolveu montar o próprio jornal, convidou-o para coordenar a parte de polícia porque o considerava um ótimo apurador de dados.

Com um periódico recém implantado e querendo aumentar as vendas em bancas, a ex-proprietária admite que não se importava tanto com a forma como Monteiro obtinha as informações. O próprio repórter lhe contava como era acordado de madrugada para soltar presos na delegacia, tamanha era sua intimidade com os policiais. Ainda lembra das palavras dele: “Mana, eu tive que acordar cedo, não dormi direito, tive que soltar vagabundo, fizeram arruaças por aí”. Ele fazia de tudo um pouco: era repórter e editor ao mesmo tempo. “Tatá era mais policial que jornalista”, reconhece Hermengarda, e acrescenta: “Ele sabia muito”.

“Monteiro tinha o privilégio da informação e usava isso para obter vantagens financeiras – pelo menos esta foi a versão que correu entre policiais e colegas”, ressalta o jornalista Sebastião Colares Assanti, que presidiu o Sindicato dos Jornalistas de 1988 a 1990 e acompanhou o inquérito policial até o julgamento de Santos. Assanti supõe que Monteiro teria testemunhado arbitrariedade e extorsões praticadas pela polícia ao acompanhar as operações – desta forma, teria se tornado naturalmente um arquivo vivo. A partir do momento em que ameaçou denunciar algo que poderia comprometer toda a instituição, colocou sua vida em risco.

A conduta de Monteiro não era muito diferente de outros colegas. Naqueles tempos, o costume de receber “jabá” (dinheiro) para publicar ou não uma notícia tinha outros seguidores, como atestam jornalistas que trabalharam na imprensa de Manaus no mesmo período. A formação acadêmica dos profissionais de imprensa era rara. O que vendia mesmo jornal eram notícias de esporte e polícia. Por isso, os repórteres policiais tinham privilégios quando davam um furo de reportagem ou manchetes.

“Era a época de um jornalismo boêmio”, relata Mário Adolfo Aryce de Castro, que foi repórter especial e depois diretor de redação do Amazonas em Tempo. Robson Rodrigues de Carvalho, considerado uma espécie de “aprendiz” de Monteiro desde quando este trabalhava em A Notícia, seguiu a linha do mentor. Relata que, se Monteiro bebia até cair, dormindo sobre a mesa, era ele (Carvalho) quem guardava a carteira do jornalista para certificar-se de que ninguém a roubaria. Mais de uma vez lembra de Monteiro mandá-lo buscar uma encomenda que, depois, percebeu tratar-se de dinheiro. Com isso, diz, foi ganhando a confiança do mestre, mesmo que às vezes seu exemplo não fosse ético. Em um dia em que a cidade estivesse mais tranqüila, por exemplo, Carvalho viu Monteiro “criar” notícias: “Pegava uma foto de arquivo de alguém e publicava como tendo sido morto”. O Instituto Médico Legal (IML) ligava para conferir de onde saíra a informação e Monteiro respondia que não era real.

Ao mesmo tempo, Monteiro era um jornalista rápido ao lidar com as palavras. Chegava à redação já tendo a matéria toda na cabeça. “Aprendi muito com ele”, diz Carvalho. “Monteiro era o jornalista mais bem informado da cidade. Viu que me interessei e me dizia: tem que ter cuidado com A, B e C. Não fala muito”.

Paulo Ricardo Pinheiro de Oliveira, repórter da editoria de Política do Amazonas em Tempo, fez seu trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas, apresentado em julho de 2008, sobre o Caso Luiz Otávio Monteiro. E confirma: “Monteiro era fera. Trouxe de A Notícia seu esquema de fontes e começou a rebentar. Chegava até antes da polícia”. O problema, conforme constatou Oliveira pelos dados dos autos do processo e por depoimentos coletados de contemporâneos, é que Monteiro tinha uma relação complicada com suas fontes.

No trabalho de conclusão, que foi editado na forma de um pequeno livro intitulado “Luiz Otávio: o repórter que sabia demais”, Oliveira escreve:

“Luiz Otávio sabia do envolvimento de policiais e delegados no contrabando de videocassetes e estaria usando o poder da informação para extorquir. Ao menos é isso que os autos e depoimentos de colegas sugerem. Minha intenção não foi tripudiar sobre a memória da vítima. Apenas quis trazer à tona questionamentos sobre a conduta de um dos repórteres policiais que mais influenciou o jornalismo da década de 80”.

O caso ainda provoca medo e incertezas. Ao começar a escrever seu trabalho, Oliveira ouviu dos colegas: “Tu vais mexer em vespeiro...” Quando Monteiro foi assassinado, Hermengarda cogitou que o crime fosse uma represália por suas reportagens.

“Foi uma luta para conseguir tocar o inquérito”, lembra Hermengarda. O secretário de Segurança da época, Raimundo Nonato Lopes, declarou inicialmente: “Se até hoje ninguém descobriu quem matou Kennedy, como querem que eu descubra quem matou Luiz Otávio?” Depois, em entrevistas, disse que renunciaria se o crime não fosse descoberto.

Logo após o assassinato, quando as investigações foram avançando e surgiu a suspeita do envolvimento de policiais, um grupo da Polícia foi ao Amazonas em Tempo. Queriam entrar, foram barrados pela proprietária. A foto rendeu a capa do jornal. “Havia má vontade da polícia em dar informações, as entrevistas foram ficando difíceis, e os acusados sempre negando a participação no crime”, relata.

A insistência de Assanti, como presidente do Sindicato dos Jornalistas, pela punição dos culpados levou-o a receber ameaças indiretas. “A gente estava brigando contra o poder da polícia e interesses de pessoas envolvidas”, reconhece. Notícias publicadas no Amazonas em Tempo indicam que alguns repórteres foram ameaçados por acusar diretamente os policiais pelo crime. O medo era grande porque, em 1988, havia um grupo de esquadrão da morte atuando na região. Cerca de 21 mortes haviam sido atribuídas ao grupo, nenhuma delas esclarecida, como consta nos arquivos Amazonas em Tempo.

O jornal divulgou que repórteres também faziam parte da lista dos marcados para morrer pelo esquadrão: “O radialista Nonato Silva, da Rádio Baré, era um dos ameaçados na carta atribuída ao esquadrão da morte e enviada a um jornal da cidade. Dispararam tiros contra sua residência. Outro que teve a casa alvejada foi o repórter policial Douglas Lima, do jornal Diário do Amazonas. A carta assumiria a autoria do crime contra Luiz Otávio, mas não foi levada em consideração pela polícia”.

Em uma campanha do Amazonas em Tempo, o periódico publicava todos os dias a contagem do tempo de investigação desde a descoberta do corpo de Monteiro até a polícia chegar ao nome dos prováveis assassinos de Monteiro. “No 12º dia desvendaram o crime”, lembra o então repórter Mário Adolfo.

Ex-secretário de Segurança considera o crime solucionado

Vinte anos depois do assassinato de Monteiro, Raimundo Nonato Lopes, ex-secretário de Segurança Pública do Amazonas (1987-1989), administra o promissor município de Iranduba em que estão localizados nove hotéis de selva – um deles, o mais famoso, hospedou até o Príncipe Charles – e para onde só se chega, por enquanto, de balsa. Com a construção de uma ponte entre Manaus e Iranduba, o município deverá se projetar como um pólo agrícola e comercial importante.

Lopes considera o caso Luiz Otávio Monteiro solucionado. “O acusado foi preso, fugiu ao ser colocado em prisão domiciliar, mas o crime não ficou sem autoria”, afirma. Ele acredita que não é difícil prendê-lo e cita o programa da TV Globo chamado Linha Direta (programa que reconstitui crimes e, ao divulgar as fotos dos culpados, já conseguiu localizar e fazer prender alguns deles), como uma ajuda importante, lembrando que outras emissoras poderiam fazer o mesmo.

“O Luiz Otávio Monteiro era um grande jornalista, era meu amigo pessoal”, enfatiza. “Eu, particularmente, nunca tive nenhum problema com Luiz”.

Mas Lopes lembra, divertido, como uma vez Monteiro inventou uma matéria de capa, querendo lhe elogiar, com o título: “Secretário comanda blitz na Cidade Nova e apreende quilos de cocaína”
- Luiz, tás ficando doido, rapaz – reclamou Lopes.
- Chefe, eu não tinha matéria – respondeu Monteiro.
- Meu irmão, cadê a cocaína? Vão dizer que eu fiquei com a cocaína! – rebateu Lopes, preocupado.
- Pô, é mesmo, né chefe – disse o repórter.

O governo de Amazonino Mendes e o Esquadrão da Morte

Manaus ainda não era a cidade de altos edifícios e trânsito caótico, com cerca de 1,6 milhões de habitantes, como é hoje. No final da década de 80, as projeções indicavam quase metade dessa população. A capital do Estado do Amazonas, conhecido internacionalmente pela floresta sempre ameaçada, era uma região perigosa, como comprovou o assassinato do ecologista Chico Mendes, morto por fazendeiros num confronto em defesa pela preservação da natureza e do trabalho dos seringueiros.

Manaus também se destacava por ter um pólo comercial importante: a Zona Franca. Inaugurada em 1967, foi criada para ser uma área de livre comércio, em que não são cobrados os impostos de importação sobre produtos comprados no Exterior. Nos anos seguintes, ajudou a atrair para a região muitas indústrias eletrônicas e montadoras. Era especialmente importante no período em que o Brasil ainda adotava um regime de economia fechada.

Nos anos 80, a situação ficou difícil quando o sonho do Plano Cruzado instituído pelo então presidente José Sarney começou a ser suplantado por uma inflação furiosa. O país havia passado um ano sob a ilusão do corte de três zeros na moeda, preços congelados no varejo, antecipação de reajustes salariais e um gatilho com correção automática dos salários cada vez que a inflação acumulada pelo Índice de Preços ao Consumidor ultrapassasse os 20%. O plano foi criticado por ter sido lançado próximo às eleições e seus efeitos não tardaram a ser sentidos. A crise se refletiu com demissões no Distrito Industrial.

Notícia publicada no jornal Folha de S.Paulo de novembro de 1997 indica que, 10 anos depois, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) havia se convertido em uma área também de uso político – auditorias realizadas pelo Ministério do Planejamento desvendaram contratos superfaturados e desvio do dinheiro que deveria ter sido destinado a investimentos na região. Segundo a notícia, naquele ano, a irmã e uma sobrinha do governador Amazonino Mendes foram demitidas pelo superintendente do Suframa por serem funcionárias “fantasmas” de uma fundação ligada à Zona Franca.

A relação de Mendes com Manaus é antiga e conturbada. Promete se estender, porque em 2008 foi eleito novamente prefeito da cidade pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em dezembro de 2008, pouco antes de assumir o cargo, teve seu registro de candidatura e diplomação de candidato eleito cassados pela Justiça sob a acusação de abuso de poder econômico. O Ministério Público o denunciou por distribuição de combustível em seu nome, durante a campanha. Ele recorreu da cassação e conseguiu uma liminar garantindo a posse.

Ex-empresário da construção civil, Mendes ocupou o cargo de prefeito duas vezes (1983 a 1986 e 1993 a 1994). No primeiro mandato, fora indicado pelo então governador Gilberto Mestrinho. Depois do segundo mandato como prefeito, elegeu-se governador do Amazonas (1987 a 1990) e, na seqüência, senador (1991 a 1992). Em 1995, voltou ao cargo de governador. Encerrado o mandato, candidatou-se novamente ao governo do Estado do Amazonas, sendo reeleito (1999 a 2002).

Neste ínterim, Mendes foi denunciado por compra de votos, favorecimento de uma empreiteira que seria de sua propriedade e de usar “testas de ferro” (nomes de terceiros) em empresas e negócios ilegais que lhe beneficiariam. Em entrevista concedida por e-mail a SIP, ele rebate as acusações: “Na história política do Amazonas talvez eu seja o político mais investigado. A Receita Federal fez vários procedimentos apuratórios motivados por denúncias de meus adversários. Não encontraram nada! Não respondo nenhum processo de desvio de recursos públicos; não tive nenhuma das minhas duas prestações de contas como prefeito de Manaus e três de governadores, rejeitadas pelos Tribunais de Contas”.

Em 1988, quando o jornalista foi morto, Mendes preparava-se para começar seu terceiro ano como governador do Estado do Amazonas. No final da década de 80, muitas execuções eram atribuídas à polícia. O crime contra Monteiro escancarou ainda a atuação de um esquadrão da morte. Para acalmar a opinião pública, em 1989 o governador extinguiu a Polícia Civil e criou a Polícia Judiciária. “Foi uma medida drástica, diante de uma série de fatos envolvendo policiais em atividades criminosas”, informa Mendes. E ressalta: a iniciativa, em um primeiro momento, trouxe mudanças de comportamento.

“A idéia era inicialmente colocar em disponibilidade todos aqueles policiais com mácula, com punições grandes, com violência. Mas o governador, depois de uma reunião com o Ministério Público, resolveu extinguir e criar uma nova polícia”, conta Raimundo Nonato Lopes, ex-secretário de Segurança Pública do governo Amazonino Mendes. Com a mudança, Lopes deixou o cargo na Secretaria de Segurança, que foi extinta, e assumiu a Secretaria de Administração e Planejamento.

Na prática, de acordo com o ex-secretário, houve uma melhoria salarial temporária para os policiais que permaneceram, possibilitando também uma seleção mais apurada dos integrantes. Os delegados passaram a ser denominados intendentes. Os agentes de polícia foram denominados investigadores. A mudança funcionou durante um período apenas. Lopes, no entanto, diz que nunca houve esquadrão da morte enquanto estava no governo – pelo menos, “não que tivesse conhecimento”.

O procurador de Justiça Carlos Antonio Ferreira Coelho, encarregado das investigações iniciais no caso Luiz Otávio Monteiro, foi o responsável pela denúncia do grupo de extermínio denominado “Famosos Integrantes de Mortes no Amazonas” (FIRMA), que tinha a participação de policiais. O próprio Coelho escapou de uma cilada para matá-lo, provavelmente organizada em represália a suas denúncias.

Atualmente ainda aparecem corpos de pessoas executadas por bandidos na região. Mas Coelho acredita que a FIRMA foi desarticulada. “Os membros se mataram entre eles, por desavenças internas”, relata. A seu ver, persiste a falta de vontade política para acabar com outros grupos parecidos. “Contrabando de armas e tráfico de entorpecentes não têm como proliferar se não houver a participação de agentes públicos”, observa.

Irregularidades e dúvidas sobre o Caso Luiz Otávio Monteiro:

- Onde está a pasta que Monteiro costumava carregar com ele nos dias antes de morrer?

- O policial civil Evandro Alves de Almeida foi liberado pelo juiz para tratamento domiciliar e fugiu. Está foragido desde maio de 1989, o que, segundo o procurador de justiça Carlos Antonio Ferreira Coelho, ajudou a encobrir o mandante. Em entrevista em off para a SIP, um integrante da polícia disse que é possível prender Almeida em menos de 30 dias, apenas seguindo as pistas deixadas por ele. Este informante se ofereceu para localizar o foragido mediante o pagamento de R$ 50 mil. Segundo este policial, “para prender o culpado basta ler o inquérito. O serviço de inteligência da Polícia poderia facilmente localizá-lo”. Por que não foi feito até agora?

- Segundo o procurador de Justiça Carlos Antonio Ferreira Coelho, mais de 50 pessoas foram ouvidas no inquérito. Ele ressalta o fato de que, apesar de todas as testemunhas admitirem ter visto Monteiro no Olaria Esporte Clube – sabiam a mesa em que sentou, a música que dançou, o que bebeu – nenhuma esclareceu com quem ele estava quando saiu da festa. “Ninguém deu uma informação a respeito, o que parecia previamente ensaiado”, enfatiza. Por quê?

- Havia uma outra pessoa junto com Santos e Almeida quando saíram do clube, pouco antes do crime?

- Por que o procurador de Justiça Carlos Antonio Ferreira Coelho foi forçado a tirar férias durante as investigações?

- Por que não se chegou a provas diretas que sobre os autores dos disparos, o local do crime e o(s) mandante(s)? Na denúncia apresentada pelo promotor Sérgio Lauria Ferreira, ele constatou: “Ainda que não esteja, até o momento, comprovada nos autos a execução pelos próprios denunciados dos tiros que dera causa à morte da vítima, não há como negar que no mínimo eles conhecem quem os executou; presenciaram este fato; concorreram na efetivação da trama preparada para a consumação do crime”;
- Por que Monteiro foi assassinado por policiais, se o nível de confiança na relação com delegados e policiais era tão grande, como atestam os depoimentos de seus amigos e colegas?

- Quem era o “detetive” que procurou o filho de Monteiro após o crime? Por que ele deixou com a família documentos sobre o governador Amazonino Mendes? Por que desapareceu sem deixar pistas?


“Monteiro não foi morto dentro da DVC, eu não permitiria”
(entrevista com o ex-delegado Raimundo Délio Gomes da Silva)

Raimundo Délio Gomes da Silva era titular da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC) de Manaus no final dos anos 80. Foi ele quem organizou a festa de confraternização de dezembro de 1988, em que o jornalista Luiz Otávio Monteiro esteve presente até pouco tempo antes de ser assassinado.

Os dois policiais civis acusados pelo crime trabalhavam na DVC. Evandro Alves de Almeida era motorista da Central de Transportes e Marlo Ricardo Souza dos Santos era agente de polícia – portanto, subordinados de Silva.

A entrevista a seguir foi realizada no dia 7 de novembro de 2008 em uma sala da Feira Manaus Moderna, um grande mercado situado junto ao porto da cidade. Silva fez questão que a entrevista fosse gravada e pediu cópia. Diz que conheceu Monteiro por seu trabalho como repórter policial. “Não gosto de mexer com os mortos”, avisou de início, ao ser questionado sobre o perfil de Monteiro como profissional. “Eu achava que ele não tinha muita ética no trabalho”, respondeu.

Durante vários momentos da entrevista, foi cauteloso ao escolher as palavras. Falou da noite do crime, das acusações feitas contra ele próprio sobre participação em homicídios e em um esquadrão da morte, e sobre seu envolvimento com a igreja – circula em Manaus a informação de que teria se tornado pastor. Aos 61 anos, diz que não parou de trabalhar – atualmente ajuda um amigo na administração de um escritório de vendas que funciona na Feira Manaus Moderna.

A seguir, os principais trechos da conversa:

De onde o senhor conhecia Luiz Otávio Monteiro?
Délio Gomes da Silva: Primeiro ele trabalhou no A Notícia, depois em A Crítica. Porque eu vivi mais de 30 anos como delegado eu conheci a maioria: Milton, Luiz Otávio, Pacífico. Sempre fui operacional. E às vezes, em operação, eu dizia: vamos comigo lá na minha viatura, a nau capitão, fazer uma desbravação.

Luiz Otávio, algumas vezes, tinha privilégios e era o único repórter nas operações?
Silva: Isso aí eu não sei dizer porque eu não vivia com ele. Eu não era amigo, era conhecido. Amigo era aquele que a gente sabe a intimidade. Eu era conhecido.

Mas ele tinha muitos amigos na polícia, não?
Silva: Tinha. Tinha muitos amigos.

Ele estava em muitas operações?
Silva: Sempre. Ele e tantos outros que, como disse, levava. Eu não costumava dar exclusividade a uma matéria. Eu levava quem estava, quem queria me acompanhar. Sempre foi assim.

Quando o senhor o conheceu, já era da DVC?
Silva: Não, eu entrei no dia 23 de janeiro de 1977 como delegado.

E o senhor atuava em que área?
Silva: Eu atuei em todas as áreas. Cheguei até ao cargo de delegado geral de polícia.

Em que época?
Silva: 1995, 1996.

O senhor atuou na DVC em que período?
Silva: Eu fiquei duas vezes na DVC. Na época em que ele morreu foi exatamente no dia 28 de dezembro de 1988. Eu tinha promovido uma festa de confraternização na delegacia e o pessoal ia para lá, com os parentes, os policiais, os amigos. Eles (Luiz Otávio e outros) chegaram então de uma outra festa de confraternização que era do então secretário de segurança, Nonato Lopes. Eu lembro até as palavras: “Pô, viemos da festa do Nonato, tava um fiasco, mas tua festa tá bacana, tem bebida, comida, tá todo mundo alegre aqui, brincando, dançando”.

Tinha mais jornalistas, além do Luiz Otávio, na festa?
Silva: Tinha.

Quem estava mais?
Silva: Eu não lembro quem era, mas estavam Milton, Pacífico.

E o que aconteceu naquela festa?
Silva: Na festa não aconteceu nada. Cerca de 2h30min, 3h da manhã, peguei meus filhos e levei para casa. De manhã, eu ouvi falar na morte de Luiz Otávio. Como ele estava lá (na festa), eu não acreditei.

Quer dizer que o senhor já teria ido para casa. Luiz Otávio estava na festa quando o senhor saiu?
Silva: Já. O pessoal continuou lá na festa.

E como o senhor vê as acusações contra Evandro Alves de Almeida e Marlo Ricardo Souza dos Santos?
Silva: Até eu fui chamado a depor, porque eles estavam na minha festa. Eu disse: eu não convidei, o pessoal estava lá, vieram da festa do Dr. Nonato, nosso secretário. Eu saí com meus filhos e eles ficaram lá. A festa continuou. É confraternização de pessoal jovem, vai até de manhã.

Evandro Alves de Almeida e Marlo Ricardo Souza dos Santos eram funcionários da sua delegacia?
Silva: Eram funcionários da minha delegacia.

Eram funcionários antigos?
Silva: O Evandro era um funcionário mais antigo, o Marlo era mais moderno.

E como eram como funcionários?
Silva: O Evandro trabalhou comigo na Furto de Veículos.

Ele veio com o senhor para a outra delegacia?
Silva: Não. Ele veio para lá depois. Ele não me acompanhava.

Ele trabalhava diretamente com o senhor?
Silva: Estava trabalhando, ele era o chefe de uma equipe permanente, que trabalhava todos os dias. A equipe era, vamos dizer, encarregada das investigações. Ele era muito bom, ele foi oito anos da Polícia do Exército (PE). Então ele era, vamos dizer assim, “um bom guerreiro”.

E Marlo Ricardo Souza dos Santos?
Silva: Quando eu vi Marlo acusado... Não aceito até hoje. Para mim, o Marlo é inocente. Se o Evandro é ou não criminoso, aí eu posso até admitir, mas Marlo, naquilo, não. Eu soube que ele foi preso, foi com assalto. Marlo era um menino de família, que não bebia, não fumava. A paixão dele era uma cobra que criava dentro de casa. Comprava pinto para dar para ela.

E os dois trabalhavam juntos?
Silva: Trabalhavam juntos, na mesma equipe.

O senhor disse que não acredita que Marlo Ricardo Souza dos Santos participou. E Evandro Alves de Almeida, por que teria cometido o crime?
Silva: Marlo me disse que tinha saído antes. O próprio Evandro disse: “Não, doutor, o Marlo foi embora, e eu fiquei sozinho”. Mas EU creio até hoje que Marlo não tinha nada a ver com a história.

E qual seria o motivo do crime?
Silva: Se alguém tivesse...foi exatamente por este tipo de conduta de ética.

Luiz Otávio estaria chantageando alguém?
Silva: Quer a verdade? Acho que sim. Acho que ele estava tentando chantagear o Evandro, e o Evandro não tinha dinheiro para pagar chantagem nenhuma.

Chantageando por quê?
Silva: Porque ele tinha trabalhado na Furto de Veículos (Observação da repórter: neste trecho Silva fala como se estivesse escolhendo as palavras) e teria saído uma matéria em que o Evandro indicava os carros para os bandidos e depois pegava a ponta dos bandidos, recuperava o carro e devolvia para o proprietário. Eu também não acredito.

Esta matéria foi publicada?
Silva: Mais ou menos assim. Houve uma publicação destas.

Jornalistas e policiais diziam que, às vezes, Luiz Otávio deixava de publicar algo quando alguém lhe pagasse.
Silva: Eu entendo que ele teria publicado isso para provocar – “Tu me dá uma ponta (dinheiro), que eu largo”. Não posso dizer que foi.

O senhor lembra quando saiu esta matéria?
Silva: Não, isso eu teria ouvido comentar. Eu não lembro desta matéria particularmente porque não tive nada a ver com nada desta história. Você está me perguntando e eu estou lhe dizendo a minha opinião. Essa é a minha opinião pessoal. Se é que isso aconteceu, qual era o motivo, pode ter sido esse.

Pode haver outras pessoas envolvidas que não foram pronunciadas?
Silva: Veja bem: uma coisa eu sei, porque bebi muito com Luiz Otávio. Eu disse que não era amigo, era conhecido... Mas com o Milton, com o Pacífico, com o Luiz Otávio, eu bebia. Hoje eu sou evangélico, mas eu bebia muito. Eu dizia assim: sou caldeira boa. Caldeira boa queima qualquer lenha, entendeu? Eu bebia tudo. Quando o sujeito está bebendo... eu não sei quando, que horas eles saíram da delegacia, nem um, nem outro, se saíram juntos, se saíram acompanhados, se saíram um antes, outro depois, se saíram acompanhados com outras pessoas. Não sei nada disso. Só sei o acontecido. E eu não tive muito contato mais com eles porque eu próprio fui ouvido (no inquérito). E disse: “Não, não tenho nada a ver, eu saí com meus filhos, fui para casa e não sei mais nada”. E realmente não sei. Eu quero uma gravação porque, o que eu falar, se você vir alguma gravação, algum depoimento da época, você vai ver que é a mesma coisa.

Um crime geralmente tem alguém que organiza, um mentor intelectual...
Silva: Às vezes, não.

O senhor acredita que a morte de Luiz Otávio foi uma reação do momento, ou foi uma armadilha?
Silva: Não sei. Eu vejo o homicídio como um crime circunstancial. O que se comete premeditadamente é um latrocínio. No latrocínio o bandido vai, verifica a casa, estuda o movimento das pessoas. Por isso que eu NÃO GOSTO de bandido. Eu não gosto de bandido. Eu trabalho para o cidadão. Até hoje eu trabalho para o cidadão. Eu brigo com qualquer pessoa até hoje, mesmo enfartado, eu brigo para defender uma pessoa, um cidadão.

Então o senhor acredita que não foi algo premeditado?
Silva: Não, não. Vamos raciocinar: eu não gosto de você. Te encontro bebendo...ah, vamos beber... temos um relacionamento, vamos dizer assim... (tempo para escolher a palavra) convencional. Nós nos encontramos, estamos bebendo, aí de repente eu lembro de uma coisa e digo... ah, filho da mãe, você me fez isso, agora é hora. Aí pode surgir isso. Pode. Não estou dizendo que foi. Não creio que ele tivesse motivo para matar Luiz Otávio.

Não acredita?
Silva: Não. Eu, se tiver raiva de alguém, na hora eu sou capaz de fazer alguma coisa. Agora, se tocar numa das minhas crias, aí é perigoso. Aí eu me zango. Eu sou uma fera ferida. Eu já levei um tiro. Foi endereço à minha cabeça, me pegou aqui (mostra) E eu não fiz nada contra a pessoa. Deus me defendeu. Se for contra as minhas crias, aí pode crer que eu me zango.


O sangue de Luiz Otávio foi encontrado num carro da polícia (uma viatura da DVC).
Silva: Exatamente. Era a única viatura que nós tínhamos na delegacia. Na realidade, não vi nenhum vestígio, mas depois a perícia constatou que tinha sido lá dentro. Por isso é que eu estou deduzindo.

Evandro Alves de Almeida está foragido agora.
Silva: Acredito que até hoje. Ele estava preso e saiu, e eu não tive mais contato com esse pessoal, nem com o Marlo.

O senhor falou que não gosta de bandido. Naquela época, havia um grupo que matava os bandidos, um esquadrão da morte.
Silva: Quantas vezes me acusaram de chefe de esquadrão da morte. Me acusaram de muitas coisas.

O senhor foi acusado de um homicídio também.
Silva: Eu já fui acusado de várias coisas, já sentei em banco de réus. O que alguém pode dizer? Que eu era arbitrário, que eu era violento? Não tenho nem tamanho para ser violento. Mas eu não sou homem de levar recado. Até hoje, velho mesmo, se o sujeito me desrespeitar eu vou obrigar ele a me respeitar como homem. Senão como homem, como autoridade. Eu disse isso para um governador dentro do gabinete dele.

Mas existia este esquadrão, não?
Silva: Não, isso nunca existiu.

O que era a FIRMA?
Silva: Ah, não, a FIRMA era composta de ex-policiais envolvidos com problema de droga, de pistolagem. Isso aí chamavam FIRMA. Mas eu nunca constatei. Se sei que existia isso? Não, não é verdade. Eu, pelo menos, não posso dizer isso.

Os repórteres policiais participavam mais das operações da polícia, iam junto, acompanhavam...
Silva: A polícia de antigamente era mais ativa. No momento atual, existe uma coisa: as autoridades deixaram de proteger e defender o cidadão para dar cobertura e proteção ao bandidão.

E naquela época?
Silva: A polícia agia mais. Eu era delegado operacional porque nunca fui medroso. Eu ia buscar o bandido nas tocas.

O senhor é pastor? Como o senhor entrou para a igreja?
Silva: Não, eu não sou pastor. Veja bem: eu venho de uma família cristã evangélica. Nos meus 10, 12, 13 anos, eu me converti e fiquei até os 18. Dos 18 aos 48 eu vivi fora da igreja, entendeu? Aos 48 voltei e estudei um pouco a Bíblia. Leio sempre. Hoje de manhã já li alguns capítulos dos evangelhos da Bíblia, antigos ou novos. Então, eu conheço um pouco a palavra de Deus. Deus me deu esse discernimento. E eu me tornei um dirigente de congregação da Assembléia de Deus no Campos Elísios durante três anos.

Não está mais lá?
Silva: Não. Eu pedi autorização para fazer uma visita na Igreja Universal e meu pastor disse que não podia, porque era outro ministério. Eu digo: meu pastor, mas Jesus me libertou, não me escravizou. Eu era diácono. Estudei um pouco de Teologia.

E aí ele lhe liberou para o senhor ir para outra igreja?
Silva: Não, eu tomei a deliberação (mostra carteira de membro da igreja). Quando se estuda a palavra de Deus, se aprende que, se possível, evite matança desnecessária. Essa é uma das coisas que nós aprendemos.

O senhor acha que fez matanças desnecessárias?
Silva: Eu? Não. Eu nunca fiz nenhuma. Nunca matei ninguém. Não estou dizendo isso pra dizer que eu sou bonzinho, não. Coragem eu tenho para dar, vender, emprestar. Não sou homem de covardia, não sou homem de ter medo.

Mas alguns de seus subordinados provavelmente mataram?
Silva: Vejam bem: se alguém estuprar uma senhora, uma criança, seja quem for, eu digo: eu quero estes bandidos mortos. Eu sou contra bandido e contra depósito de bandido. Sou a favor da sociedade livre, protegida, com os verdadeiros direitos humanos. Porque hoje direitos humanos é usado para proteger bandido em detrimento de uma sociedade de homens pacatos, de pessoas humildes, de cordeiros que não sabem se defender. Não tem ninguém para protegê-las e defendê-las.

O senhor vai se candidatar algum dia?
Silva: Não pretendo, não tolero política. Eu sou apolítico.

Em relação ao crime do Luiz Otávio, acredita que está encerrado, os culpados foram punidos? Ainda há um acusado foragido.
Silva: Não sei. Ele está foragido. Se ele foi punido, se cometeu o crime, não foi suficiente. Veja bem: é a lógica, eu estou na viatura e o camarada morre na viatura, então...

... é o responsável?
Silva: É. Então, veja bem: não creio que ele tivesse motivo, mas o camarada, para matar, não precisa motivo, é uma circunstância. Para mim, o homicida é criminoso circunstancial.

Quer dizer que não teria mais ninguém envolvido?
Silva: Eu creio que não.

Mas outras pessoas podem ter sabido, por conta de o carro ser da polícia?
Silva: Não, porque aí foi um estardalhaço. Eu estou dizendo que eu fui chamado...(para depor)

Dizem que Luiz Otávio pode ter sido morto na própria sede da DVC, pelos sinais de balas nas paredes.
Silva: Não, negativo. Jamais um negócio desses. Se você tivesse tempo, eu ia mostrar para você onde era a sede da então Secretaria de Segurança. Ia com você onde ocorreu, hoje existe um prédio, mas era um buraco, um sumidouro, uma coisa... ele apareceu lá dentro. O jornal divulgou os fatos. O corpo foi jogado lá dentro.

Mas depois concluíram que ele foi morto em outro lugar.
Silva: Ele foi morto dentro do carro. Jamais na delegacia, eu não permitiria que acontecesse, principalmente se eu soubesse. Como eu não soube, se aconteceu não foi dentro da delegacia, até porque, veja bem, tinha uma multidão de gente na delegacia.

Não existia um esquema lá de tiros ao alvo?
Silva: Não, isso é balela. Eu lhe levo também onde era a delegacia de Vigilância e Capturas. Eu fui duas vezes delegado de Vigilância e Capturas. Só que eu pegava os bandidos e tenho um lema comigo: não recebo e não dou propina. Sou, com perdão da expressão, chamado “cu de ferro”, entendeu? Então eu não tenho nada. O meu carro? Eu estou pagando, porque vendi uma casa em que morei 28 anos num conjunto proletário. E comprei um apartamento que eu estou pagando até hoje e de seis em seis meses já está uma prestação que quase não dá para eu pagar. Eu fico pegando dinheiro emprestado para poder pagar prestação.

A minha palavra...se eu disser SIM, é sim, e NÃO, é não. Se eu disser para alguém: “Eu vou lhe dar um tiro”, e eu me arrepender, eu dou um tiro na direção da pessoa, para cima, para o alto, para não atingi-la, mas eu não posso faltar com a minha palavra. E eu sempre fui assim.

Se eu estivesse interrogando algum marginal, ladrão, e eu fizesse um acordo com ele: “Me entregue esse serviço – essa parada, como nós chamamos na gíria policial – e eu vou lhe liberar”, não importava a circunstância, mas eu ia liberar para cumprir a minha palavra. Alguém pode dizer: “Mas, doutor, mas ainda tem...” Eu digo: “Eu dei minha palavra. Ele entregou o que eu queria e eu dei minha palavra. Ele vai ser liberado, depois vocês capturam novamente quando puder. Mas aqui eu vou liberar”.

Alguma vez acusaram o senhor de ter alguma participação neste crime (do Luiz Otávio)?
Silva: Não, a princípio quiseram achar que havia envolvimento do delegado, dos policiais, mas não, nunca houve nada disso, até porque não tinha nem motivo. É aquilo que eu disse, não acho que tivesse motivo para matar.

O senhor não teve nenhuma participação?
Silva: Não, nem participação, nem teria motivo nenhum. Eu acredito que, se Evandro fez isso, foi circunstância, ele não teria motivo para fazer isso.

CRONOLOGIA

6 de janeiro de 1989 – o policial Carlos Alberto Lamega, absolvido em 1988 da acusação de envolvimento com o Esquadrão da Morte, provocou um tumulto no jornal Amazonas em Tempo ao pretender interrogar dois funcionários. O incidente foi considerado uma provocação e o fato ganhou destaque na capa do jornal.

7 de janeiro de 1989 – policiais da delegacia queriam entrar na redação do Amazonas em Tempo. A proprietária teve que intervir.

14 de janeiro de 1989 – a SIP mandou uma carta cobrando a elucidação do crime.

19 de janeiro de 1989 – confirmada a vinda a Manaus dos legistas da Unicamp Nélson Massini e Fortunato Palhares para esclarecer a participação de outros policiais. O diretor-geral da Polícia Federal era Romeu Tuma.

31 de janeiro de 1989 – o promotor Sérgio Lauria Ferreira ofereceu denúncia contra Evandro Alves de Almeida e Marlo Ricardo Souza dos Santos.

19 de julho de 1994 – o juiz de Direito Aristóteles Lima Thury julgou procedente a denúncia para pronunciar os acusados Almeida e Santos. Manteve a decretação da prisão contra Almeida porque não possuía bons antecedentes, e estava foragido; manteve a liberdade provisória de Santos porque era primário e tinha bons antecedentes.

SOBRE OS DOIS ACUSADOS DO CRIME

Evandro Alves de Almeida
Data de Nascimento: 22/03/1951
Policial Civil – admitido como motorista da Central de Transportes pela Secretaria de Segurança Pública
SITUAÇÃO ATUAL: foragido

10 de janeiro de 1989 – decretada a prisão do policial civil Evandro Alves de Almeida

13 de abril de 1989 – Almeida consegue alvará de liberdade provisória do 4º Batalhão da Polícia para se submeter a tratamento de saúde em prisão domiciliar na sua residência (avenida Bela Vista, 33, Bairro Nova Esperança, Manaus)

26 de maio de 1989 –enviado um mandado determinando a volta de Almeida voltasse à prisão no quartel (não cumprido)

30 de maio de 1989 – a Justiça determinou a busca domiciliar do acusado. Almeida não foi mais localizado

19 de julho de 1994 – o juiz de Direito Aristóteles Lima Thury julgou procedente a denúncia para pronunciar os acusados Almeida e Santos. Manteve a decretação da prisão contra Almeida porque não possuía bons antecedentes e estava foragido


Marlo Ricardo Souza dos Santos
Data de Nascimento: 6/10/1966
Policial Civil da Delegacia de Vigilância e Capturas (DVC)
SITUAÇÃO ATUAL: condenado a 16 anos de reclusão em 9 de maio de 2007

13 de abril de 1989 – Santos estava em liberdade provisória

19 de julho de 1994 - Santos foi pronunciado pelo juiz, que manteve a liberdade provisória porque o réu era primário e tinha bons antecedentes

2 de agosto de 1994 – Aniello Mirando Aufiero, advogado de Santos, entrou com recurso em sentido estrito da pronúncia

30 de junho de 1995 – os membros da 3ª Câmara Criminal negaram o recurso, decidindo submeter Santos ao tribunal do júri

10 de agosto de 1995 – Aniello Mirando Aufiero, advogado de Santos, entrou com recurso especial no Superior Tribunal de Justiça

13 de outubro de 1995 – o desembargador Roberto Hermidas de Aragão, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, não admitiu o recurso especial

17 de setembro de 1997- a Justiça decretou a prisão preventiva de Santos, que foi dado como foragido

9 de janeiro de 2006 – Wilson Oliveira de Mello Júnior, advogado de Santos, pediu a revogação da prisão preventiva

26 de janeiro de 2006 – divulgada a informação de que Santos já se encontrava preso desde 2002 pela Polícia Federal sob a acusação de ter introduzido em território nacional arma de uso proibido. Apesar disso, continuava como servidor estadual, policial civil e, por isso, foi mantido preso na Superintendência da Polícia Federal

9 de maio de 2007 – Santos foi julgado e condenado a 16 anos de reclusão pelo assassinato de Luiz Otávio Monteiro. Apelou da sentença, que foi mantida.

3 de dezembro de 2008 – o coronel Oliveira Filho, chefe do Estado Maior Geral da Polícia Militar do Amazonas, informou que Santos foi transferido, por determinação judicial, da prisão da Polícia Federal, onde se encontrava, para o quartel do Comando de Policiamento Especial da Polícia Militar porque estaria “jurado de morte”. No local, ele recebe visitas restritas.

Segundo Oliveira Filho, o espaço está superlotado – projetado para abrigar 10 presos, está com 24. Há intenção do Comando da Polícia Militar de transferir alguns presos para diminuir a lotação, mas não há previsão de quando isso será feito. Ainda de acordo com Oliveira Filho, estão neste local líderes de facções e outros criminosos ameaçados de morte.

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