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Parmenio Medina
7 de julho de 2001

Caso: Parmenio Medina



Caso Parmenio Medina Pérez:

1 de outubro de 2003
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Cartas a la Autoridad

25-01-2008


Naquela tarde quente, no começo de 2001, em San José de Costa Rica, a voz grave de um desconhecido com forte sotaque colombiano selou o destino do jornalista Parmenio Medina Pérez: “Homem... Parmenio, acho que você está mexendo em casa de marimbondo. Na Colômbia, de onde você veio há tantos anos, muitos jornalistas pereceram por terem ido onde não foram chamados. Você está mexendo onde não devia”, avisaram.

Isso significava que havia uma sentença de morte pendente para o jornalista de 62 anos, que seria executada quatro meses depois. Três balas de um revólver calibre 38 tiraram a vida do destemido jornalista tico-colombiano, cujo programa de rádio “La Patada” havia se transformado em uma poderosa voz de denúncia.

Agressivo, sarcástico e destemido diante da corrupção, Medina enfrentou poderosos interesses políticos, empresarias, governamentais, econômicos e religiosos. Usou como arma a investigação. Aqueles que passaram pelo crivo das suas críticas raramente encontraram uma saída. A partir de 1998, o “La Patada” (programa difundido pela Rádio Monumental) deixou de ser um programa apenas humorístico para se transformar numa explosiva – e implacável – mistura de denúncia, sarcasmo e humor do mais alto nível. A equipe profissional que o produziu se autodenominou “O esquadrão anti-corrupção”.

Isso valeu a Medina vários inimigos, mas deu-lhe credibilidade: “o que o Medina falou está falado”.

Temido e respeitado, querido e às vezes odiado, na vida profissional Medina Pérez cruzou, em outubro de 1999, com o padre Mínor de Jesús Calvo, diretor da extinta Rádio María, estação que chegou a se transformar num fenômeno de massas sem precedentes na história desse país centro-americano.

Dois anos depois do crime, as investigações sobre a morte de Medina trouxeram poucos resultados, apesar do discurso otimista do Ministério Público. O Órgão de Investigação Judicial (OIJ, polícia de investigação criminal de Costa Rica) garante ter esclarecido o caso, mas não apresentou nenhuma prova.

No segundo aniversário da morte do jornalista, os detalhes colhidos parecem apontar para um empresário relacionado à Rádio María como o possível autor intelectual, mas o procurador-geral da República, Carlos Arias Núñez, lembra que “em 20 anos, o Ministério Público não foi capaz de apresentar nenhum autor intelectual de nenhum crime à justiça”.

Três suspeitos foram detidos: John Gilberto Gutiérrez Ramírez, colombiano; Adrián Chaves Matarrita, costarriquense, e Luis Alberto Aguirre Jaime, nicaragüense, mas são apenas suspeitos, sem que nenhuma acusação tenha sido feita.

Para responder à pressão da imprensa, as autoridades encarregadas do caso optaram por um silêncio incomum. A promotora Leda Méndez, considerada como uma dama de ferro no Ministério Público, tem ordens superiores de não dar declarações à imprensa, proibição que se estende aos detetive da equipe de investigação.

Apesar das limitações, a imprensa tica pretende realizar uma investigação paralela.

O silêncio desagrada a Frente Cidadã contra a Impunidade, organização integrada por representantes de diversos setores sociais que exige respostas. A organização acusou as autoridades policiais de programar operações ostensivas sempre que se aproxima o aniversário do crime, ação que, em sua opinião, desvia a atenção da investigação.

O silêncio também contagiou o presidente da República, Abel Pacheco, que em setembro de 2002 concedeu à procuradoria um prazo até dezembro desse ano para esclarecer o caso e ameaçou recorrer à Agência Federal de Investigações (FBI) dos Estados Unidos, em busca de ajuda. Mas a proposta presidencial provocou a ira do procurador-geral, Carlos Arias, que respondeu dizendo: “Trabalhamos com responsabilidade, não com prazos.” A ameaça terminou transformando-se em uma piada: o presidente Pacheco não tocou mais no assunto.

Rádio María

Carismático e com o dom da palavra, o padre Mínor de Jesús Calvo conseguiu, em março de 1999, realizar seu projeto mais ambicioso, a Rádio María.

Com o patrocínio do empresário Omar Chaves, o padre expandiu a estação a limites insuspeitados. As doações para a emissora católica, todas muito generosas, se multiplicaram. Um relatório emitido pela seção de Crimes econômicos da OIJ revela que entre fevereiro de 1999 e julho de 2001, o padre Calvo registrou movimentos em suas contas bancárias de mais de ¢1.200 milhões (cerca de quatro milhões de dólares).

Do terceiro andar de um prédio, em pleno coração de San José, as ondas da emissora despertaram o fanatismo dos seus seguidores. O padre Calvo transformou-se em figura pública. “Aluguei só o terceiro andar”, lembra Chester Patterson, ex-proprietária do imóvel, “mas tomaram todo o prédio. O elevador e as garagens estavam sempre cheios. As pessoas gritavam e pareciam em transe. Terminaram colocando alto-falantes dentro do edifício que produziam um ruído ensurdecedor”.

Uma pilha de documentos reunidos por um ex-colaborador da Rádio María foi o começo do fim do castelo de cartas erguido pelo padre Calvo.

Começaram a chegar ao escritório do jornalista Parmenio Medina relatórios sobre supostas irregularidades na administração do dinheiro que entrava nos cofres da estação. Em 22 de outubro de 1999, seu programa de denúncias revelou as irregularidades e deu início ao confronto mais direto entre a Rádio María e o programa “La Patada”.

Os ânimos se acirraram, os defensores do padre Calvo saíram em sua defesa, enquanto a opinião pública se mostrou a favor de Medina.

O confronto se intensificou. Durante vários meses, o “La Patada” continuou expondo novas irregularidades. “Nos anos 2000 e 2001, o senhor Medina Pérez denunciou, entre outros temas, a estação Rádio María, como forma de atacar nossa sociedade católica, não importando a classe, gênero ou condição”, afirma o relatório 681-INV-OI do Órgão de Investigação Judicial.

O ambiente pesado chegou a seu clímax em outubro de 2000, quando o programa de rádio de Medina informou sobre um incidente ocorrido no Parque Metropolitano La Sabana, na capital de Costa Rica.

Durante uma ronda noturna, alguns patrulheiros surpreenderam o padre Calvo na companhia de um jovem. O incidente não teve maior importância, mas chamou a atenção para o fato de o padre estar em um local que era ponto habitual de encontros de homossexuais.

O “La Patada” divulgou a ação policial. O padre alegou que estava dando aulas de direção a seu acompanhante.

“Fui vítima das ofensas e falsidades terríveis que jamais foram proferidas contra mim”, declarou.

As ameaças de morte ao jornalista autor da denúncia não demoraram a ser feitas. “Pare de incomodar o padre Mínor e a Rádio María. Você é o demônio na forma de homem”, uma voz anônima avisou pelo telefone.

Em 6 de novembro de 2000, Parmenio Medina revelou que um grupo de estrangeiros pretendia assassiná-lo, mas não entrou em detalhes. Vários meios de comunicação, entre eles o jornal Al Día e a televisão REPRETEL reproduziram suas palavras. Quatro meses depois a ameaça foi direta. Com voz sombria, um desconhecido que se identificou como “Carlos” – tinha sotaque colombiano – avisou-lhe que parasse de investigar a Rádio María.

“Há pessoas que estão sendo economicamente afetadas. Há muito dinheiro e muitos estão sendo prejudicados com esses comentários”, afirma a gravação que a polícia encontrou na casa do jornalista.

Em 9 de maio de 2001, desconhecidos dispararam contra a casa de Medina. As balas atravessaram as janelas e se alojaram na parede da casa, em San Luis de Santo Domingo, província de Heredia (a cerca de oito quilômetros da capital). Ninguém ficou ferido.

O jornalista apresentou denúncia à OIJ contra um grupo de colaboradores da Rádio María como autores do ataque, entre eles o empresário Omar Chaves, conforme consta na denúncia 002-01-01521, que diz:

“Ele liga o ato criminoso a seu programa de rádio ‘La Patada’, no qual falou sobre Mínor Calvo, e diz que como resultado disso, ele (Parmenio Medina) recebeu várias ameaças de morte.

“Afirma ter certeza de que o ato foi realizado por Omar Chaves e seus comparsas, alegando que essa pessoa financiava a Rádio María. Esse problema é financeiro e ele quer que pareça um problema religioso”, detalha o documento policial.

A polêmica da Rádio María acabou em 28 de maio de 2001, quando o padre Calvo, sem o consentimento da Igreja Católica e secretamente, vendeu a emissora a um empresário cuja identidade permanece desconhecida.

A compra e venda foi feita através de um funcionário municipal que chegou ao apartamento de Calvo com ¢150 milhões (US$368.000) em espécie. A estação, adquirida pela sociedade El Papiro Inversiones Suramericanas, passou a se chamar “A paz do dial”.

Ao tentar descobrir mais a respeito dessas quantias, os investigadores concluíram que “o padre Mínor Calvo era o único responsável pelo negócio da rádio e não é possível determinar o destino do dinheiro arrecadado, já que a Rádio María foi fechada”. A polícia considera que as investigações sobre as suspeitas de malversação das finanças da emissora - que posteriormente abalaram a Igreja Católica costarriquense no pior escândalo da sua história – têm relação com o crime. (A administração desses fundos está sendo investigada.)

Dois meses depois (julho de 2001), ocorreu o atentado que tirou a vida de Medina. Ele foi atingido por pessoas dentro de um carro em movimento, a 75 metros da sua casa. Poderia ter sobrevivido, já que as balas não afetaram órgãos vitais (duas o atingiram no rosto e uma nas costas), mas uma das balas atingiu sua prótese dentária e desviou-se até a carótida (no pescoço). O jornalista morreu como conseqüência de perda de sangue.

O caso 681-INV-01

A polícia baseou sua investigação em testemunhos, na falta de evidência material, tais como o revólver ou o veículo Nissan utilizado pelos criminosos, objetos que ainda não foram encontrados.

As investigações deixaram lacunas que parecem aumentar, sobretudo pela qualidade das duas principais testemunhas do Ministério Público, que tinham alguma relação com os suspeitos do crime.

Uma é a namorada de César Dionisio Murillo – conhecido como “Nicho”–, apontado no relatório da OIJ de Heredia como o suposto líder do grupo de criminosos. O outro é o ex-agente da OIJ, com antecedentes criminais, que foi motorista de um dos suspeitos. Os nomes dos informantes são mantidos em sigilo por causa das ameaças de morte.

Eles testemunharam contra o colombiano John Gilberto Gutiérrez (apontado como suspeito contratado do grupo de criminosos), Adrián Chaves Matarrita (que seria o motorista que levou o grupo, depois de cometido o crime), e Luis Alberto Aguirre Jaime (um dos supostos criminosos).

Mencionaram também César Dionisio “Nicho” Murillo que não pôde ser chamado a depor porque morreu em maio de 2002 durante um sangrento assalto a banco. Outras testemunhas também fazem referência ao padre Calvo, mas o Ministério Público ainda não fez acusações contra ele, alegando que no momento ele está apenas ajudando-os nas investigações.

Notícia de um atentado

As testemunhas-chave do Ministério Público revelaram que o grupo arquitetou o crime em uma casa humilde de Cariari de Pococí, a 80 km da capital.

O autor intelectual – o arquivo da polícia não faz referências claras e diretas ao suspeito – teria contratado o colombiano John Gilberto Gutiérrez para que encontrasse um grupo que silenciasse Medina.

Os informantes afirmam ter ouvido as conversas nas quais o crime foi planejado. “Eles se reuniram na sala da minha casa e ouvi várias vezes que uma pessoa os havia contratado para matar um jornalista que estava causando muitos problemas. Na terceira reunião ouvi que se tratava de Parmenio Medina”, contou à polícia a namorada de César Dionisio “Nicho” Murillo.

O ex-agente da OIJ declarou que “Nicho disse que sabia que o que ia falar era muito delicado. Lembrou-lhes das ameaças e a advertência que havia feito a Parmenio Medina não haviam tido resultado, e por isso era necessário agir de outra forma (...)”. Garante, também, ter recusado uma oferta para participar do crime.

Dois meses antes do crime, o bando teria começado a vigiar a casa do jornalista. Em 7 de julho de 2001, dentro de um Nissan azul claro, modelo antigo e vidros polarizados, o grupo assassinou Medina quando ele já estava quase chegando em casa.

Até a data, as provas mais fortes pareciam recair sobre o nicaragüense Luis Alberto Aguirre Jaime, conhecido como “El Indio”. Cinco pessoas o reconheceram – através de reconhecimentos e fotografias – como a pessoa que dirigia o carro. Entre as testemunhas está um homem que o conhecia, com quem cruzou a 500 metros da casa de Medina na hora do crime. “No dia da morte do senhor Medina eu estava estacionado perto da sua casa, em frente a uma oficina (...) quando vi o Nissan e pude ver o motorista e vi que era o ‘El Indio’. Não falei nada antes porque estava com medo”, afirmou o informante.

Muitas perguntas, poucas respostas

Apesar das declarações das testemunhas, a investigação não avançou, há muitos testemunhos orais, mas nenhuma prova material. A defesa do colombiano John Gilberto Gutiérrez Ramírez – suposto contratado para o crime – atacou furiosamente o argumento das testemunhas ao apresentar cópia de um contrato que mostra que César Dionisio “Nicho” Murillo alugou a casa de Cariari (onde o crime foi planejado) até 10 de outubro de 2001.

Isso levantou muitas dúvidas sobre a versão das testemunhas-chave da promotoria: se a casa foi alugada até outubro, as reuniões para planejamento do crime não poderiam ter sido feitas ali.

Os suspeitos John Gilberto Gutiérrez Ramírez, Adrián Chaves Matarrita e Luis Alberto Aguirre Jaime continuam na prisão, enquanto a promotoria já tomou medidas contra o padre Mínor de Jesús Calvo, e as testemunhas afirmam – segundo conta no expediente do caso – que Calvo tinha interesses em silenciar o jornalista.

Em julho passado, agentes da OIJ revistaram a casa do padre na província de Cartago, a 22 km de San José. Pretendiam encontrar a máquina que serviu para redigir as ameaças de morte contra o jornalista Medina.

Tiraram também amostras de sangue para comparar seu DNA com a amostra de saliva que retiraram de um dos envelopes que continha ameaças. As análises descartaram o padre.

A igreja costarriquense mantém sua posição de não atribuir nenhuma paróquia ao padre Calvo, mas ele continua celebrando missa. Atualmente, viaja com freqüência para o exterior – com permissão do clero – para participar de várias atividades religiosas.

Impunidade

A investigação parece estar estagnada. O governo de Costa Rica não exigiu resultados. Três dos principais protagonistas abandonaram o caso, ou estão prestes a fazê-lo. Primeiro foi a diretora da OIJ, Lineth Saborío, que passou a ocupar – a partir de maio de 2002 – a primeira vice-presidência da República.

O procurador-geral Carlos Arias Núñez e a promotora chefe da investigação, Leda Méndez, estão prestes a sair e recusam-se, todos, a falar com a imprensa. Arias recorreu em setembro à aposentadoria, Méndez ocupará a partir de novembro uma nova função na Inspeção Judicial, repartição que zela pelo desempenho e disciplina dos servidores da Corte. Ambos, entretanto, ofereceram permanecer em seus cargos até que o caso seja solucionado.

A investigação será assumida pela promotora Gisele Rivera, funcionária de carreira que protagonizou brigas com seus funcionários. O próprio Conselho Superior do Poder Judiciário tentou em vão removê-la do cargo.

Quanto a descobrir e castigar o autor intelectual do homicídio, o próprio procurador-geral deixou claro que as possibilidades são mínimas. “Existem muitas barreiras para que um juiz aceite uma prova incriminatória se esta não for contundente. Em uma investigação há avanços e obstáculos. O Ministério Público investiga o assunto, mas temos restrições que fazem com que o caso não ande”, comentou.

A investigação realizada pela OIJ e pela promotoria não satisfaz os jornalistas. Uma Pesquisa sobre liberdade de imprensa e acesso a informação, no final de maio de 2002, patrocinada pelo jornal La Nación, de San José, foi clara: entre 81 jornalistas, 58 pensam que a morte de Parmenio Medina continuará sem punição. O instrumento de análise indica também que 73% considera que as autoridades não fizeram o necessário para resolver o crime, enquanto 92% garante que o crime tem relação direta com as denúncias de Parmenio Medina. Outros 88% consideram que o crime tem um impacto negativo sobre o jornalismo costarriquense.

É significativo que 57% reconheça sentir medo depois do atentado. Três jornalistas (Otto Vargas, do La Nación, Paola Hernández e Hellen Zúñiga, do Diario Extra) receberam ameaças de morte por suas publicações sobre o caso do colega Medina.

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