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Guillermo Cano Isaza
17 de dezembro de 1986

Caso: Guillermo Cano Isaza



RESUMO:

1 de setembro de 1997
Ana Arana

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O assassinato de Guillermo Cano Isaza, editor do jornal El Espectador, da Colômbia, por traficantes de drogas, em 1986, sacudiu as bases da sociedade colombiana. Os reis da droga já haviam assassinado o ministro da Justiça, o presidente do Supremo Tribunal e o chefe da polícia nacional, mas o assassinato de um editor de um jornal nacional, em um país no qual editores de jornal freqüentemente têm o mesmo peso que ex-presidentes, quebrou todas as regras.

Pablo Escobar Gaviria e o Cartel de Medellín viam o El Espectador como seu inimigo número 1. Cano havia assumido uma posição forte contra as drogas e era um firme defensor da extradição dos traficantes colombianos. Sentia que as instituições colombianas não eram fortes o suficiente para julgar e condenar poderosos reis das drogas.

Escobar e seus cúmplices davam festas comemorando sua vitória em Medellín, base do cartel, e em Letícia, uma cidade na fronteira entre Equador e Colômbia. Letícia era um importante ponto de passagem para a pasta de coca do Peru e da Bolívia.

A investigação do assassinato demorou nove anos. O grupo de advogados de Escobar conseguiu que o caso não fosse transferido para um sistema judiciário especial "sem rosto". Essa manobra legal permitiu que Escobar tivesse acesso às identidades dos juízes. Alguns deles foram forçados a aceitar suborno e outros foram mortos após rejeitarem suborno. Um juiz exilou-se; uma juíza teve o pai assassinado após ignorar avisos para que abandonasse a investigação, e uma terceira pessoa, um juiz do Supremo Tribunal de Bogotá, foi assassinada momentos após assinar um mandado de prisão contra Escobar.

Para o jornal, o assassinato foi apenas o início de uma campanha desleal feita por Escobar e seus homens. Como o jornal continuava suas reportagens provocadoras e incisivas sobre os traficantes de drogas, as ameaças de morte contra seus repórteres e editores continuavam. Os dois filhos de Cano, Juan Guillermo e Fernando, que dividiam os altos cargos editoriais do jornal, receberam várias ameaças de morte e deixaram o país por longos períodos durante os três anos que se seguiram ao assassinato. Quatro outros repórteres também foram forçados a deixar o país, após receberem ameaças de morte. A distribuição de jornais em Medellín e em outras áreas foi sabotada. E o escritório de Medellín foi fechado após o diretor de circulação e o gerente do escritório serem assassinados. Entre 1989 e 1990, o jornal foi entregue em Medellín com o uso de escolta militar. A circulação na cidade caiu quando os distribuidores foram avisados por homens de Escobar para que não entregassem o jornal. Os piores golpes vieram em 1989, quando Héctor Giraldo Gálvez, o advogado da família Cano que estava investigando o assassinato, foi assassinado friamente. Nesse mesmo ano, Escobar deu o que pensou ser o último golpe contra o jornal: bombardeou suas instalações.

Os procedimentos judiciais, que começaram em 1991, foram finalmente concluídos em um tribunal comum em 22 de agosto de 1995. Quatro pessoas foram condenadas de homicídio qualificado. Três tiveram sentenças de prisão. O quarto cúmplice acusado, Luis Carlos Molina Yepes, um obscuro comerciante e ex-confidente de Escobar que lidava com a conta bancária usada para pagar os assassinos de Cano, permaneceu fo ragidoaté ser preso, em 18 de fevereiro de 1997. Dois tra ficantes de drogas que foram os principais mentores, Gonzalo Rodríguez Gacha e Escobar, foram abatidos em 1989 e 1993, respectivamente. Outros, como Evaristo Porrás, estão cumprindo pena na prisão por enriquecimento ilegal.

A defesa recorreu à decisão tomada pela corte em 1995. E em 30 de julho de 1996, em uma decisão inesperada, o Supremo Tribunal de Bogotá revogou as sentenças e declarou que os três acusados eram inocentes. A corte confirmou a sentença contra Molina Yepes.

O CRIME

O assassinato de Guillermo Cano ocorreu quando a ira de Escobar contra o jornal colombiano estava prestes a explodir. Em 1986, o "Chefão", como Cano o chamava ironicamente em suas colunas, havia acumulado uma fortuna e se tornado um dos mais poderosos traficantes de drogas do mundo. Seu Cartel de Medellín era reponsável por 70% de toda a cocaína importada pelos Estados Unidos e Europa; seus ganhos eram assombrosos. Havia criado uma espécie de culto em Medellín,onde construíra casas e campos de futebol para os pobres. Mas seu reinado foi ameaçado pelo tratado de extradição entre Colômbia e Estados Unidos.

Escobar achava que a opinião pública era uma ferramenta importante para acabar com o tratado. Assim, gastou imensas quantias para apresentar o tratado como uma violação da soberania nacional da Colômbia. Conforme o cartel continuava sua campanha para eliminar o tratado de extradição, Cano golpe ava de volta, atacando a posição dos traficantes. Semana após semana, suas colunas criticavam aqueles que queriam anular o tratado. Seus pontos de vista tinham o apoio de artigos escritos pelos repórteres investigativos do El Espectador, mostrando o quanto o sistema judiciário na Colômbia era vulnerável para ser pressionado pelos traficantes.

Alguns colegas achavam que Cano estava obcecado com o comércio de drogas. Mas olhando para trás seus repórteres e outros jornalistas agora concordam que ele era um "profeta" e que via o início de um invasivo comércio de drogas e o perigo que representava para a democracia colombiana. "Ele tinha um incrível sentido para o que é notícia", disse Luis de Castro, o editor de assuntos legais de El Espectador, que trabalhou com Cano durante vários anos. Os repórteres ainda se lembram das piadas e da memória fotográfica que o caracterizavam.

Luis Gabriel Cano, o irmão mais velho de Guillermo que assumiu a direção do jornal após sua morte, diz que o irmão nunca falou nada sobre as ameaças. "Guillermo continuava sua luta contra os traficantes a qualquer custo", disse.

Os cabelos brancos de Luis Gabriel e seu jeito calmo lembram os funcionários do jornal seu chefe assassinado. "Guillermo sentia que não podíamos detê-los, que as gangues de drogas iriam querer governar, e é o que estamos enfrentando agora", disse, em seu espaçoso escritório. Este, semi-destruído no bombardeio de 1989, reflete muito da história do jornal, que teve sua primeira edição em 1887.

Cano iniciou sua guerra contra as gangues no início da década de 80. Seu primeiro golpe jornalístico contra Escobar foi uma estória publicada em 1983, que descrevia a prisão do rei das drogas devido à sua relação como tema. Na época um desconhecido ladrão de carros, Escobar foi preso em 1976 por esconder cocaína nos pneus de um carro roubado. Esse incidente é lembrado afetuosamente pelo pessoal do jornal como uma ilustração da esperteza e do instinto jornalístico de seu ex-patrão. Cano lembrou-se do rosto de Escobar quando viu o rei das drogas em cerimônia de posse no Congresso. "Já vi esse rosto antes", disse a um de seus editores. Pesquisou pessoalmente na biblioteca do jornal até achar a foto. E republicou a estória e a foto na primeira página do El Espectador. Isso acabou com a ambição de Escobar de entrar no Congresso e transformou Cano em um de seus piores inimigos.

Em 1986, o El Espectador assumia a liderança, na mídia colombiana, nos ataques contra os cartéis de drogas. O papel do jornal era dissecar, expôr, e investigar o tráfico de drogas e seus tentáculos na sociedade colombiana. Cano, com 61 anos, atacava violentamente os reis das drogas no editorial e nas novas páginas de sua coluna chamada "Libreta de Apuntes" (ou Apontamentos). Ganhou o Prêmio Nacional de Jornalismo na Colômbia em 1986 por suas colunas contra o tráfico de drogas e em favor do tratado de extradição. Em 16 de dezembro de 1986, foi entrevistado por um funcionário do Círculo de Jornalistas de Bogotá sobre os perigos do jornalismo. "O problema com nosso negócio é que a pessoa nunca sabe a noite em que não irá voltar para casa", disse.

No dia seguinte na quarta-feira, dia 17 de dezembro de 1986, Cano foi assassinado.

Naquele dia, Cano deixou o jornal logo após às sete da noite. Entrou em sua perua Subaru vermelha, que estava no estacionamento do jornal. Quando pegava a Avenida del Espectador, uma estrada principal em frente aos escritórios do jornal, o trânsito de vésperas de Natal estava insuportável. ‘Ônibus liberavam fumaças de diesel e colavam-se aos pára-choques dos carros. Cano tomou a avenida no sentido sul, e passou para a pista da esquerda, de onde iria dobrar para a outra pista, no sentido norte. Quando desacelerava o carro para dobrar, um dos dois rapazes esperando em uma motocicleta ilegalmente parada no meio da estrada, aproximou-se a pé do Subaru. Ao aproximar-se, o rapaz abriu um estojo preto, retirando uma pequena arma, uma MAC-10, como a polícia determinaria mais tarde. Era a arma favorita do Cartel de Medellín. Rapidamente alvejou Cano com oito tiros no peito. Tentando escapar, Cano, mortalmente ferido, apertou o acelerador, lançando o carro no meio do trânsito, em direção a um poste contra o qual o carro se chocou. Testemunhas disseram que os bandidos escaparam em uma moto com uma placa bem nítida: FAX 84.

Ninguém duvidou que a morte de Cano tinha sido ordenada pelos traficantes de drogas. A lista de mortos já era longa: mais de 50 juízes, o ministro da Justiça, Rodrigo Lara Bonilla, o juiz do Supremo Tribunal, Hernando Baquero Borda e o chefe da polícia de Narcotráfico, Jaime Ramírez Gómez. Todas essas vítimas tinham sido funcionários do gove rno que tomava m decisões judiciais importantes contra o Cartel de Medellín ou casos legais de extradição.

Os traficantes também mataram vários repórteres provincianos por terem escrito estórias sobre operações com drogas. Mas o assassinato de Cano abriu uma ferida muito maior na democracia colombiana. Seu assassinato foi uma mensagem aterradora para a sociedade da Colômbia: "ataquenos, e iremos retaliar". Este seria o prelúdio de assassinatos de três candidatos à presidência, e de outros jornalistas que foram alvo do Cartel de Medellín.

No dia seguinte ao assassinato, uma procissão funerária liderada pelo presidente Virgilio Barco e formada por milhares de colombianos chorosos, acompanhou o corpo de Cano ao cemitério Jardines del Recuerdo, nas proximidades de Bogotá. O Círculo de Jornalistas de Bogotá pediu aos meios de comunicação para não informar nesse dia, configurando a primeira vez que uma greve de jornais foi feita em memória de um jornalista assassinado. Sua morte estaria na primeira página de todos os jornais colombianos diariamente, assim como em jornais estrangeiros.

Respondendo ao assassinato, o presidente Barco declarou "estado de sítio". Também introduziu uma lei que exigia permissão especial para donos de motos e proibía a venda de motos possantes. Foi uma aceitação implícita de que as motos haviam se tornado uma ferramenta mortal usada por traficantes de drogas para assassinar colombianos.

Enquanto a maioria da Colômbia ainda estava de luto, Medellín, o centro não-oficial do cartel, estava eufórico com o assassinato de Cano. A polícia relatou comemorações nas comunas, ou bairros pobres, onde os pistoleiros do cartel moravam. Os chefões também estavam de bom-humor. Informantes diriam mais tarde à polícia que a reunião, na casa de Escobar no luxoso prédio El Mónaco, era para celebrar o assassinato de Cano e teve a presença de membros do alto escalão do Cartel de Medellín. Outra festa foi dada em Letícia, uma cidade de fronteira a cerca de 700 km ao sul de Bogotá, onde Evaristo Porrás e seus comparsas também estavam em clima de festa. Porrás dominava o principal porto de entrada para contrabando de drogas do Peru e da Bolívia.

Após o assassinato de Cano e de outros incidentes violentos em 1986, os colombianos pareciam querer esquecer que havia um crescente comércio de drogas. Assim, 1987 e 1988 foram anos difícies para o El Espectador, que continuou sendo o líder no confronto com os traficantes. A unidade investigativa do jornal continuou ativa, mas ameaças de morte a seus funcionários se multiplicavam. Nos três anos que se seguiram à morte de Cano, quatro repórteres foram forçados ao exílio. Os anúncios diminuíram, visto que os traficantes amedrontavam as companhias quanto à colocação de publicidade no jornal.

A campanha de desestabilização culminou com o bombardeio dos escritórios do jornal, em 1989. Os 130 quilos de dinamite explodiram bem cedo na manhã do sábado, dia 3 de setembro de 1989. Era pouco mais de seis e meia da manhã e a explosão ocorreu antes que os funcionários chegassem, destruindo o telhado do prédio, a entrada principal e afetando gravemente a produção do jornal. A bomba tinha sido escondida em um caminhão estacionado em frente da entrada principal do jornal minutos antes de explodir. Nesse mesmo dia, seis homens armados invadiram uma ilha particular, na área de Rosário de Cartagena, e incendiaram a residência de verão da família Cano.

A INVESTIGAÇÃO

A guerra iniciada pelo Cartel de Medellín e Escobar contra a Colômbia pairava sobre a investigação do assassinato de Cano. Os investigadores eventualmente descobri ram que o crime tinha sido ordenado por Escobar, Evaristo Porrás, o rei das drogas que dominava Letícia, e Rodríguez Gacha, também um líder no Cartel de Medellín. O assassinato foi executado por Los Priscos, a gangue de assassinos favorita de Escobar e envolvida em todos os grandes assassinatos e explosões ordenados por Escobar entre 1984 e 1990. A gangue foi dissolvida em 1990.

Os autores materiais eventualmente acusados pelo assassinato foram María Ofelia Saldarriaga, mãe do pistoleiro; Pablo Enrique Zamora, que dirigia a moto; Castor Emilio Montoya Peláez, intermediário na contratação dos sicários; Carlos Martínez, quem vendeu a motocicleta; Raúl Mejía e Luis Carlos Molina Yepes. Uma investigação posterior provou que Raúl Mejía era um homen que havia falecido e cujo nome havia sido usado ilegalmente pelos assassinos. Os outros, com exceção de Molina Yepes e Montoya, cumpriram pena em Medellín e Bogotá. Apesar de as autoridades colombianas afirmarem não conhecer o paradeiro de Molina Yepes, e de haver suspeitas de que este tenha subornado funcionários dentro do sistema judiciário, a polícia finalmente o capturou em 18 de fevereiro de 1997 em um restaurante em Bogotá.

Montoya nunca foi preso porque as autoridades não o encontraram dentro do período legal.

Escobar exerceu grande influêncua na investigação porque Cano foi assassinado dois anos antes de a Colômbia instituir o sistema judiciário "sem rosto", que protege as identidades dos juízes, testemunhas e investigadores judiciais. Quando o governo tentou transferir a investigação Cano para esse sistema, Escobar usou sua equipe de advogados caros para mantêlo no sistema judiciário usual.

Imediatamente após o assassinato, a investigação foi enviada ao Tribunal de Instrução Criminal N. 60, onde um juiz não identificado começou a receber ameaças de morte quase imediatamente. Amedrontado, pediu a seus superiores que transferissem o caso e o tirassem de sua jurisdição. O caso foi então transferido para o Tribunal N. 71, onde o juiz Andrés Enrique Montañez iniciou cora josamente a investigação.

Enquanto isso, a polícia em Medellín e Bogotá começou a receber uma enxurrada de pistas e de novas direções. Seis meses após o assassinato, em junho de 1987, receberam uma pista que começou a desvelar o mistério do assassinato: uma pista para investigar a casa de Medellín de Edison Harvey Hill Muñoz, um bandido identificado como um treinador para os pistoleiros do cartel. Quando a polícia chegou à casa de Hill Muñoz, iniciou-se um tiroteio. Hill Muñoz foi assassinado pela polícia. Uma busca levou a polícia à moto com a placa FAX 84.

Houve rumores, no submundo colombiano, de que a polícia estava chegando perto dos assassinos de Cano. Conforme a polícia chegava mais perto, os líderes da gangue assassina decidiam tentar ap agar algumas pegadas. A primeira ordem foi matar Alvaro Garcia Saldarriaga, o pistoleiro de 23 anos de idade, identificado por testemunhas para a polícia.

Alvaro García foi encontrado morto em uma margem de rio em 25 de maio de 1987. Seu corpo foi reivindicado por sua mãe, María Ofelia, uma mulher de 50 anos e analfabeta.

Em seis meses o juiz e os investigadores do Departamento de Segurança Administrativa (DAS) determinaram que o assassinato de Cano tinha sido parte de uma conspiração executada por Escobar e seus capangas. O juiz Montañez emitiu uma ordem de prisão contra Escobar; Porrás; Gilberto Ignacio Rodríguez, um ex-governador da região Amazonas; sua namorada, Dulcinea Cormo Galindo, que vivia em Letícia; um médico chamado Héctor Villegas, e vários bandidos da gangue Los Priscos.

Mas imediatamente após a decisão, o juiz Montañez decidiu tirar férias prolongadas. O caso foi passado temporariamente para o juiz Eduardo Triana.

Dulcinea Cormo, Villegas y Porrás foram desvinculados da investigação por falta de provas. O DAS determinou que Luis Eduardo Osorio Guizado, o "La Guagua", ou rato almiscarado, era o chefe da gangue.

No final de julho a polícia prendeu um suspeito surpresa. María Ofelia Saldarriaga, a mãe do pistoleiro, foi identificada como cúmplice. Seguindo um palpite, a polícia havia grampeado seu telefone após saber que ela havia depositado US$15.000 (ao câmbio oficial em 1986) em sua conta bancária. Uma noite ela ligou para Pablo Enrique Zamora Rodríguez, o "El Rolo", e o homem que executara o assassinato de seu filho. Disselhe para se livrar da motocicleta.

O cartel contin u ava sua furiosa campanha contra o jornal El Espectador. No dia 12 de abril de 1987, bandidos explodiram uma estátua de Cano, que havia sido recentemente erigida em um parque de Medellín. Os homens do cartel avisaram aos estabelecimentos comerciais de Medellín que parassem de distribuir o jornal, ou seriam atacados.

Os procedimentos legais continuaram até agosto de 1987, quando o terror chegou ao sistema judiciário. Em 1 de agosto a polícia envolveu-se em um tiroteio surpresa a dois quarteirões da casa do juiz encarregado do caso Cano. José Roberto Frisco Lopera, o mais temido membro da gangue Los Priscos, foi morto no confronto. Em um ataque subseqüente da seu quarto de hotel no centro da cidade, a polícia descobriu granadas, metralhadoras e mapas da área onde o juiz Triana morava. A campanha de intimidação foi também dirigida a pessoas que trabalhavam com o juiz. As pessoas que ligavam ofereciam a esses funcionários US$20.000 por informação, ou "Você irá se arrepender". Em 2 de agosto, o juiz Triana corajosamente emitiu um mandado de prisão para Saldarr i aga e El Rolo, estendendo o período de prisão. Mas em 5 de agosto, vencido pelas ameaças, partiu para a Europa.

Em 15 de agosto, o caso tinha sido transferido para o juiz Montañez, que havia voltado à Colômbia. Ele o rejeitou, argumentando que havia saído de sua jurisdição, e o enviou ao Supremo Tribunal. Sem que as autoridades soubessem, emissários do cartel já haviam subornado o juiz Montañez, conforme ficaria claro em subseqüentes decisões. O Supremo Tribunal rejeitou o caso e mandou que ele o assumisse. Ele se recusou a fazê-lo.

O caso estava agora sem um tribunal permanente. As investigações continuaram sob vários juízes diferentes. Rubén Darío Mejía e Alejandro Naranjo Rubián, dois dos mais conhecidos advogados de Pablo Escobar, entraram com uma petição para tentar a libertação de Saldarriaga e El Rolo.

Eventualmente, o juiz Montañez foi forçado a assumir o caso de volta. Em dezembro de 1987, dias antes do primeiro aniversário do assassinato, o juiz indiciou El Rolo, María Ofelia Saldarriaga e vários membros de Los Priscos. Também identificou Carlos Martínez Hernández, Antonio Ochoa e Raúl Mejía como os assinantes das contas bancárias utilizadas para pagar os assassinos.

Mas o juiz Montañez também retirou todas as acusações contra os autores intelectuais: Escobar, Porrás e Rodríguez Gacha.

As autoridades ainda não suspeitavam das ações do juiz. Então, no meio de dezembro, ele decidiu sobre um outro caso de destaque. Ignorando regras especiais, libertou o traficante Jorge Luis Ochoa, que estava cumprindo pena de 36 meses de prisão por importação de touros sem pagamento dos impostos. Ochoa havia sido extraditado da Espanha para a Colômbia, em uma manobra legal suspeita, após os Estados Unidos terem pedido sua extradição. Ele era suspeito de operações de contrabando de drogas através da Nicarágua e era um possível suspeito no assassinato de Barry Seal, um informante americano morto por traficantes de drogas na Louisiania, em 1986. O governo colombiano estava sendo pressionado para manter Ochoa na prisão, e qualquer decisão legal a respeito tinha primeiro que ser confirmada pela administração nacional da prisão. Montañez ignorou todos os avisos sobre o caso. Após sua decisão ele foi demitido e a polícia emitiu um mandado de prisão contra ele. Pagamentos do cartel foram descobertos em suas contas bancárias. Iniciou-se também uma investigação administrativa do juiz. Mas ele nunca foi preso, e a investigação foi interrompida, sem explicação, logo depois de ter sido iniciada.

O caso foi transferido um mês depois para a juíza Consuelo Sánchez Durán, chefe do Tribunal Investigativo N. 87. Ela emitiu imediatamente um mandado de prisão contra Molina Yepes, um comerciante conhecido por seu envolvimento com lavagem de dinheiro. Molina Yepes estava usando suas delicatessens em Medellín e escritórios de câmbio de moedas como fachadas para Escobar. O DAS levou Molina para um centro de detenções temporárias, para interrogatório.

O tribunal soube, através do réu Carlos Martínez Hernández, como Molina Yepes administrava as contas para pagar os assassinos. Para abrir uma conta, por exemplo, Martínez Hernández depositou US$ 1 milhão na filial de Medellín do Banco de Crédito e Comércio Internacional (BCCI). O nome na conta era o de Guillermo Martínez, e incluía um segundo assinante autorizado, um tal de Raúl Mejía. Investigadores souberam mais tarde que Martínez e Mejía eram os nomes de dois homens, agora mortos, cujas identidades haviam sido usadas por Molina Yepes para desviar as investigações. O cheque de María Saldarriaga veio dessa conta.

Mais viradas revoltantes contin u avam a ocorrer. Enquanto estava em prisão temporária na sede do DAS, Molina Yepes teve autorização para sair, desacompanhado, e comprar cigarros. Molina Yepes escapou. O diretor da sede da DAS em Medellin foi suspenso e investigado após a fuga. Mas, um ano mais tarde, as autoridades reintegraram-o ao seu antigo posto. Nemhuma acusação foi feita.

A investigação Cano era um dos muitos problemas do sistema judiciário colombiano. Mais de 200 juízes e funcionários judiciais foram assassinados, milhares foram ameaçados, e o cartel penetrou até o núcleo do sistema judiciário. O governo colombiano estava começando a considerar um novo sistema, introduzindo métodos que protegeriam seus funcionários judiciais. Mais membros do ramo judiciário seriam mortos antes que um novo sistema surgisse.

Entre março e agosto de 1989, a juíza Consuelo Sánchez Durán reconstruiu o caso legal contra os assassinos intelectuais de Cano: Escobar, Rodríguez Gacha, Porrás e Molina Yepes. Sua investigação da gangue Los Priscos trouxe mais evidências incriminatórias contra os autores intelectuais. Ao identificar a gangue como o mais importante grupo de executores, ela concluiu que tinham sido também responsáveis pelo assassinato, em 1984, do ministro de Justiça, Rodrigo Lara e do crime, em 1985, do coronel Jaime Ramírez, chefe da polícia de narcotráfico.

Foi nessa época que o grupo armado do cartel, os Extraditáveis, começou a expedir mensagens públicas a cada vez que um carro-bomba ou assassinato ocorria. Também colocou em sua mira funcionários do governo que tentaram reprimir as atividades de tráfico de drogas. A juíza Sánchez Durán recebeu o seguinte aviso: "Você irá se arrepender se implicar Pablo Escobar no assassinato de Guillermo Cano". E depois o slogan: "Preferimos a tumba na Colômbia do que a prisão nos Estados Unidos". A juíza Sánchez Durán ignorou o aviso, expedindo uma ordem para que se iniciassem os procedimentos de condenação contra Escobar e outros. O julgamento começou no segundo aniversário do assassinato de Cano, em 17 de dezembro de 1988.

Enquanto isso, o presidente Barco declarava "estado de emergência", e instituía "la justicia de orden público", ou sistema judiciário "sem rosto", acabando com todos os julgamentos com júri e mantendo as identidades de investigadores, juízes, e promotores confidenciais em casos de terrorismo e drogas.

O caso Cano continuou, entretanto, no sistema judiciário regular. A juíza Sánchez Durán foi escalada para começar o julgamento de Escobar, mas uma suposta doença de um advogado de defesa forçou o adiamento do julgamento até janeiro de 1989.

Os eventos de 1989 ofuscaram quaisquer progressos legais. Escobar e os Extraditáveis iniciaram uma campanha maciça de violência. Autoridades descobriram uma relação de trabalho entre grupos anti-comunistas paramilitares e o Cartel de Medellín, incluindo mercenários israelitas e britânicos que haviam treinado os pistoleiros do cartel em uso de técnicas explosivas. Uma onda de carros-bomba e assassinatos deixaria três candidatos à presidência e mil colombianos mortos.

Escobar não se esqueceu da família Cano. Um forte golpe veio em março, quando os homens do cartel assassinaram Héctor Giraldo Gálvez, o advogado da família Cano e um colunista bastante respeitado. Ele foi morto a tiros próximo à sua casa, no bairro de classe alta de Chico, em Bogotá.

A juíza Sánchez Durán tentou iniciar o julgamento em maio, mas a polícia anunciou que havia descoberto planos do cartel para aterrorizar o júri. O julgamento foi adiado. A equipe de defesa pediu ao tribunal para julgar Escobar e os outros supostos autores intelectuais separadamente dos pistoleiros. A juíza Sánchez Durán, recusando o pedido, enviou o pedido ao Supremo Tribunal.

Em 16 de agosto, o juiz do Supremo Tribunal, Carlos Valencia, manteve a decisão da juíza Sánchez Durán de julgar todos os réus em conjunto. Ele assinou a ordem e recusou todos os recursos da defesa. Logo depois saiu para ir para casa. Os bandidos do cartel o mataram enquanto esperava um ônibus no centro de Bogotá. Apenas uma pessoa sabia que ele havia assinado a ordem; de alguma forma, o cartel havia penetrado no sistema.

No dia seguinte, Escobar ordenou o assassinato do candidato à presidência Luis Carlos Galán, do Partido Liberal. Ele foi alvejado em 17 de agosto durante a campanha eleitoral. O presidente Barco decidiu-se por mais movimentos anti-drogas e introduziu um sistema judiciário mais rigoroso, para proteger a identidade dos juízes.

A decisão chegou tarde demais para o caso Cano. No final de 1989, a corte combinou o caso Cano com o do juiz do Supremo Tribunal, Hernando Baquero Borda, também assassinado em junho de 1986 por Escobar.

Por mais de um ano, os procedimentos judiciais nos dois casos foram interrompidos, enquanto a Colômbia mergulhava em uma séria crise da ordem pública. Um Escobar irado havia declarado guerra ao país.

Finalmente, em 21 de novembro de 1990, a corte decidiu reiniciar os trabalhos. Ameaças contra o júri interditaram a decisão. O promotor do estado tentou transferir o caso para os juízes sem rosto. Mas a equipe de defesa de Escobar lutou e ganhou a moção. O caso foi transferido para o Supremo Tribunal N. 29.

Nos cinco anos seguintes, o progresso do caso foi retardado por recursos e contra-recursos. Em julho de 1991, Escobar se entregou, e o caso foi transferido para Medellín. Três meses depois, o caso voltou à Bogotá, após o recémnomeado procurador-geral Gustavo de Greiff decidir julgar todos os casos Escobar em Bogotá.

Um ano depois, em 1992, Escobar escapou da prisão. Fugitivo por vários meses, acabou sendo encontrado por equipes especiais da polícia anti-narcóticos colombiana, com o auxílio dos agentes da inteligência americana. Foi ab atido quando tentava escapar.

Em agosto de 1995 o julgamento foi reiniciado. Todos os autores intelectuais, com exceção de Molina Yepes, estavam mortos ou cumprindo longas penas por outros crimes.

Em 6 de outubro de 1995, o tribunal declarou María Ofelia Saldarriaga, Pablo Enrique Zamora, Luis Carlos Molina e Carlos Martínez Hernández culpados de conspiração para execução de um crime. Todos foram condenados a 16 anos e 8 meses de cadeia.

Um ano mais tarde, em 30 de julho de 1996, o Supremo Tribunal de Bogotá revogou a sentença de 1995 e determinou que Saldarriaga, Zamora e Martínez era m inocentes. A sentença contra Molina Yepes foi confirmada. Os juízes decidiram que Molina Yepes deveria ser julgado como um autor intelectual direto do assassinato.

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