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Jorge Carpio Nicolle
3 de julho de 1993

Caso: Jorge Carpio Nicolle



Investigação anterior:

1 de setembro de 1997
June Erlick

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9-02-2010


RESUMO

Quatro anos após o assassinato de Jorge Carpio Nicolle, o contexto de provável impunidade em seu caso dife re da impunidade do passado. Enquanto ameaças e intimidação ainda estão na ordem do dia, o caso está sendo conduzido segundo a lei constitucional, apesar de a lei poder ser manipulada para dar lugar a encobrimentos. Desde dezembro de 1996 o país caminha para a paz após uma guerra de 35 anos que tirou a vida de 140.000 pessoas.

Apesar de ser verdade que a paz contribui para o fortalecimento das instituições democráticas, pode ter um impacto negativo no caso Carpio se a anistia for aplicada a todos os crimes cometidos durante o periodo e não apenas aos considerados parte do confilto bélico interno.

Alvaro Arzú, que assumiu a presidência da Guatemala em janeiro de 1996, é o quarto presidente consecutivo a tentar controlar o Exército e terminar com a impunidade. No momento, há motivos para otimismo e pessimismo.

No lado do otimismo, o Quinto Tribunal de Recursos, em Jalapa, declarou em 23 de janeiro de 1996 que os envolvidos em um massacre de 11 pessoas em Xamán, Alta Verapaz, poderiam ser julgados em um tribunal civil, e não em um tribunal militar. A imprensa e os ativistas de direitos humanos consideram isso uma vitória. Mas os três juízes envolvidos, Augusto Eleázar, Arnoldo Cano López e Genaro Ovidio Madrid, receberam ameaças de morte e pediram proteção ao Supremo Tribunal.

Como no caso Carpio, os esforços para o estabelecimento de uma justiça institucional através dos tribunais têm sido acompanhados de táticas de terror e intimidação. No caso bastante difundido da suposta execução do comandante de guerrilha Efraín Bámaca Velásquez, marido da advogada americana Jennifer Harbury, o ex-especialista da inteligência Rodolfo Hernández Coronado revelou aos tribunais a localização do corpo e a estrutura da Diretoria da Inteligência Militar.

Por sua vez, a imprensa parece ter se tornado mais forte e mais agressiva em suas reportagens sobre os desenvolvimentos do sistema judiciário.

O jornal Siglo Veintiuno, da Cidade da Guatemala, por exemplo, publicou uma longa entrevista em fevereiro de 1996 com um especialista exilado do Exército que acusava certos generais e coronéis como cúmplices em assassinatos, tráfico de drogas e roubo de carros. A acusação mais séria contra o general Marco Antonio González Taracena foi por ter sido o mandante do assassinato de Epaminondas Gonzáles Dubón, juiz do Supremo Tribunal.

Editores e repórteres do Siglo Veintiuno receberam subseqüentemente ameaças de morte, mas continuaram perseguindo a história. A Associação dos Jornalistas da Guatemala condenou veementemente as ameaças de morte.

"A sociedade guatemalteca paga todos os dias, com sangue, pela falta de um sistema de segurança que garanta as vidas e as propriedades dos guatemaltecos. Não se pode negar que reina a mais absoluta impunidade, e cria uma crise na qual ninguém é preso, acusado ou levado a julgamento por essas ações."

"As ameaças contra a integridade e a vida de jornalistas guatemaltecos, além de serem deploráveis e covardes, colocam em sério risco o frágil estado de legalidade e o fraco avanço do processo de democratização na sociedade guatemalteca", declarou a associação.

O CASO

Os pesados brincos de ouro que Marta Arrivillaga de Carpio sempre usa são um testemunho silencioso do muro de impunidade que ainda existe na Guatemala.

Também o são os nomes de testemunhas e uma fita de vídeo altamente secreta que permanece, por ora, em um cofre de banco em algum lugar da Guatemala.

Marta de Carpio estava usando os caros brincos de ouro na noite de julho de 1993 quando homens armados fizeram uma emboscada e mataram seu marido, Jorge Carpio, e mais três outras pessoas. Eles levaram seis itens, incluindo a quantia em quetzal equivalente a menos de US$50, um par de óculos escuros, duas facas de bolso e um relógio barato. Mas deixaram jóias valiosas entre elas os brincos de ouro, aparelhos eletrônicos e outros itens no valor de milhares de dólares.

Um bando de 25 a 30 homens forçou os dois veículos a parar. Usavam máscaras negras de esqui e portavam várias armas, incluindo armas brancas, M-16s e Galils. A emboscada ocorreu no quilômetro 141 da estrada que liga Los Encuentros e Chichicastenango, na região montanhosa do departamento de Quiché, em um local conhecido como a ponte Molino El Tesoro. Os homens armados aproximaram-se do primeiro furgão, dirigido por Ricardo Sanpedro. Carpio estava viajando com sua mulher, Mario López, Juan Vicente Villacorta e Sidney Shaw. Sanpedro e López tiveram ordens de descer do carro e entregar suas armas. Então Jorge Carpio foi ameaçado pelo nome.

Um segundo grupo cercou o outro carro, uma caminhonete, e ordenou que os três ocupantes saíssem. Os assaltantes então atiraram e mataram Alejandro Avila e Rigoberto Rivas, e feriram seriamente Sidney Shaw Jr., de 16 anos.

Os homens que cercavam o furgão onde Carpio se encontrava procuraram Juan Vicente Villacorta. Como outro carro se aproximava na curva, eles atiraram diretamente em Villacorta, e também contra o carro que se aproximava. O aparente líder do grupo deu então a ordem para matar Carpio. Um homem alvejou-o três vezes na virilha e no glúteo esquerdo. Morreu no hospital, em Santa Cruz del Quiché, algumas horas depois. Sidney Shaw e Richard San Pedro, dois dos sobreviventes, chegaram à sede da polícia em Chichicastenango, mas ninguém os ajudou.

Marta de Carpio esquivou-se dos tiros e sobreviveu. Insiste que os atacantes eram membros de uma Patrulha de Defesa Civil, conhecida por seu acrônimo espanhol PAC. Essas patrulhas, apoiadas por um Exército regular, são acusadas por vários grupos de direitos humanos locais e internacionais por muitos crimes extrajudiciais na Guatemala.

Ao deixarem a sede da polícia, Shaw e Sanpedro foram encontrados por Manolo Rodríguez, do Partido Nacional Centro União, que estava dando carona a alguns soldados. Outro grupo de soldados pegou uma carona até o local do crime no furgão de Shaw para prestar socorro aos feridos.

Como não havia tropas patrulhando naquela noite, os homens teriam que se vestir, se calçar e deixar a sede do Exército para encontrar as vítimas na delegacia. O general Víctor Velázquez Echeverría, então chefe da Zona 20, área na qual Carpio foi morto, disse que em circunstâncias especiais as tropas poderiam ter decidido por elas mesmas ir ao local do crime sem consultar a sede.

Essas tropas foram a primeira autoridade governamental a chegar a Molino El Tesoro, e entretanto não há nada registrado sobre a ação na zona militar. Os autores da ação perguntaram insistentemente o nome do tenente e dos membros de sua tropa, mas esses nunca foram revelados.

López e Sanpedro acharam uma bala sob o assento da caminhonete e a entregaram a um capitão da inteligência do Exército. A bala desapareceu e nunca foi entregue às autoridades governamentais competentes.

A polícia começou a vasculhar o local do crime na manhã de 4 de julho. Mais tarde, nesse mesmo dia, foram realizadas autópsias nas quatro vítimas na Cidade da Guatemala. Foram feitas fotos coloridas dos ferimentos das vítimas. Os relatórios das autópsias e as fotos desapareceram.

Durante o funeral, na noite de 4 de julho, o coronel Otto Pérez Molina, chefe do comando presidencial do Exército, (Estado Mayor Presidencial), e o coronel Ricardo Bustamante, chefe dos Arquivos do Exército, abordaram López. Ele foi levado a uma pequena sala e interrogado. Os outros sobreviventes também foram interrogados do mesmo modo não-oficial pelo major Mario V. Gómez Ayala e pelo comissário Carlos Marroquín.

Durante o ataque, López foi chutado por um dos agressores, cuja bota deixou marcas em suas calças. Carlos Palacios de la Cerda, um consultor do então presidente Ramiro de León Carpio, mais tarde pediu e recebeu as calças de López. Estas nunca mais foram vistas. Dois dias depois o ministro do Interior Arnoldo Ortiz Moscoso prometeu que os criminosos seriam presos em 48 horas. Nesse mesmo dia, o próprio presidente De León Carpio anunciou a prisão de dois membros da gangue chamada Churuneles. Descreveu-os como criminosos comuns. Em 7 de julho, 11 membros da Churuneles já haviam sido presos.

Declarações oficiais sugeriram que o grupo inteiro era responsável pelo ataque a Carpio. Mas, segundo a polícia, os Churuneles possuíam apenas armas de calibre 22 e uma arma de brinquedo. Carpio e seus três companheiros foram assassinados por armas de calibre 45 e de .9mm.

Nenhum dos itens roubados da caravana de Carpio foi encontrado de posse dos Churuneles.

As armas dos Churuneles nunca foram enviadas ao tribunal da jurisdição de Santa Cruz de Quiché; as armas nunca mais apareceram. Testes de parafina feitos nos membros da gangue deram resultado negativo. Isso não foi revelado até que a família de Carpio insistisse para que os resultados fossem divulgados.

Apenas quatro membros dos Churuneles foram acusados do crime. Os outros foram acusados apenas por porte de arma e assalto.

Durante os meses que se seguiram à morte de Carpio, evidências foram perdidas ou adulteradas; testemunhas intimidadas; juízes, promotores públicos e os autores da ação ameaçados. Entretanto, novas evidências foram encontradas, segundo entrevistas altamente confidenciais realizadas pela SIP na cidade de San Pedro Jocopilas, no departamento de Quiché.

Até o momento, a apresentação de novas evidências à corte está proibida. O julgamento, sendo conduzido sob o antigo código legal da Guatemala, baseado no antigo sistema judiciário europeu, já passou do estágio de introdução de evidências. Para admitir novas provas, os autores da ação tenta ram voltar o julgamento para o estágio de evidências. Citaram um erro judicial na permissão de que a acusação de ferimentos em um dos passageiros fosse transformada em "tentativa de assassinato" sem que se desse aos acusados a oportunidade de se defenderem de novas acusações.

A decisão foi tomada pelo juiz substituto Aníbal Rodríguez Alfaro enquanto o juiz do Primeiro Tribunal Criminal, Carlos Villatoro Shunimann, estava de férias, em janeiro. Villatoro disse mais tarde que concordava com a decisão e respeitava o direito do juiz substituto em tomá-la. Villatoro parecia estar bloqueando a apresentação de novas evidências, que incluem testemunhos secretos e refutação de álibi.

Karen Fischer, nora de Carpio, chamou a decisão de uma "manobra legal" para obstruir o caso. O promotor público Abraham Méndez chamou a decisão de "totalmente negativa". E acrescentou: "O assassinato de Jorge Carpio não foi obra de criminosos comuns, mas o resultado de uma conspiração com uma série de aspectos que pretendo revelar; é necessário, portanto, aprofundar o caso e não emitir vereditos apressados".

A nova evidência apontava os patrulheiros como suspeitos materiais e fornecia a fundação para que se acusasse o Exército e a G-2, o serviço de inteligência, como autores intelectuais do assassinato de Carpio.

O principal suspeito sob a evidência anterior era Juan Acabal Patzán, que espera julgamento por outra acusação de assassinato. Dois outros, originalmente presos como "bandidos comuns", continuam presos. Dez patrulheiros civis estão em liberdade sob fiança.

Em um encontro em março de 1994, o presidente León Carpio disse a Marta de Carpio e a Karen Fischer que os exames feitos pelos especialistas em balística do FBI e do México mostravam que a arma confiscada de Patzán, um patrulheiro civil, correspondia à arma que havia matado Carpio e seus companheiros. Marta de Carpio disse que isso era impossível, pois o mesmo homem não poderia ter dado todos os tiros em dois veículos separados, matando quatro homens e ferindo um rapaz com as mesmas balas.

Mais de um ano depois, em maio de 1995, as duas mulheres tiveram um segundo encontro com o presidente León Carpio, o ministro do Interior e o procurador-geral. Souberam que o tambor e o gatilho da arma de Patzán haviam sido trocados.

O juiz Villatoro Shunimann, entrevistado pela SIP, comentou: "Você tem que aceitar o espírito da lei; eu apenas aplico as leis". Ironizou a mudança da acusação de ferimentos para a de tentativa de assassinato no caso do rapaz ferido, Sydney Shaw Jr., sem que se dê aos acusados o direito de defesa dessas acusações.

O juiz insistiu: "Existe um processo. Existe um sistema. E o sistema diz que tudo tem que ser feito em um determinado tempo. E o período para apresentação de evidências já passou, lamentá velmente; é triste, mas às vezes existem coisas que não podemos fazer por que o sistema não nos permite’’.

Villatoro disse que não foi ameaçado ou subornado. Na verdade, disse que é um dos poucos juízes com a sorte de não ter sido ameaçado.

Apesar da recente mudança no governo, continua na Guatemala a atmosfera geral das intimidações e ameaças. O promotor público tem recebido repetidas ameaças e quer abandonar o país com sua família assim que o julgamento terminar. Novas testemunhas temem por suas vidas e também planejam se mudar após testemunharem. Seus nomes estão protegidos em um cofre bancário, mas tanto os autores da ação quanto o procurador-geral reconhecem que não poderão protegê-las para sempre.

As novas evidências sustentam a teoria de que o assassinato de Carpio foi politicamente motivado. Carpio, um líder do Partido Nacional União Central (UCN), opôs-se à anistia para soldados e civis envolvidos no chamado "autogolpe" instigado pelo ex-presidente Jorge Serrano Elías, em 25 de março de 1993.

Segundo seus familiares, Carpio recebeu vários telefonemas ameaçadores depois que seu partido se recusou a fornecer apoio à anistia. Afirmam que Carpio lhes revelou ter recebido telefonemas de José Domingo Samayoa, então ministro da Defesa, exigindo que usasse o peso de seu partido em favor do projeto de lei da anistia. Carpio recusou-se a mudar a linha editorial de seu jornal para apoiar a anistia, e escreveu abertamente sobre as ameaças no El Gráfico.

Samayoa não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pelo jornal Prensa Libre em nome da SIP.

Ativistas de direitos humanos, assim como a imprensa e os observadores diplomáticos, também pensam que a morte de Carpio tenha sido um aviso disfarçado para seu primo, Ramiro de León Carpio, que foi nomeado p residente após a saída forçada de Serrano. De León Carpio havia sido o procurador-geral para direitos humanos da Guatemala e era altamente respeitado nos círculos dos direitos humanos. Mas com a morte de seu primo, ele pareceu ter dado para trás em sua postura agressiva. Também insistiu, para consternação de sua família, que o ataque havia sido obra de criminosos comuns.

Novas evidências apontam fortemente para a participação de patrulheiros da defesa civil dirigidos por autoridades militares; pelo menos sugerem um encobrimento feito pelo Exército.

AS PATRULHAS

As Patrulhas de Defesa Civil, uma milícia pró-militar, foram iniciadas durante o governo de Romeo Lucas García e reforçadas fortemente durante o governo de Efraín Ríos Montt. Relatórios inteiros sobre direitos humanos têm sido escritos sobre elas. A Patrulha de Defesa Civil em San Pedro Jocopilas já está sendo processada por questões de direitos humanos pelo Escritório Episcopal de Direitos Humanos pela execução de massacres.

Uma freira na poeirenta cidade de San Pedro Jocopilas disse ter encontrado a cidade envolta em um "silêncio terrível" quando aí chegou, há quatro anos. Seu bairro estava repleto de viúvas, vítimas da violência das Patrulhas de Defesa Civil e do Exército.

"Freddy" Armando López Girón é o prefeito de San Pedro Jocopilas e irmão de Carlos López Girón, o ex-governador de Quiché. A polícia acusa o ex-governador de ter uma participação direta no assassinato de Carpio e seus três colegas.

Recentemente eleito em uma vitória política esmagadora nessa cidade predominantemente democrátacristã, "Freddy" López parece tudo menos o xerife local. Articulado e afável, ele é, na verdade, o diretor da escola local e parece gostar mais de falar sobre a teoria do desenvolvimento do que de defender a lei e a ordem.

Ele minimizou o atual papel das Patrulhas de Defesa Civil, a firmando que estas agora são inteiramente voluntárias e estão em transição para um poder de auxílio à comunidade. Defendeu ardentemente a inocência de seu irmão, assim como a do ex-prefeito da cidade, também acusado no caso Carpio. Recusou-se a dizer se acreditava na inocência de outros patrulheiros da defesa civil.

"Freddy" López não acredita que o assassinato de Carpio tenha sido obra de criminosos comuns, e ele conhece bastante a região. A credita que houve algum motivo político por trás do crime, mas não acredita que seu irmão estivesse envolvido. Caracteriza as evidências como "extremamente fracas" e pede uma nova investigação, possivelmente auxiliada por uma agência investigativa de outro país como, por exemplo, o FBI.

Um retrato de Vinicio Cerezo, o presidente da Guatemala há três mandatos, ainda está colocado na parede atrás da escrivaninha de "Freddy" López como uma lembrança do "processo de democratização", iniciado em 1985. Lopez observou que Cerezo também era um democrata-cristão e mostrou com orgulho a bandeira de seu partido sobre sua escrivaninha. Disse que seu irmão e os outros patrulheiros estavam sendo falsamente incriminados por membros da UCN da cidade, o partido de Carpio. Apesar de não haver nenhuma evidência sustentando essa tese, todos os patrulheiros da defesa civil acusados eram democrata-cristãos.

Ao contrário de outras partes do sul de Quiché, onde milhares de homens têm se recusado a continuar patrulhando, esse poder em San Pedro Jocopilas continua forte. Quando as colunas de guerrilha desapareceram da parte sul das planícies, vários membros, apoiados por organizações internacionais de direitos humanos e pelo Conselho de Comunidades Étnicas Runujel Junam (CERJ), começaram a insistir no direito de não patrulhar, com base na constituição de 1985.

De acordo com um estudo realizado pela Procuradoria-Geral para Direitos Humanos, em colaboração com a Agência Espanhola para Cooperação Internacional, as patrulhas são mais fortes em Quiché: "A cidade foi fortemente afetada pela guerra, e grande parte de sua população foi dispersada. A população que ficou é bastante hostil. Os comitês de defesa civil têm uma forte presença de controle social e limitam a presença de agentes de fora".

Um outro estudo sobre violência institucional na Guatemala, feito por Joel Solomon, do Centro Robert F. Kennedy para Direitos Humanos, descobriu que apesar de os líderes das Patrulhas de Defesa Civil serem civis, mantinham um "contato rotineiro" com oficiais militares. Encontros, segundo as descobertas de Solomon, freqüentemente realizados em bases militares.

"Os patrulheiros da defesa civil em San Pedro Jocopilas confirmaram as suspeitas de que os membros da patrulha assumem o papel de policiais, juízes, júrie carrascos, mesmo no caso de criminosos comuns", Solomon escreveu.

IRREGULARIDADES E OBSTRUÇÕES

Marta de Carpio, a viúva, testemunhou que durante o ataque um dos agressores gritou, "Matem Jorge. Matem Carpio". Ainda não se sabe se poderá ser definitivamente provado que os homens que atacaram Carpio eram criminosos comuns ou se eram membros de uma patrulha civil. Mas as irregularidades governamentais e obstruções no caso Carpio podem ser constatadas.

Em julho de 1995, o Tribunal Interamericano de Direitos Humanos determinou que o governo da Guatemala tinha que apresentar um relatório mensal sobre o status do caso Carpio e fornecer proteção à família e ao promotor. Mas mesmo os relatórios emitidos pelo departamento de direitos humanos da presidência mostram a ambivalência do governo em relação ao caso.

Um recente relatório, por exemplo, do departamento de direitos humanos, reclamava que a família Carpio não estava cooperando em dar depoimento sobre ameaças. Karen Fischer, irada, pediu uma carta do governo afirmando que ela estava cooperando e mantendo comunicação semanal e o governo informado.

Em uma entrevista à SIP, o então procurador-geral Ramsés Cuestas revelou sua própria ambivalência quanto ao caso.

Em princípio ele pareceu fazer uma forte declaração ao afirmar: "Houve três ou quatro chefes da 20ª Zona Militar (responsável pela área onde Carpio foi morto) desde aquela época. A meu ver, isso indica que o assassinato não foi obra de apenas uma pessoa, mas de natureza institucional. Persiste a atitude de proteção ou apoio a encobrimento".

E acrescentou: "Poderia ser institucional. Mas pode também ser que as pessoas diretamente responsáveis [pelo crime] estejam na parte de baixo e na parte do meio da cadeia de comando. Essa equipe não mudou; então, tal vez envolva os novos funcionários quando eles chegam".

Ainda não está claro que atitude o novo governo civil irá adotar em relação ao caso Carpio. Até o momento, a administração do presidente Alvaro Arzú tem mostrado dis-posição de realizar mudanças no comando do Exército. Mas permanece uma questão aberta se seu governo, vitorioso por uma margem estreita nas últimas eleições, pode se manter independente das tradicionais pressões militares.

Em uma entrevista de duas horas de duração com a família Carpio, em 15 de fevereiro de 1996, Arzú disse a Karen Fischer e a Marta de Carpio que examinaria os documentos judiciais. Após ser questionado por Fischer, acrescentou que recomendaria que a investigação fosse estendida, mas disse que não poderia oferecer uma nova investigação.

Quando Arzú disse que o ramo executivo não era responsável, Fischer respondeu que a presidência poderia fornecer os seguintes itens para investigação: os nomes dos soldados que primeiro investigaram o ataque; o relatório da 20ª Zona Militar; a captura dos patrulheiros que ainda não foram presos; o nome do oficial na 20ª Zona que recebeu a bala retirada do furgão; a localização da calça comprida usada por López (com a marca da bota militar) que desapareceu após ter sido dada a um oficial militar; a localização dos relatórios feitos pelo FBI, espe-cialistas mexicanos e espanhóis sobre evidência balística.

Karen Fischer, que também era secretária particular de Carpio, tem investigado o caso obstinadamente. Recebeu ameaças de morte, teve o carro amassado por homens armados, e teve que passar algum tempo fora do país.

A trilha de assassinato sem punição remonta à coleta de evidências físicas pela polícia e o Exército na noite do crime e na manhã seguinte. A evidência nunca foi formalmente apresentada, e as balas retiradas dos corpos das vítimas e uma calça comprida com o que parecia ser a marca de uma bota militar simplesmente desapareceram. A evidência reunida pela polícia na cena do crime também desapareceu após o detetive responsável se envolver em um acidente de carro indo de Quichéà Cidade da Guatemala.

Negativos de fotografias tiradas durante a autópsia também desapareceram. A informação que se tem é de que foram entregues a um oficial militar pelo especialista forense. Um teste de balística pedido pelo governo para ser feito no México e pelo FBI pode ter sido manipulado. Uma arma que se acredita ter sido usada no assassinato teve seu percussor e seu cano alterados.

Itens presum ivelmente roubados encontrados de posse da gangue de criminosos comuns conhecidos como "Churuneles" foram confiscados pela polícia e mais tarde desapareceram. Incluíam armas de um calibre diferente daquelas que se acredita terem sido utilizadas no assassinato.

Os autos do processo do caso ficaram em lugar errado durante dez dias após o incêndio ocorrido no prédio no qual se acreditava que estivessem. Apareceram mais tarde em outro distrito.

Após os dez membros presos da gangue terem passado dez meses na cadeia, um relatório da Divisão de Crimes da Polícia acusou membros da patrulha civil de San Jose Jocopilas, no departamento de Quiché, do assassinato. O relatório dizia que os criminosos incluíam um prefeito e um ex-governador de Estado, ambos membros do Partido Democrata-Cristão.

Apesar de o relatório ter sido concluído em setembro de 1993, não foi liberado até maio de 1994, e então apenas depois de o Escritório Episcopal de Direitos Humanos expedir seu próprio relatório investigativo, afirmando que o assassinato havia sido politicamente motivado e executado por membros da patrulha de San Pedro Jocopilas. Essa pat rulha é acusada de 55 assassinatos.

O caso foi então levado a um juiz, que ordenou a prisão dos suspeitos. Foram feitos apenas inquéritos superficiais sobre os acusados. Quatro dos dez suspeitos foram presos; outros quatro se entregaram. Todos foram soltos mais tarde.

O chefe de polícia de Quiché, Augusto Medina Mateo, a primeira pessoa a investigar o assassinato de Carpio, foi assassinado em outubro de 1994, com duas balas nas costas e uma na boca. Primeiro chefe das forças da segurança civil, ele estava encarregado da unidade policial de Quiché que investigava o caso Carpio. Havia recebido várias ameaças de morte após os primeiros quatro suspeitos da Patrulha de Defesa Civil terem sido presos. Foi assassinado apenas alguns dias após pedir para ser transferido para a Cidade de Guatemala. O substituto de Medina Mateo foi ferido em um ataque e por pouco não escapou com vida.

O procurador-geral Ramsés Cuestas declarou que o Exército estava protegendo os patrulheiros da defesa civil envolvidos no caso Carpio. Disse que o promotor público especial Abraham Méndez fora ameaçado em viagens a Quiché por indivíduos em veículos pertencentes à 20ª Zona Militar.

Nove promotores públicos se recusaram a assumir o caso. O procurador do distrito encarregado do caso no momento, e que afirma o estar fazendo devido à sua con-vicção cristã, teme por sua vida.

Enquanto isso, um membro da patrulha e um juiz envolvidos no caso foram assassinados. Testemunhas, advogados e promotores têm enfrentado atos de intimidação e repetidas ameaças. Evidências foram perdidas ou adulteradas, e o sistema legal tem sido manipulado para impedir a aceitação de novas evidências.

Enquanto a família Carpio procura esgotar todas as possíveis medidas legais na Guatemala, os muros de impunidade se erguem cada vez mais alto. Se não conseguirem obter justiça na Guatemala, dizem que irão aos tribunais internacionais para obterem pelo menos um veredito moral.

CRONOLOGIA: JORGE CARPIO NICOLLE

25 de maio de 1993:
Presidente Jorge Serrano Elías tenta um autogolpe. 1º de junho: Serrano parte para o exílio.

5 de junho:
O Congresso Nacional nomeia Ramiro de León Carpio como presidente interino.

3 de julho:
Jorge Carpio Nicolle e três correligionários são assassinados em Quiché.

5 de julho:
O ministro do Interior Arnoldo Ortiz Moscoso declara que prenderá os criminosos em 48 horas. No mesmo dia, o presidente de Leon Carpio anuncia que dois criminosos haviam sido presos e que a gangue Churuneles à qual pertenciam é formada por criminosos comuns.

7 de julho:
Mario Enrique Gómez Ayala, da Inteligência do Exército G-2, diz à imprensa que a arma que matou Carpio é a mesma que foi usada para matar o tenente-coronel Juan José Furlán. Declarações oficiais sugerem que todo o bando Churuneles é responsável pelo ataque a Carpio, mas apenas quatro membros são acusados do crime.

13 de julho:
Em uma entrevista à imprensa a família de Carpio aponta irregularidades na investigação e rejeita a explicação oficial do crime.

15 de julho:
Como resultado de uma investigação independente feita por um detetive particular, a família Carpio conclui que o assassinato teve motivações políticas.

26 de agosto:
O governo prende o patrulheiro da defesa civil Juan Acabal Patzán, que é acusado do assassinato de duas pessoas na cidade de Amatitlán. Confiscam-lhe uma arma de calibre .45 mm e dizem mais tarde que o teste de balística revela que as cápsulas correspondem às encontradas no local do assassinato.

3 de setembro:
O ex-membro da inteligência do Exército G-2, Cresencio Sam Batres, declara na Cidade do México que os membros da G-2 são responsáveis pelo assassinato. O governo guatemalteco não faz nenhum comentário ou investigação.

23 de setembro:
A Divisão de Investigação Criminal da polícia culpa as Patrulhas de Defesa Civil pelo assassinato, mas mantém o relatório secreto.

8 de dezembro:
O ministro do Interior encontra-se com Marta de Carpio. Sustenta que as armas que mataram o tenente-coronel Furlán e Carpio foram as mesmas. Admite que a morte de Carpio fora um assassinato político.

19 de janeiro, 1994:
O arquivo da corte em Santa Cruz de Quiché, onde se acredita estarem os registros do caso de Carpio, é incendiado. Porém mais tarde descobrir-se-ia que os autos do processo do caso haviam sido enviados à Antigua, e que, portanto, não haviam sido destruídos pelo fogo.

Janeiro:
O Escritório Episcopal de Direitos Humanos acusa as patrulhas civis e os chefes militares de serem os autores materiais da morte. As afirmações são publicadas no relatório anual do escritório.

26 de junho:
Francisco Acabal Ambrosio, um dos patrulheiros da defesa civil suspeitos, é assassinado.

12 de outubro:
O chefe das Forças Civis, Augusto Medina Mateo, é assassinado. Ele estava encarregado da unidade policial de Quiché que investigava o caso Carpio. Seu substituto é ferido em um ataque e por pouco não escapa com vida.

Novembro:
O automóvel do promotor especial Méndez é crivado de balas enquanto ele dirige entre Palín e a Cidade da Guatemala. Ele escapa ileso. A família Carpio continua a receber ameaças.

5 de dezembro:
Tem início a fase pública do julgamento.

1º de junho de 1995:
Quatro dos dez homens acusados são presos. Um deles, Pedro Chaperón Lajpop, membro das Patrulhas de Defesa Civil e prefeito de San Pedro Jocopilas, é libertado sob fiança porque como prefeito tem imunidade.

19 de setembro:
Tem início o julgamento. A imprensa é informada de que o presidente e altos oficiais militares foram chamados para testemunhar. Todos dão declarações.

26 de janeiro de 1996:
O juiz interino determina que o caso não precisa voltar a um estágio anterior do processo no qual novas evidências poderiam ser introduzidas.

30 de janeiro:
Marta de Carpio e Karen Fischer recorrem da decisão.

4 de fevereiro:
O ministro do Interior revela que pretende suspender as medidas especiais de segurança tomadas para proteger os membros da família Carpio.

8 de fevereiro:
Todas as facções políticas do Congresso assinam uma declaração pedindo um pronto esclarecimento do caso de Carpio e proteção para os envolvidos na investigação.

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