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Mário Coelho de Almeida, hijo
16 de agosto de 2001

Caso: Mário Coelho de Almeida, hijo



O jornalista Mário Coelho de Almeida Filho foi assassinado:

1 de setembro de 2001
Clarinha Glock

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O jornalista Mário Coelho de Almeida Filho, 42 anos, de Magé, Rio de Janeiro, foi assassinado com cinco tiros por volta das 18 horas do dia 16 de agosto de 2001 quando chegava a sua casa, na Rua Eduardo Portela, sede do jornal A Verdade. Ele era repórter, fotógrafo e diretor administrativo do jornal. Nos últimos meses, vinha fazendo denúncias no jornal sobre desvio de verbas e abuso de poder econômico e malversação de fundos públicos por parte de alguns da Prefeitura de Magé. A cidade, localizada a cerca de 50 quilômetros da capital, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem cerca de 250 mil habitantes e faz parte da Baixada Fluminense, uma das áreas mais violentas do Estado.

Mário Coelho Filho, conhecido como Mariozinho, era solteiro. Tinha um filho, e morava com o pai, o também jornalista Mário Coelho, 72 anos, dono e diretor do A Verdade, jornal publicado três vezes por mês com tiragem de cinco mil exemplares. Pai e filho haviam sido intimados a depor na 105ª Delegacia de Polícia, em Petrópolis, no dia 17 de agosto, um dia depois do crime.

Mário Coelho Filho estava sendo processado pelo prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, considerado um líder político forte da Baixada Fluminense. Em um dos artigos do jornal, Mario Coelho Filho publicou uma nota dizendo que a mulher de Zito, Narriman, que é prefeita de Magé, havia tido um caso com um segurança. Depois de saber do assassinato do jornalista, a prefeita distribuiu um comunicado lamentando o fato e dizendo esperar que o crime fosse logo elucidado.

Testemunhas do crime fizeram um retrato falado do assassino. Segundo o delegado Ricardo Hallak, da 65ª Delegacia de Polícia de Magé, encarregado das investigações, Mário Coelho Filho tinha muitos inimigos na cidade porque fazia denúncias em um estilo às vezes sensacionalista. O pai, Mário Coelho, evita fazer acusações e prefere aguardar o resultado das investigações, mas lembra que há cerca de quatro meses Mário Coelho Filho havia recebido telefonemas com ameaças de morte e registrou o fato em A Verdade.

Jornalista por vocação

Jornalista por vocação, Mário Coelho de Almeida Filho nunca cursou uma universidade. Herdou de seu pai a disposição para trabalhar e desde jovem trabalhou com ele no jornal de sua propriedade, A Verdade. "Como em Magé não existe faculdade de jornalismo, temos direito ao registro por tempo de serviço", diz o pai, Mário Coelho, que atuou como repórter no jornal O Globo, no Rio de Janeiro.

Mário Coelho tinha duas irmãs, que também trabalhavam em A Verdade. Sua família lembra-se de sua simpatia e de sua solidariedade, era muito querido por todos. Tinha uma namorada 20 anos mais nova, com quem saía há cerca de quatro anos, e um filho de cinco anos com outra mulher, mas nunca se casou. "Ele vivia o hoje, não pensava no amanhã. Se tivesse R$ 1 mil, gastava tudo hoje", recorda a namorada, que prefere não se identificar, com medo.

Morava com o pai num chalé em Magé, onde funcionava a singela redação de A Verdade. Um computador na sala era o local onde escrevia as matérias e o jornal era impresso na cidade vizinha, Petrópolis, onde os preços são mais baratos. Era um trabalhador incansável, "às vezes, ele saía de manhã atrás de matérias e publicidade e só voltava à noite", descreve a irmã, Nádia Coelho Ullman.

Mário Coelho Filho sempre manteve uma linha crítica no jornal. Baseava seus artigos em documentos do Diário Oficial e nas Atas da Assembléia Legislativa, mas exatamente por causa de suas denúncias, as opiniões sobre ele na cidade estavam divididas. Era considerado por alguns colegas e entrevistados uma pessoa corajosa. Outros o definiam como sensacionalista e oportunista. "Era audacioso", resume Nádia. "Ele podia ser sensacionalista nas manchetes, mas quem não ouviu FHC (o presidente Fernando Henrique Cardoso) ser chamado de ladrão? Nem por isso FHC manda matar jornalista", salientou a irmã.

O pai pedia para o filho ter cuidado, mas ele respondia que tudo que publicava estava documentado. "Era agressivo no jornal, não tinha medidas, mas mantinha trânsito livre nas polícias Civil e Militar e bons relacionamentos com a sociedade", relata seu pai. Os amigos o definiam como "farejador de notícias". Não é o que pensa um repórter de Magé, que o conheceu e classificava este tipo de relação como "promíscua": "Mário era espalhafatoso, fazia o jogo da imprensa marrom, provocando as pessoas para obter vantagens". Um dia, recorda, ao encontrá-lo, Mário Coelho Filho fez questão de lhe mostrar o carro novo como que insinuando que sua maneira de fazer jornalismo tinha vantagens: "Eu tenho um zero quilômetro e você continua a pé". Também mostrou que estava armado - fato negado pelo pai e pela irmã.

Os políticos criticados por Mário Coelho no jornal o acusam de ter sido um "chantagista": "Não morreu nenhum jornalista. Era um bandido que tentava extorquir pessoas de bem, principalmente o poder público", afirma Aroldo Candido de Brito, secretário de Comunicação do município de Duque de Caxias.

Cerca de quatro meses antes de sua morte, Mário Coelho recebeu ameaças por telefone e publicou-as no próprio jornal. Não era a primeira vez. Em 10 de abril de 2000, deu queixa na 65ª Delegacia de Polícia (DP) de Magé informando que, no Carnaval daquele ano, soube de um plano para matá-lo que estaria sendo tramado por alguns políticos. Mário Coelho registrou na polícia que havia recebido um telefonema anônimo com ameaças para que tomasse cuidado porque suas reportagens estavam desagradando a políticos da região. O jornalista lembrou que havia publicado reportagens contra o vereador Genivaldo Nogueira, o Batata; a vereadora Eliane Franco e a deputada estadual Núbia Cozzolino. Também disse que teve seu carro interceptado na rodovia Manilha-Magé por um outro veículo.

Segundo o delegado Ricardo Hallak, da 65ª DP, na época, Nogueira entrou com uma representação contra Mário Coelho Filho por difamação. O jornalista, por sua vez, teria entrado com uma notícia-crime contra Nogueira. "Os dois fizeram um acordo e retiraram os processos mútuos", observou o delegado.

Nádia nunca pensou que fossem matar seu irmão nem que seria processado, porque todas as denúncias que fazia já haviam sido publicadas no Diário Oficial ou em outros jornais. Mas ele foi processado pelo menos oito vezes, conforme as contas do pai.

Um dia depois do crime, em 17 de agosto, Mário Coelho Filho deveria se apresentar para depor na Delegacia de Petrópolis como resultado de uma ação movida pelo prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos. O jornalista havia usado o espaço em A Verdade para reproduzir uma declaração da deputada estadual Núbia Cozzolino (PTB) insinuando que Narriman Zito, prefeita de Magé e mulher do prefeito de Duque de Caxias, estava tendo um caso com um segurança.

Depois da morte de Mário Coelho Filho, houve manifestações de protesto e homenagens ao jornalista feitas pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e por alguns vereadores. Em Magé, circulou um abaixo-assinado de jornalistas e membros da comunidade em repúdio pelo assassinato. "Entendemos que os crimes que vêm ocorrendo na nossa região contra políticos e jornalistas não têm tido o devido empenho dos órgãos de defesa pública em apurar e punir os responsáveis (...). A impunidade tem facilitado e estimulado a ação dos criminosos que agem à luz do dia encorajados pela certeza da omissão das autoridades que parecem mostrar interesse em resguardar a identidade dos assassinos, colocando em cheque o livre exercício de expressão, da imprensa local, dos políticos, dos cidadãos e das instituições".

Na semana seguinte à morte de Mário Coelho Filho, a deputada estadual Núbia Cozzolino começou uma série de ataques contra o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, acusando-o de ser o mandante do crime. "Não vou ficar respondendo a picuinhas bobas, sem fundamento. As investigações vão esclarecer a verdade", rebateu Zito dos Santos, em entrevista para O Dia, do Rio de Janeiro. Mas as acusações continuaram entre as deputadas Núbia Cozzolino e Andreia Zito, filha do prefeito de Duque de Caxias.

A competição pelos cargos se prolonga por meio de seus familiares, que são lançados candidatos a postos-chaves no Senado, na Assembléia Legislativa e em prefeituras da Baixada Fluminense.

Há tempos a deputada Núbia Cozzolino, o ex-prefeito de Magé Nelson Costa Mello e o atual prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito dos Santos, disputam o domínio político de Magé.

A cidade de Duque de Caxias fica a 15 km de Magé e cerca de 50 km do Rio de Janeiro. Além de concentrar a maior parte das indústrias e contar com uma grande refinaria de petróleo, Duque de Caxias é considerada uma das cidades mais violentas e com o maior índice de roubo de automóveis da Baixada Fluminense.

Em Magé, integrada ao grupo das cidades mais violentas do Estado do Rio de Janeiro, os jornais locais adquirem uma importância vital, pois acabam sendo usados como instrumentos políticos em que geralmente ganha espaço quem tem mais poder econômico. Magé "é uma cidade que têm um legado muito ruim, com 23% de miséria da população", admite Jorge Lopes, secretário especial da prefeita Narriman Zito. Ele acha normal que, quando uma prefeita começa a fazer algo pelo povo, os políticos da oposição se sintam incomodados e inventem "coisas" contra ela.

Na realidade, a população teme que se perpetue a sensação de impunidade presente na região. A professora e pedagoga Maria das Graças Rocha, 45 anos, de Duque de Caxias, diz que sempre trabalhou com a comunidade e que denunciou o desvio de verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) para o Hospital Sase, naquela cidade. Afirma ter levado sete tiros em represália. Considera-se uma vítima de José Camilo Zito dos Santos e quer formar a Associação de Apoio aos Familiares das Vítimas do Grupo de Extermínio da Baixada Fluminense.

Preso suspeito do assassinato

O sargento reformado da Polícia Militar, Manoel Daniel de Abreu Filho, 55 anos, foi preso no dia 14 de setembro de 2001, por suspeita de assassinato no caso do jornalista Mário Coelho Filho. O juiz de Magé decretou a prisão preventiva do sargento a pedido do delegado Hallak, depois que uma denúncia anônima em 13 de setembro levou-o até Abreu Filho.

Em seu apartamento, em Belford Roxo, parte da Baixada Fluminense, foram encontradas duas armas, uma delas uma pistola 380 - mesmo calibre da arma utilizada para matar Mário Coelho Filho. Abreu ficará preso no 20º Batalhão de Polícia Militar, no município de Mesquita, até que seja feito o exame de balística para comparar se os tiros que atingiram o jornalista saíram de sua pistola.

Segundo o delegado Hallak, duas testemunhas que ajudaram a fazer o retrato-falado e que haviam reconhecido Manoel Daniel de Abreu Filho por foto não sustentaram o reconhecimento pessoalmente. Mas ainda falta confrontar o preso com outras testemunhas. O delegado pretende pedir a quebra de sigilo telefônico do suspeito e sua ficha de antecedentes criminais para verificar se teve participação no crime e o motivo.

Manoel Daniel de Abreu Filho, que disse à polícia que não vai a Magé há 10 anos, trabalha como guarda-costas de Maristela Corrêa Nazario, esposa de Waldir Zito, prefeito de Belford Roxo e irmão de José Camilo Zito dos Santos.

Negou-se a dar declarações sobre esse assunto e afirmou que só vai responder em juízo, na presença de um advogado, às perguntas sobre seu trabalho com a família do prefeito de Duque de Caxias.

A relação de trabalho do suspeito foi confirmada pelo próprio prefeito Zito dos Santos que, em uma entrevista para os jornais do Rio de Janeiro, reconheceu que Manoel foi guarda-costas de sua filha, a deputada estadual Andreia Zito, mas que deixou de trabalhar com Andreia "para ficar mais perto de casa". Depois de saber que duas testemunhas não reconheceram o suspeito, o prefeito disse ao jornal O Dia que pretende processar o delegado Ricardo Hallak e o Estado por perdas e danos e calúnia por vincular seu nome ao crime. Afirmou que é vítima de perseguição política por ser candidato à sucessão do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho.

Fios soltos: fatos duvidosos registrados pela investigação policial

1) O assassino passou pelo menos quatro dias vigiando o jornalista. Além de ficar sentado na lancheria na esquina da rua em que está localizada a casa de Mário Coelho Filho, circulou por vários pontos da cidade onde ele costumava andar. O delegado Ricardo Hallak acredita que o fato de ter chegado rapidamente ao local do crime facilitou a elaboração do retrato falado, que foi divulgado pelos jornais. O Disque-Denúncia está oferecendo R$ 5 mil para quem der pistas sobre o assassino.

2) Relatos de testemunhas indicam que Mário Coelho Filho teria gritado, ao sair correndo, quando viu o assassino: "Não fui eu, não fui eu".

3) Mário Coelho Filho tinha dois celulares na hora de sua morte. A família reconheceu apenas um dos telefones como sendo do jornalista. O delegado Ricardo Hallak pediu o levantamento das ligações.

4) Conforme apurou a polícia, quando o assassino chegou perto do carro de Mário Coelho Filho, o jornalista se esquivou. O primeiro tiro foi disparado contra o vidro em direção ao motorista, mas não o atingiu. O delegado Hallak acredita que o jornalista tenha se abaixado para tentar pegar uma arma. Não conseguindo, teria saído pelo lado do carona e deixado cair algo no chão - supostamente a arma que procurava. Os familiares negam que ele estivesse armado. O assassino pode ter pego essa pistola do chão. Segundo o delegado, Mário Coelho Filho correu uns 15 metros adiante, até um terreno baldio, onde o matador acertou cinco tiros: nas pernas, no ombro e na fronte. No terreno baldio onde o jornalista foi encontrado morto havia cápsulas de armas calibre 45 e 32, mas as armas que o mataram eram calibre 38.

5) Na carteira do jornalista foi encontrada cópia da credencial do policial aposentado Dejair Correa, atualmente vereador e vice-líder do governo da prefeita Narriman Zito. O delegado Hallak acredita que talvez esse fato esteja relacionado com a arma que o jornalista portava. Dejair Correa, que é policial reformado, disse à SIP que é amigo da família há 15 anos e que um dia, há cinco ou seis anos, pediu a Mário Coelho Filho para fazer cópias de seus documentos. "Mas não sabia que ele tinha uma cópia da minha carteira, fiquei pasmo", afirmou. Correa admite que o jornalista sempre o ajudou politicamente. "Eu pagava por matérias no jornal", observa.

Desafetos de Mário Coelho Filho

O jornalista costumava dirigir suas denúncias contra políticos e figuras públicas da região da Baixada Fluminense. Alguns deles são:

Narriman Felicidade Zito - prefeita de Magé, mulher de José Camilo Zito dos Santos, prefeito de Duque de Caxias. Nas últimas edições de A Verdade feitas por Mário Coelho Filho, ela foi alvo de denúncias de mau uso de dinheiro público. A manchete do jornal de 26 de julho a 8 de agosto de 2001 trazia a foto da prefeita, sorrindo, estampada na capa, onde se lia: "Atenção Ministério Público: Narriman aumentou preço das passagens da Primavera que foi cassada". O texto informava que a empresa de ônibus Transportadora Primavera tivera a concessão cassada no governo anterior, segundo o jornal, por inadimplência e funcionamento ilegal. Em outra edição, Mário Coelho Filho reproduziu uma fala da deputada estadual Núbia Cozzolino que acusava Narriman de ter um caso com um segurança, motivo pelo qual Mário Coelho Filho e seu pai haviam sido convocados a depor na Delegacia de Polícia em Petrópolis, Rio de Janeiro.

Narriman Zito não quis dar entrevista à SIP. No dia 18 de agosto de 2001, enviou uma nota para a imprensa lamentando o assassinato de Mário Coelho Filho. No comunicado, afirma esperar que as investigações policiais identifiquem logo o responsável pelo crime para que a Justiça prevaleça "porque Magé é uma cidade ordeira e o assassinato de um cidadão mageense é um fato que choca toda a sociedade".

José Camilo Zito dos Santos - prefeito de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Em várias edições de A Verdade, Mário Coelho Filho publicou denúncias envolvendo Zito dos Santos e sua mulher. Na edição de 15 a 28 de fevereiro de 2001, estampou uma foto do prefeito e a manchete: "Processos contra Zito deverão vir à tona". O jornalista afirmava que havia mais de duas dezenas de processos, incluindo "crimes de morte, com testemunha, ignorados pela Justiça cuja omissão permitiu que o referido cidadão fizesse carreira política, até interferindo em outros municípios, na ânsia de um dia se tornar governador do Estado". Há indícios de que Mário Coelho Filho chegou a mudar seu título eleitoral para conseguir documentos na cidade vizinha de Duque de Caxias e respaldar suas denúncias contra o prefeito, apelidado por ele de "Imperador da Baixada", e seus assessores. Circula na cidade a informação de que Zito é pré-candidato a governador do Estado.

Zito dos Santos é considerado um homem poderoso. Além da mulher, Narriman, que é prefeita de Magé, ele tem um irmão, Waldir, prefeito do município de Belford Roxo, também na Baixada Fluminense. Por isso, sua administração ganhou o apelido de Zitolândia. Pesam sobre Zito acusações de assassinato em Duque de Caxias.

No dia da morte de Mário Coelho Filho, a polícia encontrou no bolso da calça do jornalista uma folha contendo a relação de 13 processos a que o prefeito de Duque de Caxias respondia, além de outros nove processos arquivados. Havia também duas petições datadas de 9 de abril de 2001, assinadas por Mário Coelho Filho e protocoladas na Prefeitura de Caxias do Sul. Uma delas pedia para apurar o mau uso da verba na área de educação - queria saber quem fornecia o material didático e os uniformes escolares, se houvera ou não licitação. A outra era para verificar se eram verídicas as denúncias de que pessoas que exerciam mandato público estavam associadas à firma que fornece alimentos à Prefeitura.

Em seu depoimento à polícia, Zito dos Santos disse que não dava importância às denúncias feitas por Mário Coelho Filho. Como vários jornais da região faziam este tipo de notícia, o prefeito nem se dava ao trabalho de interpelar o jornalista judicialmente. Afirmou que só respondia sobre os procedimentos administrativos da Prefeitura ao Ministério Público. Acreditava que Mário Coelho Filho estava sendo manipulado politicamente. O prefeito salientou no depoimento que, somente quando o jornalista atacou sua vida pessoal, falando de um suposto caso de sua mulher, Narriman, com um segurança - e ainda que a notícia não tenha afetado seu casamento -, entrou com uma ação contra o jornalista, e não estava disposto a fazer acordo, queria que o jornalista fosse condenado.

Genivaldo Ferreira Nogueira, o Batata - presidente da Câmara Municipal de Magé, membro do Partido Liberal (PL), dono de duas farmácias na cidade que têm no nome seu apelido, Batata. Diz que passou a ser alvo das acusações feitas pelo jornalista quando foi presidente do PSDB em Magé e abonou a ficha de Narriman Zito para que concorresse à Prefeitura. "Mariozinho era aliado de Nelson do Posto, foi aí que começaram os ataques", explica. Mário Coelho Filho reproduziu em seu jornal uma afirmação feita por outro vereador de que Nogueira havia sido encontrado praticando sexo oral com uma vereadora da Câmara.

O jornalista também insinuou que Nogueira não teria o diploma de 2º grau e que havia participado do assassinato de um vereador da cidade. "Eu conhecia Mariozinho há uns 10 anos, ele estava sempre procurando alguém para manchete", recorda Nogueira, que entrou com dois processos contra o jornalista: por calúnia e difamação e uma notícia-crime. Sobre a acusação de participação na morte do vereador, afirma: "Cabe o ônus da prova a quem acusa". Ao depor na 65ª Delegacia de Polícia de Magé após o crime contra Mário Coelho Filho, Nogueira apresentou uma cópia de seu diploma de 2º grau no Colégio Municipal Leopoldina da Silveira, no Rio de Janeiro. "Eu ignorava o jornal dele. Tenho a consciência tranqüila, tanto é que fui difamado e mesmo assim fui reeleito. O nome do jornal era A Verdade, mas o jornal era da mentira", afirma Nogueira.

Nelson Costa Mello, o Nelson do Posto - quando foi prefeito de Magé, foi criticado por Mário Coelho Filho em A Verdade, mas ultimamente se considerava um amigo do jornalista. Mello é sócio da MageCar, concessionária de automóveis onde Mário Coelho Filho esteve minutos antes de voltar para sua casa e ser assassinado. "Quase todo os dias ele vinha aqui", lembra Mello, que foi vereador e tornou-se depois prefeito de Guapimirim e de Magé pelo Partido Liberal (PL). Atualmente, está sem partido. Tinha um posto de gasolina e era muito popular na cidade, por isso ganhou o apelido.

No início de seu mandato como prefeito, foi alvo de críticas de Mário Coelho Filho no jornal A Verdade. A causa, segundo Mello, foi a suspensão da verba de publicidade investida pela Prefeitura no jornal de Mário Coelho Filho. Na ocasião, Mello havia decidido criar um Diário Oficial, onde passaria a publicar os editais da Prefeitura. "Eu o processei várias vezes pelas acusações feitas contra mim", conta Mello. De acordo com o ex-prefeito, em meados de 1998, Mário Coelho pai foi condenado à prisão, como jornalista responsável por A Verdade. Mário Coelho Filho e Mello fizeram então um acordo: o jornalista parava com as acusações, e o prefeito retirava o processo contra seu pai. Depois disso, Mário Coelho Filho recebeu a carta-convite para fazer o Boletim da Prefeitura de Magé, pelo qual ganharia R$ 3 mil (duas edições ao mês). Paralelamente, em A Verdade, passou a publicar matérias sobre a Prefeitura. O jornal também participou da campanha para a reeleição de Mello, desta vez pelo PDT. Perdida a eleição, o jornalista manteve o apoio: "Eu dava R$ 200 a R$ 300 por mês para A Verdade", relata Mello.


Advogado citado em A Verdade - na edição de 26 de julho a 8 de agosto de 2001, última feita por Mário Coelho Filho, foi publicada a seguinte nota na coluna "Disse Me Disse Me", na página 5:

"ADVOGADO DA DÉCADA DE 80 - Conhecido pelos golpes de 1.71. que aplicava em cima dos amigos e ainda tem mania de prometer e não cumprir está em palpo de aranha com o problema dos tonéis de cocaína que foram encontrados em sua jurisdição. Na próxima semana publicaremos a sua foto e nome"

O delegado Hallak saberia quem é o advogado.

Jorge Lopes - secretário especial da prefeita Narriman Zito, de Magé, desde junho de 2001. Há quatro anos, era Chefe do Departamento de Serviços Gerais da prefeitura de Duque de Caxias. Na edição de 15 a 28 de fevereiro de 2001, Mário Coelho Filho publicou na capa e na página 4 de A Verdade uma notícia comunicando que havia encaminhado uma denúncia ao Ministério Público contra Lopes, que, nessa época, era secretário de Transporte de Magé). A ação se referia à compra superfaturada de fogões industriais por Jorge Lopes quando este trabalhava na prefeitura de Duque de Caxias. Em julho de 1997, o jornal já havia publicado artigos sobre o superfaturamento e as fraudes em licitações. "A denúncia não foi contra mim, foi contra Zito", explicou Lopes à SIP. "Aquilo tudo foi resolvido, os documentos eram falsos, o Ministério Público apurou."

Ele não se preocupa com as denúncias feitas em A Verdade contra Narriman Zito. "Deus é justo", afirma. Para Lopes, Mário Coelho Filho atraiu coisas ruins porque mexeu com muita gente na cidade. Representante há 32 anos de uma empresa distribuidora de livros no Rio de Janeiro e em Caxias do Sul, Lopes vai a Magé para atuar como secretário especial da prefeita uma vez por semana.

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