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Carlos Lajud Catalán
19 de abril de 1993

Caso: Carlos Lajud Catalán



RESUMO:

1 de setembro de 1997
Ana Arana

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Quando Carlos Lajud Catalán, o mais escutado comentarista de rádio de Baranquilla, foi atingido por tiros e assassinado por agressores desconhecidos, em 19 de abril de 1993, foi o quinto jornalista de rádio a ser assassinado por revelar corrupção na Região Atlântica da Colômbia. Os comentaristas de rádio são especialmente populares nessa parte do país, com uma abordagem agressiva no confronto à corrupção, tráfico de drogas e ações municipais de má fé.

Três rapazes foram acusados do assassinato de Lajud. Um sistema judicial especial denominado "juízes sem rosto", de Barranquilla, declarou culpados da autoria material do assassinato os três indivíduos, condenando-os a penas individuais de 40 anos de prisão. A sentença teve apelação.

A investigação da SIP encontrou muitas irregularidades neste caso.

Apesar de fortes suspeitas de parte dos colegas de Lajud e de sua família de que o assassinato foi causado devido ao tipo de reportagem que realizava, o caso foi encerrado um ano após o assassinato, sem que se tenha determinado quem foi o mandante do crime. Colegas e fontes legais que pediram para ficar no anonimato, disseram à SIP que o assassinato de Lajud pode ter sido parte de uma conspiração bem planejada que envolveu comerciantes e políticos influentes preocupados com documentos que descreviam a corrupção em contratos de privatização municipal. Houve fortes suspeitas de que Bernardo Hoyos, um ex-padre católico e prefeito de Barranquilla na época do assassinato, fosse o potencial instigador do assassinato. Hoyos, que negou veementemente qualquer conexão ao caso, havia se envolvido em um confronto público com Lajud. A prova circunstancial incluía um discurso feito por ele a uma multidão de seguidores um dia antes do assassinato.

A investigação realizada pela procuradoria-geral regional de Barranquilla não interrogou Hoyos de forma completa, assim como não o fez em relação a vários outros políticos e comerciantes influentes que eram suspeitos em potencial. Indícios de investigações preliminares não foram suficientemente seguidos, afirmam fontes legais. Alguns alegam que a investigação foi frustrada por figurões do governo de Barranquilla.

A SIP foi informada de um depoimento incriminador dado por um parente do suposto assassino, que não está entre os detidos, associando o crime a cidadãos influentes. No que parece culpa grave, o depoimento não foi arquivado no mesmo número de processo no escritório regional da procuradoria-geral. Esse depoimento foi, portanto, ignorado pelos investigadores.

A revisão do caso determinou a forte mas não conclusiva possibilidade de que alguns detidos sejam inocentes, vítimas de procedimentos investigativos falhos, e que os investigadores têm ignorado provas-chave e indícios potenciais, e que pode ter havido uma cobertura por funcionários de alto escalão do governo.

A impunidade do caso Lajud teve um efeito repressivo sobre os jornalistas de Barranquilla. Logo após o assassinato, a reputação de Lajud foi atacada. Um colega escreveu que ele era um "jornalista camicaze". O assassinato e o clima de impunidade reinante refreiam o jornalismo crítico nacidade. Agora, não há mais reportagens sobre contrabando, corrupção municipal e tráfico de drogas: "Lajud era uma personalidade bastante conhecida e foi assassinado; o que nós podemos esperar?", declarou um colega do jornalista assassinado.

Para os jornalistas colombianos, o caso ilustra como um processo judicial pode ser influenciado por políticos locais para desviar o curso de uma investigação.

O CRIME

Eram 7h15 do dia 19 de abril de 1993, apenas algumas horas antes de uma onda de calor tropical assolar as ruas de Barranquilla, uma importante cidade costeira no norte da Colômbia. Lajud, um conhecido comentarista de rádio, fazia o mesmo percurso a pé todos os dias para ir ao trabalho. O tráfico matinal estava pesado. Lajud, de 42 anos, havia sofrido um ataque cardíaco em 1986, e seu médico lhe havia dito que caminhasse para se exercitar. Anteriormente, Lajud havia enfrentado outros perigos. Suas reportagens no rádio haviam provocado a ira de pessoas poderosas e ele havia recebido ameaças de morte. Na manhã fatal, Lajud parecia seguro. Mas havia dito à sua mulher, Betty, que tivesse cuidado, porque seus inimigos poderiam atacar as crianças. Parecia despreocupado com sua própria segurança. Alguns dias antes, havia dito aos ouvintes do rádio que não temia ameaças, e havia convidado seus inimigos a juntarem-se a ele em sua caminhada diária ao trabalho. Descrevera o caminho que percorria todos os dias: "Venham e me peguem, porque eu não tenho medo", ele dissera.

Os dois rapazes parados perto de uma motocicleta vermelha estacionada encara ram Lajud. Sicários, como são chamados na Colômbia os assassinos profissionais, usam freqüentemente motocicletas para suas escapadas rápidas. De acordo com testemunhas, Lajud atravessou a rua, longe deles, sem aumentar a velocidade de seus passos. De repente, um dos rapazes correu atrás de Lajud, encarou-o e alvejou-o diretamente com um tiro no nariz. Lajud caiu, mortalmente ferido. A testemunha se escondeu atrás de uma porta e não viu um homem armado vasculhando a pasta de Lajud e abandonando a cena.

Uma cidade portuária movimentada, com um estilo de vida agradável e relaxado é freqüentemente o pano de fundo para intriga política, corrupção, tráfico de drogas e contrabando; Barranquilla era a cidade perfeita para um repórter como Lajud. Baixo, com cabelos louros crespos e olhos verdes, Lajud adorava expôr os segredos da cidade em seu show matinal. Misturava o show esportivo com comentários políticos e sociais. O melhor modo de alcançar as pessoas que precisam se interessar pelos problemas da cidade e que são complacentes é quando seu time de futebol ganha um jogo, Lajud uma vez comentou. Muitos em Barranquilla ouviam seu programa de rádio, que ganhava de todos os concorrentes. "As pessoas ouviam o programa por causa da fofoca política", disse o r epórter Carlos Llanos. "Não se podia perder o show, porque ele sempre tinha algo importante", disse Héctor Pineda, um político de esquerda.

No dia em que foi morto Lajud iria divulgar, no ar, os nomes de políticos locais que haviam recebido pagamentos durante as negociações de contrato envolvendo um plano de privatização telefônica franco-colombiano. Diversas fontes afirmam que Lajud havia recebido documentos que implicavam vários políticos em pagamentos ilegais de centenas de milhares de dólares. Amigos e familiares dizem que um punhado de documentos incriminadores desapareceram de sua carteira de mão quando ele foi assassinado.

Muitas pessoas em Barranquilla se sentiram desconfortáveis com as reportagens de Lajud. Em uma cidade na qual poucos colegas ousavam trabalhar em estórias duras, Lajud era visto como um "jornalista marrom" por aqueles que enfrentava, ou como um "bom jornalista" por aqueles que desfrutavam sua franqueza. Possuía apelidos humilhantes dados por políticos e por outras pessoas. Enfocava a vida particular das pessoas e revelava deslizes pessoais. Seus colegas admitem que por várias vezes atacou as pessoas erradas. Mas era o único com coragem para relatar certas estórias, e as pessoas vazavam informações para ele.

"Ele era irresponsável, mas isso não deveria ter sido motivo para que morresse", disse Ernesto McCausland, um repórter e âncora televisivo baseado em Bogotá e que iniciou sua carre i ra em Barranquilla.

As Emisoras ABC funcionam em um modesto prédio no centro de Barranquilla. Mesmo após o assassinato, apenas uma campainha e uma porta de vidro protegem aqueles que estão dentro da estação de qualquer perigo. O dono da estação, Ventura Díaz, disse que "Lajud era o melhor". Esse homem elegante, vestido em uma típica guayabera branca e calças compridas brancas, afirmou: "Ainda não sabemos quem o matou e por quê". O impacto do assassinato de Lajud sobre seus colegas é palpável anos depois do ocorrido. Em uma cidade na qual quase todos se conhecem e onde os rumores são espalhados rapidamente, poucos irão falar oficialmente sobre os suspeitos no assassinato de Lajud. Todos pareceram falar em sussurros quando questionados sobre quem poderia ser o responsável pela morte. Os nomes de possíveis suspeitos são mencionados rapidamente. Depois as pessoas dão de ombros e dizem que isso é com as autoridades. "Esse caso nunca será solucionado. Ninguém está interessado em solucioná-lo", disse o cunhado de Lajud, Gustavo Cogollón, que assumiu o show de rádio de Lajud.

"Você tem que entender que quem matou Lajud acabou com a maioria das reportagens políticas críticas em Barranquilla", disse Ernesto McCausland. "Ninguém ousa criticar funcionários do governo do jeito que Lajud fazia".

Um redator esportivo que trabalhou para vários jornais importantes, Lajud se tornou repórter de rádio acidentalmente. Tornou-se famoso. Quando criticado, aumentava suas denúncias. Seus amigos lhe diziam para suavizar sua retórica, mas ele sempre afirmava não ter medo. Temia que seus filhos se tornassem alvos para atingi-lo indiretamente. No dia de seu assassinato, disse à esposa, Betty, que tomasse cuidado com seu filho.

Dias antes do assassinato, Lajud disse a seus ouvintes no rádio "que não iria ser silenciado por ameaças de morte". Quando seus colegas foram arrumar seu escritório após o assassinato, encontraram o taco de beisebol que mantinha na estação para enfrentar quem pudesse atacá-lo por suas reportagens.

A única pessoa com a qual Lajud parece ter conversado sobre seus temores é sua ex-esposa, Josefina Llanos, que mora em Bogotá. "Um mês antes de ser assassinado, ele veio me visitar em Bogotá, e me disse que havia sido sentenciado de morte", lembra-se Llanos, mãe do filho mais velho de Lajud, Carlos José, que tem vinte e um anos e trabalha na rede RCN em Bogotá. "Eu o convenci a trazer sua família para Bogotá, mas ele voltou para Barraquilla e nunca o fez", disse Llanos. "Não sei se ele realmente acreditava que alguém pudesse matá-lo. Mas disse que sabia quem estava interessado em fazê-lo."

Llanos disse que ela e Betty, a segunda esposa de Lajud, ficaram aterrorizadas após o assassinato. Quando ela e seu filho foram a Barranquilla para o enterro de Lajud, seu filho foi seguido por homens estranhos. "Decidimos ficar fora das investigações. Betty fez o mesmo... por isso que não se chegou a lugar nenhum", disse. "Muita gente sabe quem o matou. Foi uma conspiração de várias pessoas importantes de Barranquilla", afirmou, recusando-se a fornecer mais informações.

Em Barranquilla, Betty, a esposa de Lajud, tem ainda mais medo de falar sobre o assassinato. Alta, com pele morena e olhos verdes, ela se recusa a tecer especulações sobre a investigação. "Eu moro aqui e estaria correndo perigo se me envolvesse na investigação", declarou à SIP. Logo após o assassinato, ela fez pressões publicamente para que se realizasse uma investigação séria. Disse à imprensa na ocasião que não acreditava que os três homens presos como supostos assassinos dois dias após o crime fossem culpados. Parou de falar após receber várias ameaças de morte feitas por homens desconhecidos que a seguiram e às crianças. "Demorou tanto para que eu e as crianças nos adaptássemos à ausência (de Lajud)", ela comenta, implorando que se compreenda porque não deseja falar mais sobre o caso.

Um outro amigo da família disse que avisaram à viúva de Lajud que se mantivesse calada. Amigos influentes de seu marido ajudaram-na a comprar um apartamento em um modesto bairro de classe média em Barranquilla. Mas aconselharam-na a não se envolver.

Entre os que ajudaram Betty Lajud encontram-se políticos atacados por Lajud em seu programa de rádio. Algumas dessas pessoas ajudaram-na a encontrar emprego em uma agência fiscal no governo municipal de Barranquilla.

"Betty foi afetada pelas ameaças", disse a ex-esposa de Lajud. "Porque ela está sozinha em Barranquilla, tem sido influenciada por pessoas que não querem justiça nesse caso".

Segundo a Sra. Llanos, que falou com Lajud por volta das 22 horas em sua última noite de vida, ele estava desesperançado. "Reclamou da corrupção e disse que todos os políticos de Barranquilla eram ladrões."

Lajud morreu pobre; seu enterro e outras despesas foram custeadas com dinheiro levantado por seus amigos.

A INVESTIGAÇÃO

No mês anterior ao assassinato, as ameaças se multiplicaram. Dois dias antes do assassinato de Lajud, o operador de rádio das Emisoras ABC recebeu o seguinte aviso: "Carlos Lajud será assassinado hoje". A voz era masculina. "Eu fiquei muito preocupado. Não queria sair da estação sem ele", disse Robinson Menco, o melhor amigo de Lajud, que fazia o segmento esportivo do seu show. Lajud viveu dois dias mais.

Um pequeno número de pessoas em Bogotá e Barranquilla estava disposto a falar sobre a investigação do assassinato de Lajud, mas a maioria o fez apenas com a promessa de anonimato. Vários disseram que falarão oficialmente se e quando o caso for reaberto.

"Se você citar meu nome, estarei correndo perigo", disse uma fonte relacionada às investigações e que concordou em se estender sobre o caso.

As fontes afirmaram que a investigação do assassinato foi realizada superficialmente e rápido demais. Dois dias após o crime, três homens conhecidos como arruaceiros foram presos com bastante ostentação. Outras pistas não foram seguidas. Os três suspeitos: Jhonny Alberto Merino Arrieta, 30, o suposto pistoleiro; Eduardo Antonio Campo Carvajal, 25, o suposto motorista da motocicleta, e Eliécer Peña Navarro, o homem que foi supostamente contratado para assassinar Lajud, foram condenados pelos juízes regionais ("juízes sem rosto") de Barranquilla, mediante sentença de 10 de maio de 1996, a uma pena individual de 40 anos de prisão, em sua condição de co-autores penalmente responsáveis pelo delito de homicídio com fins terroristas.

O general Brigadier Pablo Rojas Flores, chefe da polícia na Região Atlântica na época do assassinato, disse estar satisfeito com a investigação. Mas as prisões foram realizadas com base apenas no depoimento de duas testemunhas que permaneceram não-identificadas até a investigação. Os acusados, ao conhecerem mais tarde as identidades das testemunhas, disseram aos investigadores que essas pessoas eram suas inimigas pessoais e que, portanto, seu depoimento não era válido. Os investigadores nunca checaram essas alegações, como mostram os autos do processo sobre o caso.

A polícia também negligenciou a busca de María Inés Pérez Tordecilla, ou Carmen "La Guajira". Os investigadores policiais identificaram-na como a intermediária entre os assassinos e os autores intelectuais. Ela continua em liberdade.

Os álibis dos três acusados revelam que estavam em outro local na hora do crime. Mas, como afirmam os advogados de defesa, os investigadores não seguiram completamente esses álibis.

O caso está sob a jurisdição do sistema judiciário sem rosto da Colômbia, que preserva a identidade dos juízes, testemunhas e investigadores. Tem sido acompanhado por p rocedimentos falhos e aparente interferência de cidadãos influentes de Barranquilla. Um vigia que assistiu ao crime através de um olho-mágico revelou aos colegas de Lajud detalhes importantes sobre a identidade dos assassinos. Ele nunca foi completamente interrogado. Fontes relacionadas à investigação afirmaram que essa testemunha informou à corte que os dois acusados pelo assassinato não se parecem com os homens que ele viu matarem Lajud.

Além disso, os investigadores do escritório regional da procuradoria-geral em Barranquilla ignoraram um importante depoimento dado à corte em maio de 1994. Esse depoimento foi dado por um parente de um homem que era conhecido com o apelido de "Garnacha", e que, segundo esse parente, é o assassino. Seu conteúdo, colocado à disposição da SIP, revelou que Lajud foi morto por razões políticas por cidadãos influentes de Barranquilla. Esse depoimento foi tola ou propositalmente mal arquivado pelo escritório da procuradoria-geral. Identifica um intermediário, Alfredo Lievano, um conhecido guarda-costas do então prefeito Bernardo Hoyos. O depoimento foi colocado à disposição da corte após "Garnacha", cujo verdadeiro nome era Enrique Somoza, ter sido misteriosamente assassinado em 23 de março de 1994.

Os investigadores também ignoraram o assassinato de John Ulloque, arruaceiro e uma das testemunhas secretas, e cujo depoimento foi a base para que a polícia prendesse os homens acusados do crime. Ulloque foi assassinado em condições suspeitas em novembro de 1993, seis meses após o assassinato de Lajud. Advogados de defesa designados pela corte informaram aos jornalistas que Ulloque estava pensando em mudar seu depoimento.

A polícia também falhou em designar proteção especial para a viúva de Lajud, Betty, que recebeu ameaças de morte ao longo de seis meses após o assassinato. Deixou de recebê-las quando parou de exigir uma investigação séria sobre o assassinato.

INIMIGOS POLÍTICOS

Quando Lajud foi assassinado, a lista dos possíveis suspeitos era longa. Ele era odiado pela maioria da classe política em Barranquilla. Mas duas pessoas imediatamente se destacavam: o padre Hoyos, um ex-padre católico e então prefeito de Barranquilla, e Roberto Ferro, um advogado e ex-partidário de Hoyos. Ambos testemunharam diante da corte, mas as investigações acerca de seu possível papel no crime nunca foram realizadas corretamente, como afirmam os colegas de Lajud.

Lajud era um crítico ferrenho de Hoyos, que elegeu-se em 1992 com uma plataforma política que incluía a participação de ex-guerrilheiros. O temperamento de Hoyos era legendário. Dois meses antes do assassinato de Lajud, os moradores de Barranquilla ficaram estupefatos quando seu prefeito se envolveu em uma disputa pública em um jogo de beisebol com um homem que havia criticado sua política. Na véspera do assassinato de Lajud, Hoyos assistiu à missa dominical em Rincón Latino, um bairro pobre no qual Hoyos havia trabalhado como padre por doze anos antes de ser eleito prefeito. Naquele domingo ele fez um sermão exaltado contra jornalistas, especialmente um não identificado nominalmente mas que parecia ser Lajud. "São cachorros contratados, e não profissionais. Usam seus microfones para causar estragos e para dividir a comunidade", disse Hoyos.

Bastante popular entre os pobres de Barranquilla, Hoyos foi eleito como parte de um movimento político para trazer pessoas sem conexões políticas tradicionais a cargos oficiais. Foi eleito com a ajuda da Aliança Democrática-M19, conhecida como AD-M19, um ex-grupo guerrilheiro que aceitou uma oferta de paz do governo colombiano em 1990. Mas, de acordo com um líder do grupo, a AD-M19 retirou seu suporte a Hoyos após o prefeito ter feito alianças com os grupos políticos tradicionais e supostamente corruptos.

Lajud usava freqüentemente seu programa para atacar o ex-padre. Suas acusações iam de corrupção a ironias pessoais. Ele insinuava que Hoyos era homossexual, um grave insulto em uma sociedade machista.

Duas semanas antes do assassinato, um grupo de partidários de Hoyos fez uma passeata até a estação de rádio onde Lajud trabalhava em protesto a seu programa. Alguns manifestantes ameçaram Lajud fisicamente. Ele não se intimidou. "Aqueles que pensam que podem me amedrontar e me fazer calar estão enganados", vociferou no microfone alguns dias mais tarde.

Dias antes de seu assassinato, Lajud havia acusado o prefeito de corrupção flagrante associada à Metropolitana de Telecomunicaciones (Metrotel), um projeto telefônico franco-colombiano negociado durante os primórdios da administração Hoyos. De acordo com o contrato, a companhia poderia instalar 100.000 novas linhas telefônicas em Barranquilla. Mas Lajud sustentava que as companhias que ganharam o contrato tiveram que subornar funcionários locais do governo.

Hoyos negou qualquer conexão com a corrupção. Na verdade, em 1995, acusou os administradores da companhia telefônica de solicitarem pagamento em nome de sua administração.

Hoyos também negou qualquer conexão com o assassinato. "Não fui o mandante do assassinato", declarou à imprensa. "Mas não posso dizer se um de meus seguidores decidiu fazer justiça com as próprias mãos". Mais tarde, Hoyos disse que Lajud havia sido morto por pessoas do governo que queriam que Hoyos fosse acusado do crime. Juan Pabón, um amigo de Lajud e colaborador de Hoyos questiona: "A quem interessa acusar Hoyos do assassinato?", tentando conectar as acusações a uma campanha política contra Hoyos.

Outra pessoa suspeita foi Roberto Ferro, um advogado e ex-auxiliar do padre que também havia enfrentado Lajud por diversas vezes, especialmente devido às acusações de Lajud que afirmavam ser Ferro um traficante de drogas e corrupto. Ferro respondeu a Lajud em carta publicada no jornal El Heraldo, uma semana antes do assassinato. "É patético o caso desse pobre homem que todas as manhãs lança todo seu ódio e ressentimento a partir de uma estação de rádio local, na esperança de que alguém reaja a seus ataques e dê fim à sua miserável existência." Inicialmente chamado a testemunhar, Ferro aparentemente nunca foi completamente investigado. Afirmou publicamente que nunca havia querido que suas palavras causassem nenhum mal a Lajud.

Lajud nunca demonstrou medo. "Chegou mesmo a chamar seus assassinos para encontrá-lo durante sua caminhada diária ao trabalho", disse Robinson Menco. "Talvez ainda estivesse vivo se tivesse dado ouvido às ameaças."

CRONOLOGIA: CARLOS LAJUD CATALÁN

Abril de 1993:
Um grupo de manifestantes e partidários do padre Bernardo Hoyos, prefeito de Barranquilla, faz uma passeata diante das Emisoras ABC em protesto às reportagens do comentarista de rádio Carlos Lajud Catalán.

10 de abril:
Roberto Ferro, um advogado e ex-auxiliar do padre Hoyos, escreve uma coluna no jornal El Heraldo, sobre um comentarista de rádio não nomeado que lança mentiras em um programa de rádio todas as manhãs, esperando que alguém reaja e dê um fim à sua miserável existência.

18 de abril:
Em um discurso dramático na igreja local no bairro operário de Rincón Latino, o prefeito Hoyos chama Lajud de um cachorro contratado que pensa ser um jornalista.

19 de abril:
Lajud é assassinado por dois homens armados às 7h15, enquanto caminha em direção ao trabalho nas Emisoras ABC, para seu programa de rádio matinal diário.

20 de abril:
A polícia de Barranquilla prende Jhonny Alberto Merino Arrieta, Eduardo Antonio Campo Carvajal e Eliécer Peña Navarro, acusando-os de serem os autores materiais do assassinato. Carmen Tordecilla, ou "La Guajira", é identificada como a intermediária entre os assassinos e os mandantes do crime. Carmen nunca foi encontrada pelas autoridades.

21 de abril:
A procuradoria geral regional ouve os depoimentos de Betty Lajud; Carlos Lajud Llanos, filho da vítima; Jorge Guarin, um comerciante que havia se envolvido em uma luta com Lajud; Ferro, olunista e advogado, e o prefeito Hoyos.

28 de julho:
Nove dos 13 membros da Câmara dos Vereadores da cidade de Barranquilla pedem ao promotor público regional que investigue Hoyos por tentar envolvê-los em esquemas de corrupção relacionados a contratos de obras públicas. Um mês antes o promotor havia iniciado uma investigação sobre Hoyos porque o prefeito recebera mobília de um fornecedor público.

Novembro:
John Ulloque, uma das testemunhas contra os três acusados, é encontrado morto. Sabia-se que pretendia fazer uma retratação de seu depoimento inicial.

Março de 1994:
Uma testemunha surpresa depõe diante do procurador-geral. Afirma que Enrique Somoza, o "Garnacha", ou "Veneno" ou "Popeye", e um homem chamado Fernando, são os assassinos contratados para assassinar Lajud. Declara que em troca de seu dejoimento foi controatada para trabalhar em um hospital. Seu depoimento nunca foi oficialmente incluído nos autos do processo.

23 de março:
"Garnacha" é assassinado no bairro de Carrizal. Morreu vítima de 27 ferimentos a bala.

5 de abril:
O procurador-geral local encerra a investigação.

2 de julho:
Um juiz regional ou "sem rosto" prossegue com o julgamento de homicídio contra os três homens detidos.

18 de abril de 1995:
O caso vai para o tribunal regional sem rosto de Barranquilla.

21 de abril:
O juiz regional sem rosto ordena o encerramento do caso contra os três detidos, com 20 dias para divulgação de sentença.

Maio:
Um recurso da defesa é negado, seguido por outro recurso, em setembro de 1995.

10 de dezembro:
O caso é enviado para o Tribunal Nacional para uma decisão final. Mas a defesa recorre.

10 de maio de 1996:
Juízes regionais de Barranquilla (juízes sem rostos) condenam a 40 anos de prisão Johnny Alberto Merino Arrieta, Eduardo Antonio Campo Carvajal e Eliécer Peña Navarro.

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